Fugas - hotéis

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A liberdade do luxo está no detalhe

Por Luís J. Santos ,

Há novas suítes que são pequenos apartamentos luxuosos para sonhos cinco estrelas na avenida central da capital. Mas há muito mais. Em cada pormenor, sente-se no Sofitel alfacinha, da cama exclusiva ao restaurante gourmet, um toque de elegância intemporal.
É noite alta na Avenida da Liberdade. De janela aberta para este coração da cidade, abrem-se sob os meus olhos as fileiras de árvores e a última arte que levo para os sonhos é do prodigioso desenho da calçada que enriquece esta artéria, cada vez mais dedicada ao luxo. Não em vão, janela fechada, já isolado deste nosso muito próprio Champs-Élysées, é cercado de luxo por todos os lados que a noite será passada. Não um luxo qualquer: é um luxo sóbrio, que se experimenta em cada pormenor. Esta é uma das suítes recém-estreadas do único Sofitel em Portugal, marca de topo do grupo Accor. Fechadas as pesadas cortinas, a novel Júnior Suite envolve-nos num casulo que se reparte por duas salas, com direito, inclusive a duas entradas independentes.
 
No centro de tudo, claro, a cama. E, claro: não uma cama qualquer. É uma MyBed, cama exclusiva desta rede mundial, com duplo colchão, até um sobre-colchão com forro de pluma e penas de ganso, com um edredão similar e travesseiros gigantes. Escusado será dizer que passará na prova com distinção. Particularmente nesta noite de temporal em que nos é dada a experimentar a suíte, para muitos de sonho. O espaço ostenta um caleidoscópio de materiais e tecidos nobres, tudo envolvido por cores suaves e jogos de luzes que procuram criar ambientes relaxantes. Pelo quarto principal, uma miríade de detalhes. Do móvel em estilo colonial que guarda a televisão aos quadros de Manuela Gouveia que (como por todo o hotel) trazem silhuetas da cidade ou de figuras da cultura portuguesa ao espaço. A outra sala, que pode servir de apoio ou também para mais hóspedes, é um lugar à parte, separado por uma porta. Aqui, mais um longo sofá vermelho dá cor ao espaço, conta-se com mais uma mesa de apoio e um sistema multimédia — com outro televisor e um sistema de som de alta-fidelidade. Para maior conforto, a suíte está apetrechada com duas casas-de-banho, entre duche e banheira — e, sublinhe-se, artilhadas com produtos de gama alta, marca Hermès. Ponto a ponto, vamos descobrindo o jogo do “luxo do detalhe”: dos arranjos florais naturais na sala ao cravo nos quartos de banho, do candeeiro protegido com um puzzle feito por olhares cinematográficos aos quadros com detalhes da azulejaria portuguesa, dos cadeirões à fofa carpete. Até ao paninho que se coloca no chão junto à cama e que ostenta, debruado, um “Bom Dia” e um “Boa Noite”, conforme o prisma de onde se lê. Quase não dá vontade de sair daqui mas a verdade é que o hotel tem muito mais para oferecer e promete uma cosmopolita elegância de matriz francesa.
 
Elegância lusa à francesa
Com mais de duas décadas de história na hotelaria lisboeta, o Sofitel da Avenida da Liberdade é realmente, hoje em dia, um verdadeiro luxo. Na verdade, viveu sob “apenas” quatro estrelas quase toda a sua vida mas conquistou a quinta em 2011, parte de um processo de upgrade mundial da marca em todo o mundo mas também da adaptação a uma avenida “cada vez mais luxuosa”, como nos resumiria Fátima Raña, responsável pela Comunicação, Marketing e Qualidade do hotel. Aliás, o apodo da Sofitel actualmente é mesmo Luxury Hotels. A adaptação à modernidade é, aliás, uma constante. Com 163 quartos, já foi renovado de alto a baixo e, no ano passado, aperfeiçoou a fachada e criou novas suítes de luxo: são nove como a nossa, chancela Júnior, três Prestige e crème de la crème, a Ópera, que, no 9.º e último piso, oferece todo o centro lisboeta aos olhos até ao nível postal ilustrado. Entre suítes e quartos, há vistas avenida, outras com vista para a Praça das Flores, algumas com belas varandas.
 
“Localização de primeira, alojamento de primeira, serviço de primeira”, resume o director-geral do Sofitel lisboeta, o canadiano Dominic Arel, que chegou há seis meses do hotel da cadeia no Dubai. Arel, destaca, para além de todo o design e conceito global de espaços, a “personalização e atenção ao hóspede”. E como se garante esse pequeno grande luxo na prática, perguntamos. “Basta prestar atenção”, diz-nos, acrescentando um exemplo recente: com todo o hotel decorado com dezenas e dezenas de arranjos florais naturais, há sempre quem se deixe encantar por tal pormenor. “Houve uma cliente que se apaixonou por algumas flores e comentou connosco. No dia seguinte encontrou no seu quarto as suas flores preferidas”. “Se sabemos a música preferida do hóspede, pode acontecer ele entrar no quarto e ouvi-la”, acrescenta Fátima. É que este hotel não se quer ficar pelo “superficial” deluxe, quer ir ao âmago: “Aqui, cada recanto e decoração tem história por trás e tentamos passar todas essas histórias aos hóspedes”.
 
Estamos sentados no bar IntraMuros, um espaço lounge que se segue logo ao imponente átrio, este pontuado por um longo balcão em pele e “protegido” por duas figuras de anjos “portugueses” dourados. Só daqui, já vemos os candelabros franceses que iluminam as entradas para os elevadores, a carpete vermelha pelo piso de mármore escuro ou a escultura de uma grande pantera negra. Para cada opção estética, “uma história”. O bar homenageia o Vinho do Porto (e tem uma carta de vinhos que faz jus à homenagem) e prolonga-se para um espaço de biblioteca com temática asiática: o mote é Macau e há vasos, esculturas, pinturas e retratos da Escola de Belas Artes de Pequim dos anos 20 (dizem-nos, que não vimos, que os seus espaços estavam ocupados por uma exposição temporária, entretanto terminada, de obras de grandes fotógrafos franceses com o cinema como tema). Por outros pontos, erguem-se colunas de tons escuros e, noutros, brilham detalhes em tons dourados — alusões, comentam-nos, aos Descobrimentos portugueses. “Juntamos continuamente a cultura portuguesa e a elegância francesa”, refere o director-geral. E se há sítio onde isso mais se pode provar é no restaurante, um já de culto Ad Lib que, sendo espaço de refeições de hotel é, ainda mais, uma casa aberta à cidade. Além de ter uma carismática entrada independente (como que uma entrada da rua para uma gruta dourada), é, ao nível da avenida, corrido a vidro: basta sentarmo-nos numa mesa e parecemos estar, embora protegidos, mesmo na calçada (guarde-se o detalhe: venham os dias mais quentes e haverá esplanada). 
 
Cosmos Ad Lib
Uma boa metáfora do cosmopolitismo do hotel encontra-se precisamente aqui. O Ad Lib é chefiado há três anos por Daniel Schlaipfer, um alemão em hotel de “elegância francesa” em cidade portuguesa. “Alemão? Sou português””, ri-se. “Bom, pelo menos há dez anos”, adianta depois de nos ter seduzido com um mergulho marinho num prato-rocha decorado a conchas e recheado de lavagante com alcachofras e caviar. O trabalho de Schlaipfer — que antes passou pela Fortaleza do Guincho — é precisamente fazer esta ponte entre mundos, sendo que o conceito passa por “aliar o melhor da gastronomia francesa ao melhor da portuguesa” (mas, admite, com “uns toques das minhas origens de vez em quando”). É assim que se o pequeno-almoço é um festim que pode ir de queijos brie ou Rabaçal a um crème brûlée de tangerina, o almoço pode passar por um folhado de queijo de cabra e espinafres com mel e noz seguido por um bitoque reinterpretado (alto lombo coroado por ovo estrelado imaculado) ou mesmo frango grelhado e até um lombo de veado com pastel de pão e cogumelos selvagens, enquanto o jantar (“mais elevado”, diz Schlaipfer), seguindo a lógica de cozinha de mercado e adaptada aos produtos locais, pode ir por uma Rede de Sabores Portugueses (salada de polvo, melão com presunto de porco preto e pastéis de bacalhau) a uns Duetos de bacalhau (fresco confitado em azeite e lascado com espinafres e batata), robalo ao sal ou pregado, borrego ou pato; e pode-se fechar com chave de ouro com uns francesíssimos Crêpes Suzette como manda a lei ou uma triologia de mousse com parfait de lima e maracujá. Voilá!
Nome
Sofitel Lisbon Liberdade
Local
Lisboa, Coração de Jesus, Avenida da Liberdade, 127
Telefone
213228300
Website
http://www.sofitel.com/
Observações
O hotel tem 163 quartos: 86 superiores, 56 de luxo, 8 Júnior Suites, 3 Prestige e 1 Opera Suíte (incluindo quartos adaptados a pessoas com mobilidade reduzida). Inclui também espaços para eventos e reuniões, salas apetrechadas (incluindo tecnologicamente) para grandes encontros ou salas para reuniões. Entre os serviços, restaurante gourmet independente e bar ou pequeno ginásio. Há pisos para fumadores. Internet wi-fi gratuita.
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