Do outro lado, ali tão perto, está a nascente do Mondego, um despretensioso fontanário a marcar o início da longa caminhada do maior rio cem por cento português até à Figueira da Foz. Os dois, Mondego e Zêzere, nascem, aliás, de costas voltadas para o Atlântico - e ambos desenham curvas de 180 graus para se colocarem na rota definitiva, o primeiro rumo ao mar, o segundo a caminho do Tejo.
Neste reino de pedras e água, de árvores e prados, há um lugar especial para cada estação do ano. João Tomás, proprietário da Casa das Penhas Douradas, não se cansa deste espectáculo: "Aqui temos as estações do ano bem marcadas, ao contrário do que acontece em tantas paragens do país. O Inverno é branco, a Primavera florida, o Verão fresco e agradável, o Outono castanho e amarelo... Olhamos para uma árvore e sabemos logo em que estação do ano estamos."
Para este (ex-)advogado lisboeta, agora com 54 anos, não há neve que o convença a mudar de ideias: "A Primavera e o Outono são os momentos mais bonitos!" O festival de cores das folhas que envelhecem, a coexistência de neve com as primeiras flores, há aqui muita matéria de paixão. E João Tomás é um confesso apaixonado pela região.
Casas e sanatórios
Essa paixão pela montanha explica como começou por vir até às Penhas Douradas, que em tempos tinham sido a primeira estância de montanha de Portugal. "Fiquei aqui na Casa quando esta era uma espécie de café-albergue, durante os passeios pedestres que vinha cá fazer", explica. "As Penhas Douradas tinham perdido a lógica de estância de montanha. O que aqui havia era residências particulares e sanatórios." Os médicos, com o célebre Sousa Martins à cabeça, recomendavam a altitude em casos de tuberculose.
Existira um hotel naquele local, em tempos, mas ardeu e as ruínas ficaram por ali a maior parte do século XX. Depois de outros usos, incluindo o de café, a propriedade foi adquirida por João Tomás e pela sua mulher, Isabel Costa, que fizeram obras e abriram a Casa das Penhas Douradas em 2006, então com nove quartos. Três anos depois, em 2009, fecham novamente e reabrem em 2010 com dois novos edifícios e o dobro dos alojamentos.
O hotel actual é o reflexo vivo do passar do tempo. Das linhas e materiais tradicionais do edifício original (com embasamentos em granito e chapas metálicas nas paredes) à arquitectura moderna e "mimética" das novas zonas - que ficam enterradas no chão e acompanham a linha de encosta. Dos esquis antigos que aparecem um pouco por todo o lado - "Não sou coleccionador, mas fui comprando; tenho desde 1880 a 1960, altura em que deixaram de ser feitos em madeira, e um dos mais antigos foi mesmo comprado num antiquário lisboeta, em Campo de Ourique..." - aos painéis solares que se alinham num terreno anexo.
"Agarrámos duas ideias, a vertente social e a vertente ambiental. Estamos num parque natural, portanto achámos que devíamos fazer o que achamos que está certo: unidades pequenas, com oferta de produtos e experiências da região", explica João Tomás.
- Nome
- Casa das Penhas Douradas
- Local
- Manteigas, Sameiro, Penhas Douradas, Apartado 9
- Telefone
- 275981045
- Website
- www.casadaspenhasdouradas.pt