A máquina do tempo
A recepção, discretamente arrumada a um canto, parece ser o único elemento que quer passar despercebido. Mesmo ao lado, o bar e o restaurante contíguo - Honra by Olivier - chamam a si todas as atenções. Ambiente moderno, descontraído e "comida de portugueses", como se pode ler na carta, para almoços e jantares. Servem-se clássicos revisitados - peixinhos da horta, escabeche de caça, bochechas de porco preto com puré de grelos, bitoque, bacalhau à Brás, açorda de gambas, arroz doce, pastéis de nata e travesseiros. Enquanto se espera, vêm do bar combinações com bebidas com sabores igualmente nacionais - Licor Beirão, Amarguinha, Ginjinha ou o vinho do Porto.
Os empregados percorrem a sala de auricular e há um dispositivo em cada mesa para os chamar, como se fossem bonecos telecomandados - dir-se-ia que uma qualquer máquina do tempo os teletransportou para o sítio errado... Terá chegado assim o cavaleiro e o seu cavalo, que continuam em pose defensiva na praça, aos nossos dias?
Há algo de misterioso no conceito cénico que nos envolve, como se fizéssemos parte de uma pantomima. Deixamo-nos levar até à copa da árvore. Subimos ao spa, projectado como se de um ninho se tratasse, de formas curvilíneas e orgânicas. De súbito, estamos da mesma altura do castelo, que se avista de uma pequena janela, como uma vigia estrategicamente colocada. A luz é ténue, deixando que os rasgos de luz natural confiram dramatismo ao espaço. A música embala-nos. Até o cheiro é o da natureza.
A terapeuta recebe-nos e damos início ao tratamento, misto de "massagem de relaxamento com técnicas de shiatsu e tailandesa", explica-nos. Os produtos são naturais - sal e alfazema - preparados na hora. Primeiro uma esfoliação, depois a massagem com o mesmo aroma, ideal para relaxar. A precisão dos gestos e dos pontos de pressão operam milagres nos corpos doídos do dia-a-dia. Por fim, uns momentos de silêncio. Tocam as taças tibetanas a anunciar o fim do tratamento, tínhamos adormecido...
Descemos pelos ramos, as folhas continuam a cair, suavemente. Parece que entraram mais no quarto, mas é mera sugestão. Ficamos sentados à janela, nos bancos como os dos namorados de antigamente. O cavaleiro continua de guarda. À luz do dia a praça revela-se diferente - em cima, as ervas daninhas que trepam pelos telhados dos edifícios devolutos, as portadas fechadas, as gaivotas a sobrevoar baixinho a ameaçar chuva; lá em baixo, os eléctricos num vaivém, a Casa da Sorte, as pastelarias Suíça e a Nacional, o Hospital de Bonecas, o Mercado... São dois mundos, entre o passado e o presente, tal como esta Lisboa menina e moça que espreita à janela.
- Nome
- The Beautique Hotels Figueira
- Local
- Lisboa, Santa Justa, Praça da Figueira
- Telefone
- 210492940
- Observações
- Ao todo são 50 quartos divididos em quatro categorias: standard, superior, deluxe e premium. Vai haver um quarto especial Nini Andrade Silva, com alguns objectos da designer e um livro onde pode deixar comentários. Em todos, a lista de amenities é grande e vem acompanhada da respectiva lista de preços, para quem gosta de levar para casa dos chinelos ao robe, mas neste caso também pode querer levar a máquina do café, a balança, a docking station para iPod ou o comando da TV. O restaurante Honra by Olivier está aberto para pequenos-almoços (7h às 10h30), almoços (12h30 às 15h) e jantares (19h30 às 00h). O bar está aberto das 10h às 00h. O spa está aberto ao público, entre as 9h e as 21h. Conta duas salas de tratamento, sauna e banho turco. O hotel tem ainda com um ginásio para uso exclusivo dos hóspedes.