Fugas - hotéis

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A casa grande de Paço de Sousa

Por Andreia Marques Pereira ,

É uma casa rural abastada, sem dúvida, e isso vê-se de caras. Esteve arruinada até que se dedicou à arte de (bem) receber: agora é uma espécie de casa de família - portuguesa no temperamento e com um piscar de olho provençal na atmosfera. Isto para os lados de Penafiel, em pleno território românico, que fala das raízes da nacionalidade.
Chegamos no meio de despedidas agitadas. A casa esteve todo o fim-de-semana nas "mãos" de um grupo vindo de Lisboa e os mais pequenos - que não são em número superior mas fingem-no bem - teimam em não querer partir. Da porta principal ainda fogem até ao pequeno parque infantil, montado à beira da piscina, entre baixa cerca de madeira. "Ó mãe, não vamos embora, pois não?" No meio da balbúrdia, alguém nos vê de mala e diz: "Bem-vinda. Não sei quem é mas bem-vinda".
 
Saberemos mais tarde que é Júlio Vinha, o proprietário do Solar Egas Moniz - proprietário, mas pouco: o negócio é praticamente gerido pelas filhas, Iva e Filipa. A ele "sobram as contas para pagar", há-de brincar, mais tarde, à mesa de jantar. Um negócio de família, portanto, em atmosfera que desde logo adivinhamos familiar. E não só porque entre os visitantes que se despedem estão a filha, Filipa, o genro e a neta dos proprietários - é uma regra não escrita deste alojamento de charme, que abriu no final de Março, fruto de muitas vontades e coincidências que levaram a que toda a família acabasse dedicada à grande casa de final do século XIX.
 
É ao jantar que sabemos todas estas histórias: um arroz de polvo acompanhado de vinhos verdes - afinal, estamos em pleno território destes - e muitos dedos de conversa noite fora. Aconteceu connosco, acontece com quem quer. "Ficamos quase amigos [dos nossos hóspedes] e a ideia é essa", diz Iva Vinha. Por isso, aguarda-se que o casal suíço, David e Ana, regresse: ofereceram uma garrafa de vinho a Júlio, que logo fez a promessa - "abrimo-la quando voltarem". "Não queremos formalismos", continua - e tal significa que se na mesa da família cabe sempre mais um, ninguém leva a mal se alguém quer um espaço mais reservado.
 
Há-os na casa, no jardim, no pátio. Há-os nas redondezas e estas são as da Rota do Românico. Estamos em Paço de Sousa e o solar não tem nada de românico, na sua esquadria sólida mas graciosa de grandes janelas e janelões com varandim de ferro forjado - tudo branco, imaculado, debruado a cantaria, com a notável excepção do enorme vitral que ocupa parte da fachada sobre a porta principal. No interior, esse vitral faz parte da suite principal e é a parede translúcida, que se colore com os humores do dia, de uma sala de estar que é mais um espaço de relaxamento. Um recanto de "Lealdade" - o nome do quarto - com direito a citação de Miguel Esteves Cardoso na parede: "A lealdade é um amor que esquece o mundo"; o quarto, com direito a varanda, é um espelho do que encontramos nos outros da casa: papel de parede com a definição do nome do quarto por cima da cama, que tem cabeceira de tecido e é ladeada de mesinhas brancas. "Os móveis são de Baltar e os atoalhados de Guimarães", sublinham, "para mostrar ao mundo o que se faz aqui e estimular o desenvolvimento local".
 
É feito de pormenores, este Solar Egas Moniz: no aparador da ala antiga, a caminho dos quartos, a fruta, água e rebuçados a que não resistimos de cada vez que passamos; o recanto de café, chá, bebidas e frigorífico na parte nova, tudo à disposição dos hóspedes sem qualquer custo adicional e que não tivemos tempo de explorar; o aviso, em design retro, de não incomodar na porta dos quartos, que não temos possibilidade de utilizar; o chocolate que nos aguarda na cama e que guardamos para depois.
 
Mas também é feito de particularidades mais vultuosas - vejamos o lounge que aproveita um recanto arquitectónico para se exibir ao sol abrigado pelo muro de pedra; as camas antigas reaproveitadas que se juntam às redes para se instituírem oásis de tranquilidade pelo jardim e pátios; a pequena piscina, rodeada de deck de madeira e abraçada por relvado, com vista apaziguadora para campos e casario; a japoneira antiga, copa larga sobre o parque infantil, que os populares, visitantes curiosos nestes primeiros tempos do resto da vida da "casa grande" local, se lembram de ter trepado na juventude.
 
Estamos a algumas centenas de metros do Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa, que vemos da janela do quarto, no primeiro andar. É um dos pontos fulcrais da Rota do Românico e se o destacamos é porque está ligado a esta casa de finais de oitocentos, residência de agricultores abastados que questões de partilhas deixaram degradar-se até que Júlio Vinha, comerciante em Penafiel, a comprou nos anos 1990. Não sabia bem o que fazer com o edifício - "para casa é grande", sublinha Conceição Vinha, professora reformada que acabou a fazer de parte do solar a sua casa - e as opções profissionais das filhas, ligadas ao turismo, ditaram o caminho. O ADN vem-lhe dos bed and breakfast, o carácter dos boutique hotel: tudo reunido em território de riqueza histórica e patrimonial imensa.
 
E aqui voltamos ao mosteiro. Aí está enterrado Egas Moniz, aio de D. Afonso Henriques, que a história eternizou como homem de coragem e honra - o solar associou-se a ele, homenageando-o e integrando-se na história destas paragens intimamente ligadas à formação da nacionalidade.
 
A homenagem vem no nome da casa e vem no nome dos quartos que compõem a ala antiga - Humildade, Sabedoria... Nós ficamos no Coragem por nenhum motivo especial que não fosse o facto de ser o que estava disponível na parte antiga e nós, como os estrangeiros, conta Iva, não resistirmos ao granito da parede, neste caso em combinação com vermelhos. Podíamos ter ficado na ala nova, ligada a esta antiga por um corredor transparente e encostada ao muro da propriedade, pedra exposta no corredor: teríamos varanda e os "temas populares", "homenagem a coisas da terra", explica.
 
Temos o Azeite, o Vinho, o Vira e os Namorados, cada um com cores associadas e com papel de parede a combinar com os temas (confessamos o nosso fraquinho pelo dos Namorados, com um "lenço" colorido na parede). Quando não há pedidos especiais, aqui no solar tenta-se perceber qual o motivo da viagem, quais os gostos particulares dos clientes para se lhes atribuir o quarto "certo".
 
Em todos os quartos, o mesmo tipo de mobiliário, tons claros a comporem um rústico estilo provençal, que combina especialmente com o granito e as madeiras (muitas originais). Tal é absolutamente claro na recepção que não é uma recepção comum, antes uma sala onde os azuis e os brancos convidam a ficar, não a passar apenas.
 
Veja-se a salamandra com os sofás à volta, as namoradeiras que se fazem confortáveis com almofadas, a estante com livros, o recanto dos brinquedos - e o enorme armário-montra para produtos regionais: desde o merchandising da Rota do Românico, a almofadas ou sacos de pão, por exemplo, com bordados dos "namorados". Os produtos regionais seguem no salão seguinte - sala de estar, de pequenos-almoços e enoteca. Os vinhos, em exibição num antigo lagar de pedra que compõe uma espécie de mezzanine-taberna, são sobretudo verdes; porém, com os petiscos que aqui se servem, pode percorrer-se o país vinícola.
 
Não usufruímos do late-check out mas poderíamos tê-lo feito - é opção sempre que há disponibilidade; e poderíamos tê-lo acompanhado de um pequeno-almoço tardio (até às 11h30) - sempre disponível, para opção dos hóspedes. Tomamos o pequeno-almoço na sala de jantar "da família", mesa comprida e aparadores com bolos caseiros, fruta laminada, diferentes tipos de pão, iogurtes, cereais, compotas e café expresso a terminar. A cozinheira, Beta, em azáfama a preparar o novo dia; e nós partimos com uma broa na mala - ou não fosse esta uma casa de família.
 
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O que fazer
No solar, o jardim, com a sua piscina e vários recantos, é o principal ponto de encontro; há ainda a horta biológica e o cantinho das aromáticas para quem quiser meter as mãos na terra. Disponibilizam-se, a pedido, bicicletas e está projectada a instalação de um pequeno spa.
 
Através de parcerias, o Solar Egas Moniz proporciona, mediante custo adicional, uma série de actividades que vão desde rafting ao BTT, passando por passeios a cavalo, spa e provas de vinhos.
 
Em plena Rota do Românico, é fácil descobrir os caminhos até à Idade Média nestas paragens. E a sua localização no que Iva Vinha chama o "Triângulo das Bermudas" - entre três pólos património mundial, Porto, Guimarães e vale do Douro -, ao invés de o tornar uma terra de ninguém, pode ser visto como o ponto de partida ideal para a descoberta do património mundial.
 
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A Fugas esteve alojada a convite do Solar Egas Moniz
Nome
Solar Egas Moniz
Local
Penafiel, Paço de Sousa, Rua dos Monges Beneditinos, 158
Telefone
962168254
Website
http://solaregasmoniz.com
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