Fugas - hotéis

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Dormir sobre carris

Por Mara Gonçalves ,

Já não circulam comboios no Ramal de Cáceres, mas desde 2013 que os viajantes voltaram à estação de Marvão-Beirã, transformada em guesthouse.

Lina e Eduardo já andavam a namorar a ideia de saírem da capital para viverem com os dois filhos “num sítio de campo”, quando “ouviram a notícia de que o Ramal de Cáceres ia ficar inactivado”. À ligação familiar à estação e paixão pela zona juntou-se a “abertura da Refer no sentido de transformar isto num alojamento turístico”. Após um ano de obras de recuperação do antigo restaurante da estação de Marvão-Beirã, a Train Spot abria em Agosto do ano passado. O alpendre sobre as linhas de carris ainda anuncia a velha função do edifício, agora transformado em guesthouse.

O conceito, garantem, é precisamente “manter o máximo de originalidade do espaço” e, por isso, quase tudo ficou como estava ou foi restaurado: a sala onde se serviam refeições ainda tem o tecto de madeira, o chão quadriculado e os azulejos de desenho geométrico verde e branco, a enorme lareira branca e a inscrição “lavabos” sobre a zona de acesso ao corredor. A porta para a cozinha manteve a portinhola passa-pratos e, no primeiro andar, os quartos dispõem-se na divisão original: quatro têm WC privado, três partilham a casa de banho. “Queremos que ela permaneça como estava, mesmo a decoração é muito leve porque a casa em si já tem muitos elementos”, defende Eduardo. “Queremos que as pessoas venham realmente dormir numa estação de comboios, com tudo o que isso implica num edifício centenário”, remata Lina.

Além dos quartos no primeiro andar, a guesthouse integra ainda dois antigos apartamentos dos funcionários da estação, a escassos metros de distância. Os únicos espaços onde foi deixada uma televisão. “Estamos no meio do campo, portanto a ideia é colocar as pessoas no exterior”, defende Lina. “Queremos pôr as pessoas em contacto com o ambiente rural e com a cultura tradicional e popular de cá, que ainda é muito genuína. É o que Marvão tem de mais bonito e mais rico”, acrescenta Eduardo. Para isso, propõem caminhadas, passeios a cavalo e de bicicleta, workshops de queijo fresco de cabra ou pão em forno de lenha, e visita e participação nas lides agrícolas, desde o ciclo do azeite ao da castanha ou do cogumelo.

Ao turismo de natureza querem acrescentar uma forte componente cultural, área de onde vem o casal, ele designer gráfico, ela produtora de cinema e televisão (foi também uma das fundadoras da Lisbon Story Guesthouse, no Chiado). No Verão, o filme Alentejo, Alentejo, sobre o cante (declarado há poucos dias Património Imaterial pela UNESCO), esteve em ante-estreia no festival de cinema ali desenvolvido, uma tela gigante entre as linhas de comboio. Pelo segundo ano consecutivo houve também um palco sobre os carris, com espectáculos de fado e de dança, e na sala de convívio há sempre exposições. Para breve está também a reabertura do cais de embarque, transformado em pólo cultural. “As actividades que desenvolvemos ao longo do ano são para os nossos hóspedes e para o público geral também, no fundo para tentar reactivar um bocadinho a estação, porque esteve muito tempo adormecida”, afirma Eduardo. “Queremos mostrar que não é uma estação fantasma. Tem vida e outros apelativos.”

Nome
Train Spot Guesthouse
Local
Marvão, Beirã, Largo da Alfândega - Estação Ferroviária de Beirã/Marvão
Telefone
245992112
Website
http://www.trainspot.pt/
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