Somos recebidos por uma longa passadeira cinzenta, coberta de notas musicais pretas e branco, que nos guia, escada acima, até à recepção. O Hotel da Música, no Porto, está dentro do espaço classificado do Mercado do Bom Sucesso, mas tem uma entrada própria. Quando nos preparamos para dormir ali, entre partituras de Beethoven ou de Mozart, há uma pergunta que não pára de rodopiar na nossa cabeça: será silencioso?
É. Os 85 quartos do mais recente hotel da cidade espalham-se por quatro pisos, mas nós ficamos logo no primeiro, na chamada "parte antiga" da unidade hoteleira. Isto porque os quartos nesta ala estão integrados na própria estrutura do mercado, ocupando o que era um dos lados da galeria comercial do espaço. Hoje, atravessamos um corredor longo, ocupado de um lado pelas portas que dão acesso aos quartos, enquanto podemos ir espreitando entre as ripas de madeira clara que, do outro lado, deixam ver o novo centro comercial que nasceu no antigo espaço de venda de peixe, carne, flores, frutas e vegetais.
O mercado anda calmo, depois da explosão de visitantes dos primeiros dias. E, com o calor a apertar, o único espaço que está cheio de gente é a esplanada nas traseiras do edifício. Mesmo debaixo da nossa janela. No interior, contudo, há um palco montado, e um DJ vai passando música, para quem escolheu as bancas de produtos gourmet para jantar. Com gente a conversar de um lado e música a tocar do outro, seria de temer ruído a mais para uma boa noite de sono, mas o Hotel da Música passou no primeiro teste - dentro do quarto só há silêncio.
A música, no quarto, só entra mesmo se quisermos que assim seja. É certo que a única decoração das paredes brancas e limpas é uma pauta, pintada a negro, com o trecho de uma qualquer partitura de Mozart, mas essa também é silenciosa e não incomoda o sono de ninguém. O quarto, aliás, é um sossego.
As cores predominantes são o branco e a madeira clara que também integra a estrutura do próprio hotel. Não há quadros nas paredes, apenas o tal trecho musical pintado a negro. E os suportes dos candeeiros de mesa são claves de sol prateadas. Houvesse uma palavra em português para descrever este ambiente melhor do que a inglesa clean e usá-la-íamos. Assim, ficamo-nos mesmo por essa.
O Hotel da Música poderia estar instalado em qualquer outro ponto da cidade? Poderia, mas de certeza que seria algo diferente. Porque, hoje, a ligação com o edifício do antigo mercado transmite-lhe um carácter especial. Desde logo porque existe um acesso ao hotel através do próprio centro comercial. Por isso, tem sido comum os funcionários da recepção depararem-se com pessoas que sobem as escadas voltadas para o espaço comercial, passam ao lado dos instrumentos musicais junto ao bar Pavarotti (incluindo um piano onde já foi colocado um aviso a pedir, "Por favor, não mexer") e espreitam o novo espaço. "Estou só a ver", diz um homem que acabou de fazer este percurso para o funcionário que lhe pergunta, sorridente, se pode ajudar.
E se há curiosos que sobem para o hotel, também há clientes que descem para o novo espaço comercial, sem precisar de ir à rua. No edifício inaugurado em 1952, como mercado, e que reabriu, recentemente, depois de ter sido transformado num centro comercial com uma forte aposta na gastronomia, vendem-se agora sandes frescas, marisco, vinhos, pastéis de nata de bacalhau, bolachas tradicionais e éclairs, crepes, sushi e gelados. As lojas que ocuparam a galeria que não está tomada pelo hotel ainda cheiram a novo e, em frente à unidade hoteleira, está a Fundação António da Mota, fechada a esta hora. Atrás deste edifício, o novo concessionário do Bom Sucesso instalou aquilo que designa de "mercado de frescos" e onde é possível encontrar, ainda, flores, fruta, carne, vegetais e leguminosas.
Se escolher o Hotel da Música para pernoitar, pode escolher uma banca diferente, todas as noites, para comer. Mas pode também ficar pelo restaurante do hotel, o Bom Sucesso Gourmet, que existe quase como uma entidade independente. O acesso pode ser feito pela galeria comercial, sem qualquer barreira, e o almoço tem sido a grande "hora de ponta" do espaço, quando grupos de pessoas que trabalham na zona ou que querem conhecer o renovado Bom Sucesso o procuram. Também aqui o espaço beneficia da sua localização, já que alguns clientes usam o restaurante sem sequer se aperceberem que ele é parte integrante do hotel, abrindo-o a todos os que, noutra circunstância, não escolheriam ir almoçar "ao restaurante do hotel".
Já tínhamos experimentado, num outro dia, os peixinhos da horta, os cogumelos recheados, as gambas com alho e azeite e o salomillo de porco preto com migas de broa e grelos, mas hoje ficamo-nos pelo folhado de pato com legumes grelhados. Não nos arrependemos de nada do que comemos ali. Só ainda não experimentámos uma das possibilidades do espaço - comprar carne ou peixe (quando houver peixaria) no mercado e pedir ao chefe para o cozinhar, ao nosso gosto.
Ao pequeno-almoço, contudo, o Bom Sucesso Gourmet está calmíssimo. Não há fila para escolher os pãezinhos variados, as miniaturas de bolas de Berlim ou de pastéis de nata, nem ninguém se atrapalha na escolha da fruta ou na hora de decidir se vai tomar chá ou café.
O grupo Hoti Hotéis investiu oito milhões de euros no Hotel da Música e quer que o espaço se torne uma referência da cidade, indissociável da oferta cultural do Porto. Por isso, o site do hotel disponibiliza já uma agenda cultural da cidade. A unidade hoteleira quer ainda estabelecer protocolos com os agentes culturais da cidade, para que os seus clientes possam beneficiar de melhores condições no acesso aos espectáculos. No caso do Teatro Nacional de São João, da Fundação de Serralves e do Sea Life essas parcerias já existem, mas o protocolo com a grande inspiradora do hotel - a Casa da Música - ainda estará a ser negociado.
Certo, certo é que no Hotel da Música já se pode dormir. E bem. Por isso, sem ruído que atrapalhe, o melhor é apagarmos a luz, despedirmo-nos da partitura de Mozart e fecharmos os olhos.
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Quartos e serviços
O hotel de quatro estrelas tem 85 quartos distribuídos por quatro pisos e com duas categorias diferentes: standard e superior. Cada piso tem o seu músico predilecto, tendo Mozart ficado pelo primeiro andar, Beethoven pelo segundo, Chopin no terceiro, e Amália Rodrigues no último. Se, por exemplo, escolhesse ficar no hotel esta noite, poderia dormir num quarto duplo standard por 71 euros (subindo para 85 se incluir o pequeno-almoço) ou num quarto superior por 111 euros (125, com pequeno-almoço). Caso tenha carro e pretenda aceder à garagem privativa do hotel pode fazê-lo, mediante um pagamento extra.
O hotel de quatro estrelas tem 85 quartos distribuídos por quatro pisos e com duas categorias diferentes: standard e superior. Cada piso tem o seu músico predilecto, tendo Mozart ficado pelo primeiro andar, Beethoven pelo segundo, Chopin no terceiro, e Amália Rodrigues no último. Se, por exemplo, escolhesse ficar no hotel esta noite, poderia dormir num quarto duplo standard por 71 euros (subindo para 85 se incluir o pequeno-almoço) ou num quarto superior por 111 euros (125, com pequeno-almoço). Caso tenha carro e pretenda aceder à garagem privativa do hotel pode fazê-lo, mediante um pagamento extra.
O espaço tem ainda uma sala polivalente, denominada Tom Jobim, que tanto pode ser usada para festas como conferências ou reuniões de trabalho. Junto a esta área existem ainda dois estúdios, preparados para quem precisar, por exemplo, de ensaiar um pouco antes de um espectáculo.
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A Fugas esteve alojada a convite do Hotel da Música
- Nome
- Hotel da Música
- Local
- Porto, Sé, Largo Ferreira Lapa (Mercado do Bom Sucesso)
- Telefone
- 707292707
- Website
- http://www.hoteldamusica.pt
