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As histórias de amor de uma família minhota

Por Sandra Silva Costa ,

São cinco casinhas de granito e guardam entre as suas paredes detalhes da vida das gentes que ao longo de séculos ocuparam a Quinta de Caldeses, na Póvoa de Lanhoso. Abriram-se ao turismo em 2007 e desde então, num conforto simples, contam quem foi a Colistrinha, ao que sabem as laranjas da quinta e quantos anos têm as oliveiras do jardim.

Não chegámos a conhecer Abílio Neto mas, à força de tanto ouvirmos falar dele - do empenho, dedicação e sentimento que nutre por estas casas -, foi quase como se o conhecêssemos. Aurora Neto não faz a coisa por menos: numa manhã de sol, guia-nos pela Quinta de Caldeses e vê o marido em cada detalhe. "Ele tem muita pena de não poder estar cá convosco, pede muita desculpa. E ainda por cima ele teve um papel tão importante na concretização deste projecto..." Sendo assim, muito prazer, Abílio - havemos de lhe ver a cara num par de fotografias na Casa do Bárrio, mas para já tratemos de contar esta história de amor.

Na verdade, esta não é uma história de amor, são várias. Antes de mais, pela família; depois, pelo Minho de berço; pelo património acumulado ao longo de sucessivas gerações; pelas gentes que foram fazendo a história da Quinta de Caldeses - a Colistrinha, que hoje dá o nome a uma das cinco casas, ou o Pedreiro, que baptiza a que fica em frente; pelos carvalhos altíssimos e pelas oliveiras velhas de muitos anos que embelezam o jardim relvado e cuidado por Paula Pereira e o marido; pelas pedras que contam a vida em séculos - que dizer daquela que foi encontrada durante as obras e que, hoje, deixa ver a quem quiser uma data que enche a família de orgulho (1421)?; pelas traves de madeira que foram reutilizadas no interior das casas ou que servem de corrimão nas varandas.

Fosse essa a nossa vontade e poderíamos continuar, parágrafo fora, a elencar uma a uma as paixões que cabem nestas paredes, mas certamente já perceberam a mensagem. A Quinta de Caldeses, em Moure, uma freguesia da Póvoa de Lanhoso, não é só um espaço de turismo: é o que só podia ser quando se somaram todas estas pequenas histórias de amor. "Havia aqui todo um património, feito de pessoas e de coisas, que era preciso honrar e continuar", explica Aurora Neto, que herdou dos pais a Quinta de Caldeses.

As cinco casinhas centenárias começaram a ser restauradas em 2004. Ao longo dos três anos seguintes (as portas da quinta abriram ao turismo em 2007), Aurora e Abílio Neto - ambos minhotos, estudaram os dois Direito em Coimbra e fizeram carreira em Lisboa, onde ainda vivem, embora com um pé (e o coração) em Moure - mantiveram sempre a mesma filosofia: nada se perde, tudo se transforma. Os apontamentos das casas são todos diferentes, mas no fundo todos iguais, tendo em conta que resultaram essencialmente de recolhas do que aqui existia ou noutras casas da família.

Se na Casa da Quinta, por exemplo, é impossível resistir ao charme das namoradeiras, na da Colistrinha, que foi nossa durante duas noites, ninguém consegue ficar indiferente às pedras irregulares de granito que ladeiam as janelas. Como também não se pode não gostar do forno que ainda se vê numa das salas, dos tectos em madeira ou das mesinhas de cabeceira, às vezes desiguais, que fazem de sentinela às camas. "Houve alturas em que tive vontade de aldrabar, mas o meu marido nunca deixou", confessa Aurora Neto. ""Ou se faz em condições ou não se faz", dizia." Hoje, ao olhar para as histórias escondidas em cada recanto de Caldeses, Aurora dá-lhe razão e agradece-lhe a cada passo.

Nome
Quinta de Caldeses
Local
Póvoa de Lanhoso, Moure, Rua de Caldeses
Telefone
917323262
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