Fugas - hotéis

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À beira da praia, com os olhos no rio, mas sempre no descanso do campo

Por Cláudia Carvalho ,

No caminho para Vila Nova de Milfontes escondem-se por entre a serra o Naturarte Rio e o Naturarte Campo, onde somos recebidos como parte da família. Há cavalos e piscinas com vista infinita e cada refeição aqui é uma experiência gastronómica.

Estamos tão perto da praia que quase juramos sentir a brisa do mar quando aquilo que temos ao alcance da vista é o rio, lá em baixo ao fundo a brilhar. Estamos no Naturarte Rio, a apenas oito quilómetros da vila alentejana de Vila Nova de Milfontes, onde o rio Mira se encontra com o mar da Costa Vicentina, e a dúvida que temos é se vamos molhar o pé no rio, dar um mergulho na praia ou se nos vamos é deixar ficar pelo sossego desta unidade de turismo rural.

Na verdade são duas unidades de turismo rural, a Naturarte Rio e a Naturarte Campo, separadas apenas por meia dúzia de quilómetros. Partilham da mesma tranquilidade e do mesmo espírito familiar – já lá vamos – mas enquanto a primeira tem vista para o rio (e um caminho para se fazer a pé até às margens), na segunda estamos rodeados por uma imensidão de verde (e o caminho para se fazer a pé aqui leva-nos até à pequena aldeia de S. Luís).

Além disso, enquanto o Naturarte Campo é composto maioritariamente por quartos, no Naturarte Rio existem apenas casas (para duas ou quatro pessoas). Depende tudo daquilo que procuramos. Se quisermos mesmo estar sozinhos, sem grande disponibilidade para conversas de circunstância, então aí a escolha mais indicada é o Rio, onde nem para o pequeno-almoço nos temos de cruzar seja com quem for, uma vez que nos trazem a refeição à porta, na certeza de que se não a abrimos nos deixam ali o pequeno-almoço para quando acordarmos. Tudo muito bem preparadinho e conservado, pois claro. Também é uma boa opção para famílias, há mais do que espaço para a criançada e as casas estão equipadas com kitchenette para que nada falte.

Mas do que nós realmente gostámos no Naturarte Rio foi da piscina. Não chegámos a experimentar a água porque enquanto aqui estivemos o tempo não esteve convidativo para isso mas só de nos imaginar ali dentro, já queremos voltar. De tão bem enquadrada que está na natureza local, esta piscina exterior confunde-se com a paisagem. O contraste do azul da água da piscina com o verde da Serra do Cercal e o rio lá no fundo é de nos fazer esquecer de imediato a vida de todos os dias, aquela que deixámos para trás neste fim-de-semana.

Quebrar a rotina é aliás a proposta de Rui Graça, o grande responsável pelo Naturarte. Partiu dele a ideia e a iniciativa de dar vida novamente àquelas propriedades da família que há já muitos anos desapareciam em ruínas. E escrevemos o grande responsável porque não é ele o único a trabalhar aqui, o arquitecto de profissão não está sozinho neste projecto. Visitar o Naturarte é ser recebido não só por ele e pela sua mulher, Pamela, como pelos seus pais, José Manuel e Maria Manuela, e eventualmente, num ou noutro dia, também pelo seu irmão Luís e a mulher deste, Marta.

Não é por acaso que todos se apresentam apenas pelo primeiro nome. Nunca os conhecemos antes mas a verdade é que somos recebidos como se da família já fizéssemos parte. A própria distribuição dos quartos no Naturarte Campo não podia ser mais representativa deste espírito. Há o quarto da avó, o quarto da irmã e o quarto do irmão, do sobrinho e da prima, do tio, do pai, da mãe... No fundo, a distribuição dos quartos foi feita a pensar na família Graça, em jeito de homenagem, como nos contou a matriarca Maria Manuela, mas quem lá dorme somos nós. “Queremos que as pessoas se sintam parte da família, que sintam que estão em casa enquanto aqui estão”, diz-nos Rui, explicando que apesar de o Naturarte existir desde 2006, o projecto ganhou agora novos contornos. E isto porque a concorrência nesta zona também é cada vez maior. “É preciso marcar pela diferença, temos de ter as nossas apostas”, conta Rui.

Uma das novidades do Naturarte é que passou, por exemplo, a ter uma programação temática, que muda todos os meses. O tema pode ter tanto a ver com a época do ano em que estamos ou então partir simplesmente de uma conversa em família. Abril tem sido o mês da gastronomia e em Março foram dias de contos interactivos à lareira. Maio ainda está a ser decidido mas, independentemente da escolha, duas coisas são certas: a gastronomia é sempre uma aposta e os contos nocturnos vão sempre existir para quem se quiser sentar na sala com o Rui.

“Estarei cá sempre para quem me quiser ouvir”, garante Rui, que fala connosco já depois de um destes serões. Ouvimo-lo contar aos hóspedes a história de como deixou Lisboa para regressar às raízes alentejanas. História contada e é a vez de mostrar os seus dotes musicais. Rui pega na viola e toca Lisboa Menina e Moça. Música cantada e levanta-se para dançar um fado com a sua mulher, Pamela. Volta à cadeira e conta mais uma história e toca mais uma música e assim aconteceu durante cerca de duas horas. É este tipo de iniciativas que acredita que fazem a diferença na experiência daqueles que ali pernoitam. “Estes serões servem não só para nos conhecermos como para os próprios hóspedes se conhecerem mas, atenção, não obrigamos ninguém a participar nisto”, diz muito depressa, entre risos, o responsável.

Esta sua iniciativa é também uma das novas apostas para o Naturarte e muito se deve, diz-nos, a Pamela, a mulher por quem se apaixonou já esta unidade de Turismo Rural existia. Pamela acompanha-o nestes serões e também ela conta histórias mas o seu papel aqui é muito maior que isso. Ela é a chef de cozinha, embora não goste de assim ser chamada e ficar feliz por ser “a cozinheira”. Das suas mãos nascem pratos saborosos com produtos da região, e tudo quanto possível aqui da herdade, com um toque, claro, austríaco. O jantar com que fomos brindados foi uma autêntica experiência de sabores. Do Strudel vegetariano e salada com flor de cappuccino, confeccionados com os ingredientes ali da horta, à sopa fria de amêndoa com uvas brancas, passando pela dourada no forno com legumes (também apanhados na horta), terminando com o parfait de baunilha com tangerina confitada.

Mas Pamela não se fica por aqui. Afinal o Naturarte é também um espaço para todos os amantes de cavalos. No Naturarte Campo existe um picadeiro e tanto Rui como Pamela, casal que já mostrou ser dos sete ofícios, promovem aulas de equitação ou passeios pela herdade e pela aldeia nos seus lusitanos. Depois de uma noite de conversa e música, vemo-los agora a exibirem os seus cavalos. Preparam até uma espécie de teatro com os animais mas bom esse é um projecto ainda a ser trabalhado e para ser apresentado num futuro próximo, diz Rui.

O que é bom aqui é que mesmo aqueles que escolheram ficar no Naturarte Rio podem vir até ao Campo, seja para partilhar as refeições, os serões no fim de jantar ou os passeios a cavalo. Ou até mesmo a piscina que apesar de não ter a vista daquela do Rio, é também ela um sossego no campo. Além de que no Naturarte Campo há ainda um court de ténis, onde nem precisamos de nos preocupar com as bolas e as raquetes, visto que nos emprestam todo o material.

“O Rio e o Campo são distintos mas complementam-se”, diz Rui. Nós que lá estivemos podemos confirmar que tanto um como outro nos dão o que de melhor esta zona tem e que é a tranquilidade a minutos da cada vez mais procurada Costa Vicentina. 

Nome
Naturarte
Local
Odemira, São Luís, Estrada de Vila Nova de Milfontes, km 1
Telefone
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