Fugas - hotéis

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Entregues à natureza e a um copo de vinho

O resultado é uma adega moderna, constituída por uma ampla sala com várias cubas metálicas e pela “cave” imaginada: uma galeria escavada na rocha ali descoberta e deixada no seu estado natural numa das paredes, o que acaba por também “ajudar a baixar a temperatura”, acrescentaria mais tarde o enólogo João Coutinho, já quase no final da visita guiada. Um estreito corredor de tecto baixo — contrastante com a área anterior — onde, por altura da nossa visita, o tinto reserva de 2012 ainda estagiava em dezenas de barricas de carvalho francês para ser engarrafado em breve. 

Outro detalhe curioso: a rocha retirada para criar a “cave” foi aproveitada para forrar algumas das paredes exteriores de todos os edifícios da quinta (as outras foram pintadas num amarelo quente, a lembrar o Verão alentejano).

Os rochedos, dispostos em fila (pela mão da natureza ou do homem?), acabam por dividir a herdade de 11 hectares em duas zonas distintas, separando-as visualmente. Entra-se pela área vinícola por excelência e é preciso contornar a adega para encontrar a unidade turística propriamente dita, localizada na encosta oposta. O edifício principal concentra a cozinha, a sala comum, a recepção e os cinco quartos, que têm entrada pelo exterior, varanda com acesso directo para a zona da piscina e um chuveiro ao ar livre, onde as paredes altas permitem tomar banhos refrescantes sem perder a privacidade desejada. Os dois apartamentos ficam do outro lado da piscina, criando um recanto turístico resguardado de olhares curiosos, sem nunca perder a vista panorâmica sobre o montado alentejano, onde o sol se põe deslumbrante em cada final de tarde. 

Tecnologias intermitentes
Neste monte colado à aldeia da Esperança — que no início do ano ganhou protagonismo a nível nacional quando o Banco Espírito Santo propôs-se a restaurar a aldeia, no âmbito de uma campanha publicitária — viver o dia-a-dia tecnológico a que nos habituámos pode ser um desafio. A rede de telemóvel é quase inexistente e os clientes de umas operadoras terão mais sorte que outros, a Internet wireless vai desaparecendo à medida que nos afastamos da sala comum e nos quartos ainda só existem quatro canais de televisão, quando o serviço não falha. Enquanto para uns a descrição poderá ser um martírio, para outros será o cenário perfeito para dar folga aos aparelhos electrónicos e regressar à comunhão primordial com a natureza.

E aquilo que aqui apetece mesmo é nada fazer, é darmo-nos ao luxo de ficar simplesmente entregues a banhos de sol e piscina, sestas prolongadas, leituras em atraso e passeios retemperadores pela herdade quando o calor acalma. Foi o que fizemos de manhã cedo, ainda antes do pequeno-almoço. E ali tão perto a natureza agita-se de vida: os nossos passos fazem restolhar cada folha, borboletas brancas esvoaçam à nossa passagem, saltam gafanhotos, escondem-se lagartixas, fogem coelhos. O zunido das moscas é um vai-vem e um burro zurra algures ao fundo. De noite ouvia-se o coaxar de sapos à varanda, durante o dia é constante a música produzida pelos chocalhos de vacas ou ovelhas, que devem pastar por perto mas que nunca chegamos a vislumbrar. Tling, tling, tling, tling, tling. Mais do que interromper o eterno silêncio do interior, o som dos animais marca o ritmo hipnotizante da nossa estadia, esvaziando corpo e mente na dormência alentejana.

Nome
Monte da Esperança
Local
Arronches, Esperança, Monte da Esperança - Monte dos Louções
Telefone
245561019
Website
http://www.montedaesperanca.pt/
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