Não chegámos a conhecer Abílio Neto mas, à força de tanto ouvirmos falar dele - do empenho, dedicação e sentimento que nutre por estas casas -, foi quase como se o conhecêssemos. Aurora Neto não faz a coisa por menos: numa manhã de sol, guia-nos pela Quinta de Caldeses e vê o marido em cada detalhe. "Ele tem muita pena de não poder estar cá convosco, pede muita desculpa. E ainda por cima ele teve um papel tão importante na concretização deste projecto..." Sendo assim, muito prazer, Abílio - havemos de lhe ver a cara num par de fotografias na Casa do Bárrio, mas para já tratemos de contar esta história de amor.
Na verdade, esta não é uma história de amor, são várias. Antes de mais, pela família; depois, pelo Minho de berço; pelo património acumulado ao longo de sucessivas gerações; pelas gentes que foram fazendo a história da Quinta de Caldeses - a Colistrinha, que hoje dá o nome a uma das cinco casas, ou o Pedreiro, que baptiza a que fica em frente; pelos carvalhos altíssimos e pelas oliveiras velhas de muitos anos que embelezam o jardim relvado e cuidado por Paula Pereira e o marido; pelas pedras que contam a vida em séculos - que dizer daquela que foi encontrada durante as obras e que, hoje, deixa ver a quem quiser uma data que enche a família de orgulho (1421)?; pelas traves de madeira que foram reutilizadas no interior das casas ou que servem de corrimão nas varandas.
Fosse essa a nossa vontade e poderíamos continuar, parágrafo fora, a elencar uma a uma as paixões que cabem nestas paredes, mas certamente já perceberam a mensagem. A Quinta de Caldeses, em Moure, uma freguesia da Póvoa de Lanhoso, não é só um espaço de turismo: é o que só podia ser quando se somaram todas estas pequenas histórias de amor. "Havia aqui todo um património, feito de pessoas e de coisas, que era preciso honrar e continuar", explica Aurora Neto, que herdou dos pais a Quinta de Caldeses.
As cinco casinhas centenárias começaram a ser restauradas em 2004. Ao longo dos três anos seguintes (as portas da quinta abriram ao turismo em 2007), Aurora e Abílio Neto - ambos minhotos, estudaram os dois Direito em Coimbra e fizeram carreira em Lisboa, onde ainda vivem, embora com um pé (e o coração) em Moure - mantiveram sempre a mesma filosofia: nada se perde, tudo se transforma. Os apontamentos das casas são todos diferentes, mas no fundo todos iguais, tendo em conta que resultaram essencialmente de recolhas do que aqui existia ou noutras casas da família.
Se na Casa da Quinta, por exemplo, é impossível resistir ao charme das namoradeiras, na da Colistrinha, que foi nossa durante duas noites, ninguém consegue ficar indiferente às pedras irregulares de granito que ladeiam as janelas. Como também não se pode não gostar do forno que ainda se vê numa das salas, dos tectos em madeira ou das mesinhas de cabeceira, às vezes desiguais, que fazem de sentinela às camas. "Houve alturas em que tive vontade de aldrabar, mas o meu marido nunca deixou", confessa Aurora Neto. ""Ou se faz em condições ou não se faz", dizia." Hoje, ao olhar para as histórias escondidas em cada recanto de Caldeses, Aurora dá-lhe razão e agradece-lhe a cada passo.
É o que nos apetece fazer também, agora que voltamos a entrar na Casa da Colistrinha e tomamos o pulso ao seu conforto simples. Abrimos a porta e estamos na sala, onde nos chama imediatamente a atenção o pormenor das janelas, a que já aludimos. Depois, detemos o olhar num antigo oratório de madeira que o passar dos anos foi carcomendo e na arca também a revelar idade onde repousa a televisão. Curiosos, mas sem pressas, espreitamos a cozinha, espaçosa e equipada com o indispensável para quem quiser preparar refeições, e rumamos aos quartos, dois, um com cama de casal, o outro com duas camas.
Está-se bem dentro de casa, mas arriscamos dizer que, haja bom tempo, e a festa faz-se lá fora. No Verão, a piscina funciona com um íman, é evidente; em dias mais frescos, o passeio pelos jardins, à sombra dos carvalhos, das oliveiras ou das laranjeiras, é sempre opção a considerar. Mas diz quem sabe - no caso, uma hóspede reincidente do Porto que encontramos frente à Casa das Oliveiras - que em fins-de-semana mais cinzentos a quinta tem uma atmosfera irrecusável. "É mesmo bom, sossegado. Estar dentro de casa, quentinho, a ouvir a chuva, é maravilhoso", comenta Gracinda. Diz isto e abraça Aurora Neto. "Já são da família", explica a proprietária.
Também nos sentimos assim, da família. Na despedida, Aurora encheu-nos de mimos - do lenço de namorados às deliciosas rochas do pilar (ver caixa), passando pelas laranjas da quinta, e ainda houve, claro, aquele abraço sincero - e pediu-nos que voltássemos logo, logo. Ainda não o fizemos, mas para a próxima exigimos a presença de Abílio - o príncipe encantado de uma destas histórias de amor.
Cinco casas de campo com tipologias diferentes
A Casa das Oliveiras tem dois quartos duplos e três casas de banho; a Casa do Coberto tem dois quartos duplos, duas casas de banho e um WC; a Casa da Colistrinha tem dois quartos duplos e duas casas de banho; a Casa do Pedreiro tem um quarto duplo e uma casa de banho; e a Casa da Quinta tem três quartos duplos e três casas de banho. A pedido, há sempre a possibilidade de uma cama extra. Tem piscina para adultos e bebés e ainda um salão de jogos. Preço: 25€ por pessoa, com direito a pequeno-almoço. O pão fresco aparece pendurado na porta todas as manhãs.
A um quilómetro, mais coisa menos coisa, Aurora Neto tem a Casa do Bárrio, um solar que sempre esteve nas mãos da família e que começou a ser construído nos finais do século XVI, com conclusão no século XVIII. Embora a sua vocação esteja mais orientada para serviços de catering (casamentos, reuniões e outros encontros do género), vale a pena a visita.
Quinta de Caldeses. Rua de Caldeses. 4830-435 Moure, Póvoa de Lanhoso. Tel.: 917 323 262. Email: auroraneto@netcabo.pt. GPS: N 41º 36.223 " W 8º 19.567"
A Fugas esteve alojada a convite da Quinta de Caldeses
- Nome
- Quinta de Caldeses
- Local
- Póvoa de Lanhoso, Moure, Rua de Caldeses
- Telefone
- 917323262