Fugas - hotéis

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Uma quinta com cinco séculos de histórias

Por Mariana Oliveira ,

Não é fácil dar com ela, mas uma vez chegados à Casa de Minotes difícil é ter vontade de sair. Perto de Guimarães, um antigo celeiro e uma cocheira foram transformados em apartamentos confortáveis que misturam o antigo com o moderno. À volta, há riachos a correr, um simpático casal de burros mirandeses e castanhas à mão de semear.
Apesar de ficar a menos de meia dúzia de quilómetros do centro de Guimarães, a Casa de Minotes é um recanto escondido. A prová-lo, o Google Maps e o GPS, que se recusaram a reconhecer quer a rua quer o lugar. A única referência aceite pelas novas tecnologias foi mesmo a freguesia, neste caso Fermentões. Optámos, assim, por nos dirigir à junta e lá chegados decidimos recorrer a métodos mais tradicionais: perguntar a quem passava. E assim chegámos ao destino, sem grandes sobressaltos.
 
Dois cedros altos e esguios marcam a entrada da casa. Mal passamos o portão verde começamos a ouvir o som tranquilizante da água a correr. Não percebemos bem de onde vem, já que o bonito tanque de pedra, que mais tarde desvendaremos, está escondido por uma tília e por hidranjas.
 
A meteorologia cumpriu a promessa e o sol apareceu como previsto. Mesmo assim são visíveis os sinais da chuva, que dominou toda a semana. O piso ainda está molhado, mas o calor vai libertando no ar um agradável cheiro a terra.
 
Estamos no relvado e a casa principal surge à nossa direita. O brasão da família está tapado com um pano preto, em sinal de luto, pela morte do pai do nosso anfitrião, há uns meses. Augusto Ferreira faz as honras da visita e guia-nos pela propriedade. Começamos pela casa, que, explica o advogado, tem a existência documentada há mais de cinco séculos. Sim, cinco séculos sempre na mesma família, os Martins de Minotes. Se recuarmos até 1508 encontramos nos livros de prazos do convento de São Domingos referências às casas, aos campos, aos soutos e às águas de Minotes.
 
No interior do edifício principal os objectos contam a história da família e as paredes, forradas com grandes pinturas, retratam os antepassados mais ilustres, como o trisavô de Augusto Ferreira, que, garantem-nos foi um dos maiores cavaleiros do país. O edifício foi construído segundo o modelo de casa senhorial setecentista, lê-se no site do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, que o classificou como imóvel de interesse público. "O solar possui uma planta composta irregular, em forma de U, com cobertura homogénea, apresentado um modelo muito simples", descreve-se no site do instituto.
 
A casa, que logo à entrada dispõe de uma pequena capela, organiza-se num só piso, que alberga vários quartos e salas, além de uma grande cozinha. A sala de jantar e a cozinha, toda em granito e madeira, são as únicas divisões acessíveis aos hóspedes. Os mais aventureiros podem tentar experimentar os dois fornos a lenha ou tentar acender um fogão-relíquia, igualmente a lenha. Quem preferir a comodidade da modernidade pode usar uma outra área da divisão, totalmente equipada, desenhada pelo arquitecto Fernando Távora.
 
Saímos da cozinha e descemos umas escadas em direcção ao piso inferior do edifício, onde estão as instalações de apoio à quinta. Mais recentemente um destes espaços foi transformados numa sala de jogos, com bilhar, que também pode ser usada pelos hóspedes. Aí encontrará os prémios do cavaleiro da família e o retrato de um dos campeões que treinou.
 
A não perder é a adega e o lagar, onde ainda hoje se produz vinho verde. Destacam-se os enormes pipos antigos, os quatro lagares e as tradicionais prensas. Continuamos até à horta biológica, onde se vêem os últimos tomates da época e seguimos para os galinheiros, onde os perus convivem com as galinhas e com as galinhas da Índia.
 
Subimos até à eira e continuamos até uns campos vedados onde pastam Tobias e Alice, um simpático casal de burros mirandeses, e onde espiamos um potro de quatro meses a mamar na mãe. Mais indiferentes à nossa presença são os dois cavalos lusitanos da quinta.
 
Continuamos em direcção à mata de carvalhos e pelo caminho descobrimos vários castanheiros, com muitos ouriços já no chão, onde mais tarde nos demoraremos. No passeio cruzamo-nos com pequenos cursos de água, que desembocam mais à frente, no rio Selho, junto a um dos limites da propriedade. O estatuto parece um pouco exagerado face ao caudal da água, mas pudemos comprovar em fotografias que quando o Inverno é rigoroso a água inunda muitos dos campos vizinhos.
 
Prosseguimos por um corredor de arbustos e desembocamos num dos recantos mais especiais da quinta: a piscina. É um jardim fechado, em que as "paredes" são forradas por japoneiras coloridas, árvores e arbustos. A entrada é marcada por um arco de roseiras. Nesta altura o tempo não convida a banhos, mas ainda é possível aproveitar as espreguiçadeiras em dias soalheiros de Inverno.
 
Abandonamos a piscina e encontramo-nos novamente no relvado onde iniciamos a visita. Resta agora conhecer a cocheira e o celeiro, transformados em dois apartamentos que se alugam. A conversão foi muito bem-sucedida, assim como a decoração, que mistura objectos antigos e modernos, criando um ambiente clássico e confortável. Cada casa tem uma acolhedora mezzanine e um outro quarto com duas camas. As kitchenettes estão escondidas por portas que simulam armários, mas estão equipadas com tudo o necessário para uma família passar uns dias.
 
À noite, concentrados no silêncio, voltamos a sentir a água a correr. E adormecemos sem dificuldade. De manhã, a música é outra. Os pássaros oferecem uma sinfonia em que se destaca um solista, que não sabemos identificar. Depois do pequeno-almoço, da responsabilidade dos hóspedes, regressamos aos castanheiros. A apanha não é isenta de algumas pequenas picadelas, mas o esforço valeu bem a pena. As castanhas eram óptimas!
 
A Fugas esteve alojada a convite da Casa de Minotes
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Como ir
 
Saindo do Porto, siga pela A3 em direcção a Braga. Na saída de Famalicão, vire para a A7 em direcção a Guimarães. Entre em Guimarães e siga para Braga pela EN105. Continue até encontrar uma rotunda com um supermercado Lidl. Aí, suba no sentido São Torcato e vire na primeira rua à direita (a 30 metros da rotunda). Uns metros à frente chega a um pequeno triângulo. Vire à esquerda na Rua de Souto e Minotes. Siga sempre pela esquerda até a via estreitar e o pavimento mudar para pedra e terra. A quinta fica no final da Rua de Souto e Minotes. Quando vir um portão verde entre dois cedros estreitos e altos, chegou.
 
Onde comer
 
A apenas uns minutos de carro da quinta, pode comer um delicioso bacalhau que não lhe sairá rapidamente da memória. Com duas salas simples, uma das quais com bancos e mesas corridas, a Casa de Pasto Silva (Rua Moinhos de Covas, 48, Meirão-Penselo, tel.: 253 413 557) destaca-se pela comida. Na sala principal, um grande fogão a lenha torna o ambiente de Inverno mais acolhedor. As especialidades são bacalhau e costoletão de vitela grelhada. O bacalhau, aqui conhecido como "recheado", é refogado num tacho com cebolada e servido com umas estaladiças batatas fritas, cortadas às rodelas finas. Também se serve bacalhau na brasa com batatas a murro.
 
O que fazer
 
A quinta é grande e possui várias matas com pequenos riachos que vale a pena explorar. Depois há animais simpáticos, como um casal de burros mirandeses que gosta de interagir com os hóspedes. Há ainda dois cavalos lusitanos, uma égua e um potro de quatro meses que ainda mama. Esta altura não convida propriamente a banhos, mas no Verão a piscina é uma óptima opção. Para um programa mais cultural, há o bonito centro de Guimarães a dois pés, classificado pela UNESCO como Património da Humanidade.
Nome
Casa de Minotes
Local
Guimarães, Fermentões, Rua de Souto e Minotes (Lugar de Minotes)
Telefone
932138930
Website
http://casademinotes.com
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