Fugas - hotéis

  • Adriano Miranda
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A proximidade é quem mais ordena

Por Sandra Silva Costa ,

A história é como tantas outras: duas irmãs decidiram dar nova vida à anterior morada dos avós maternos. Agora Caldas da Felgueira conta com um espaço de turismo rural que é um repositório de memórias de família e uma porta aberta para mergulhar na vida das gentes da aldeia.

Tobias, “o vigilante da aldeia”, como lhe chama Catarina, espreita pela porta entreaberta e, indiferente às ordens para que se deixe estar do lado de fora, entra na sala. Numa mesa baixa rodeada de sofás desirmanados há um piquenique improvisado e, convenhamos, se para nós é difícil resistir, como será para um cão de faro apurado? Tobias aproxima-se, então, mas comporta-se à altura: dá meia volta e vai deitar-se à porta, como lhe tinham pedido há pouco.

Há-de ter a sua recompensa, mas por enquanto está de guarda, como se estivesse alerta para nos avisar quando poderemos sair. Chegámos às Casas do Pátio, na aldeia de Caldas da Felgueira, concelho de Nelas, numa tarde de Verão travestida de Outono — caiu toda a chuva que havia no céu e o piquenique que nos tinham reservado para as margens do Mondego, num cantinho bucólico até dizer chega que conheceremos depois, teve que ser transferido para a sala da recepção, repositório de memórias de família das irmãs Minhoto, Catarina e Lídia.

Eis-nos, portanto, à volta da mesa e às voltas com nacos deliciosos de queijo da serra, fatias de presunto, pedaços de pão regional — e figos do quintal da mãe de Ana, cunhada de Catarina Minhoto, que aqui chegou de jipe com a intenção de nos levar ao Mondego e, depois, num passeio pelas vinhas que vão dando corpo ao delicioso tinto Quinta dos Três Maninhos, da Palwines. Mas essa é história de outro rosário — para já continuamos em redor da mesa, a ouvir as irmãs contarem como chegaram até aqui.

A história é como tantas outras: estas Casas do Pátio, três blocos de pedra onde se acomodam quatro casas de turismo em espaço rural, eram morada dos avós maternos de Catarina e Lídia, que também aqui passaram parte da infância. Em 2008, a ideia de reconversão para receber hóspedes foi ganhando forma, mas os apoios no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (Proder) chegaram apenas em 2011. E foi preciso esperar até Junho de 2014 para as Casas do Pátio estrearem a sua nova vida.

As quatro casas (acomodam entre dois e quatro hóspedes) receberam o nome dos quatro elementos da natureza: Terra, Fogo, Ar e Água, que entre si partilham um pátio que há-de ser bem agradável em dias de chuva ausente. Pela parte que nos toca, esta noite vamos dormir com o Fogo. Abrimos a porta e já estamos com um pé na sala com cozinha acoplada: paredes, mesa e cadeiras brancas, sofá bege com almofadas bordeaux, TV de ecrã plano, uma lareira à espera de dias mais frios.

Umas escadas de madeira conduzem ao primeiro andar, onde há dois quartos (um com duas camas, outro com cama de casal) e uma casa de banho entre eles. Quem vier à procura de muito espaço, talvez fique desiludido. A área mais desafogada é a de baixo — os quartos têm a cama, uma mesa-de-cabeceira, um armário embutido. Ponto. A casa de banho, com cabine de duche, idem. Pequenina. Não é defeito, é feitio, há-de explicar Catarina: “Não quisemos estar a fazer muitas alterações ao que havia. As casas eram o que eram, não inventámos muito.”

Foi, de facto, uma opção: não mexer demasiado no que já estava feito. Uma das casas, por exemplo, tem um pátio privado para onde dão duas janelas da casa da frente. “As construções antigamente eram assim, nós quisemos manter essa ideia”, explica Lídia. E Catarina acrescenta: “Aqui, o conforto é, às vezes, de outra ordem: de proximidade com a aldeia, com as suas gentes, com a natureza à volta.”

Por falar na natureza, vamos embrenhar-nos nela agora que o sol voltou. O jipe de Ana vai aos solavancos mostrar-nos o cantinho à beira-rio para onde estava marcado o piquenique-surpresa. E em seguida leva-nos às vinhas da família, onde ouvimos o seu irmão, o enólogo Pedro Borges, contar, com nítido orgulho, histórias destas cepas, algumas centenárias. Quando a noite começa a cair, já estamos na adega a provar o tinto Quinta dos Três Maninho e a sorrir com o entusiasmo pueril de Miguel (três anos) por ter visitas na casa da avó.

Catarina tinha razão: o melhor conforto é, muitas vezes, o de proximidade.

A Fugas esteve alojada a convite das Casas do Pátio

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Dispõe de quatro casas. A Casa do Ar e a Casa da Água têm um quarto de casal; a Casa do Fogo e a Casa da Terra têm um quarto de casal e um twin. Em época baixa, os preços vão dos 90 euros (Casa do Ar) aos 170 euros (Casa da Terra). Neste momento há promoção que vai dos 15 aos 25%. As tarifas detalhadas podem ser consultadas online. Os preços incluem pequeno-almoço, entregue diariamente em hora previamente combinada. Em todas as casas, há amenities da marca NUXE.

Como ir
Do Porto, é seguir pela A1 ou pela A29 até Aveiro e depois tomar a A25, em direcção a Viseu. Deve sair em direcção a Nelas e entretanto encontrará indicações para as Caldas da Felgueira. De Lisboa, tome a A1 até Coimbra Norte/Viseu. Deve depois seguir no sentido Guarda/Mangualde/Nelas.

O que fazer
A aldeia de Caldas da Felgueira está no mapa muito à conta da sua estância termal — as águas são usadas para tratamento das vias respiratórias e das afecções reumáticas e músculo-esqueléticas. O balneário, a uma curtíssima caminhada das Casas do Pátio, oferece terapêuticas e tratamentos diversos. De resto, o que há para fazer dependerá sempre da vontade e interesse de cada um. As irmãs Minhoto conhecem muito bem a região e estão disponíveis para dar todas as dicas para passeios na natureza ou para visita das povoações próximas — Canas de Senhorim e Nelas, por exemplo. Os interessados na temática do vinho terão a oportunidade de conhecer o projecto Palwines e os vinhos que dele resultam. A Palwines (dos irmãos Pedro, Ana e Luís) produz o Quinta dos Três Maninhos, que a Comissão Vitivinícola Regional do Dão considerou ser o melhor tinto da campanha de 2012. Pedro Borges, o responsável pela enologia, é marido de Catarina Minhoto, pelo que as visitas à adega e às parcelas de vinha que os Borges detêm na região está muito facilitada. O passeio, e a prova do vinho!, valem bem a pena.

Onde comer

Quinta do Castelo
Zona Industrial, Nelas
Tel.: 232 944 642; 963 055 906
www.quintadocastelo.pt

É um restaurante regional também com a vertente salão de festas. Falamos do que comemos: os enchidos são de qualidade, o prato de bacalhau com queijo da serra igualmente e o leite-creme queimado convenceu até quem habitualmente não gosta de leite-creme. O vinho Castelo, produzido a partir dos oito hectares de vinha da quinta, também merece a prova.

Paço dos Cunhas de Santar
Largo do Paço, 3520-121 Santar
Tel.: 232 945 452
www.daosul.com

O restaurante insere-se num solar do século XVII, que por si só já vale a visita. Em dias amenos, o passeio pelos jardins adjacentes também é uma boa opção. À mesa, ao almoço estão disponíveis vários menus que, a partir de 25 euros, harmonizam as criações gastronómicas do chef Diogo Rocha com os vinhos da Dão Sul , proprietária do Paço.

O que comprar
Fica tudo em família: o Quiosque Sombrinha é propriedade dos pais de Catarina e Lídia e oferece uma boa selecção de produtos regionais e gourmet. Destaque para o queijo da serra, mas a oferta vai até aos vinhos e doces. Fica a um minuto das Casas do Pátio.

Nome
Casas do Pátio
Local
Nelas, Canas de Senhorim, Travessa do Comércio - Caldas da Felgueira
Telefone
966540330
Website
http://www.casasdopatio.pt/
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