Fugas - hotéis

Alentejo, sol e sombra. E um verde sossego

Por Mara Gonçalves ,

Entre o montado raiano de Elvas, fomos encontrar um pequeno oásis. No Monte da Provença, um turismo rural onde as histórias se cruzam e as fronteiras se esbatem.

A imagem árida que trazemos do Alentejo estilhaça-se a cada passo que damos pela herdade do Monte da Provença, a poucos quilómetros de Elvas, transformada no início do ano numa unidade de turismo rural.

À entrada, recebe-nos o gotejar de uma fonte, caiada de branco e bordada a cor de tijolo, tons que pintam todos os edifícios a cheirar a novo da propriedade. Pouco depois, num dos pátios interiores da casa principal, novo fontanário e o som de água a correr, que se repetirá na velha nora e no tanque junto a duas suítes, para logo se derramar num riacho que vai descendo o cerro até encontrar a charca que alimenta a rega de toda a herdade. Em redor da piscina há relva fofa e palmeiras e, em cada recanto, sombras de chorões, laranjeiras, nogueiras, liriodendros, oliveiras, azinheiras. “Costumo dizer que tenho aqui um oásis”, conta a proprietária, Maria Schmid.

Foi precisamente a possibilidade de criar aqui um refúgio repleto de natureza e sossego — onde Maria e o marido, Joachim, pudessem “recarregar as baterias ao fim-de-semana da correria de aviões Europa acima, Europa abaixo” — que fez com que o casal adquirisse a herdade, há 16 anos, apesar do “estado miserável” em que se encontrava. Limparam o terreno, repleto de “cercas podres, ovelhas mortas e silvas de quatro metros”, e começaram a plantar. “Todas as semanas plantava três ou quatro árvores de jardim”, recorda. Desde então, já nasceram “mais de mil”, compondo um cenário de verdes e sombras, rematado por panorâmicas de montado que se estendem à serra de Portalegre no horizonte.

Cá fora, a natureza canta exuberante, no restolhar das folhas, no gotejar da água, na desgarrada entre pássaros e sapos, apelando a passeios prolongados, a demorar o olhar à janela, no alpendre comum ou num dos pátios privados das suítes, de dimensões generosas. Lá dentro, o silêncio é quase sepulcral, cada passo denunciado no rebater da tijoleira que cobre o chão de todas as divisões. Embora tenham sido construídos de raiz, erguidos nos últimos 18 meses, os edifícios receberam inspiração na arquitectura alentejana, presente não só no chão, mas também nas paredes grossas, no tecto forrado a madeira, nas telhas de barro ou na lareira da sala comum, que se acende apenas para “aquecer o espírito”, já que a casa “está sempre a 20ºC”, incluindo o chão, de piso radiante.

“Acho que este é o tipo de construção e de decoração [feita por Maria, incluindo alguns móveis de família] que faz as pessoas regressarem ao passado, com o conforto moderno”, defende a responsável, assumindo que o objectivo “é mostrar que o Alentejo é um sítio onde se pode estar confortável, comer bem, beber um bom vinho e fazer coisas giras”. “O conceito é que as pessoas não sintam que vêm para um hotel, mas sim para casa”, acrescenta.

Um futuro de projectos

A ideia de transformar a casa dos fins-de-semana numa unidade de turismo rural já era antiga, nascida numa viagem até à costa alentejana que Joachim, alemão, queria conhecer. “Pelo caminho passámos por vários turismos semelhantes e achámos que era uma ideia gira para aqui, mas trabalhávamos os dois numa multinacional muito grande e a coisa ia sendo adiada”. Até “há dois anos e pouco”. Perto da reforma, Maria começou “a fazer contas de cabeça” e decidiu “reorganizar-se” a si própria. “Juntando o pacote de saída da empresa, mais umas poupanças e o subsídio do QREN, achei que dava para fazer isto e fui de cabeça”, recorda.

À disponibilidade financeira juntaram-se os conhecimentos de gestão, a experiência acumulada em cerca de 150 noites por ano hospedada em hotéis e o gosto por conhecer pessoas novas. “Gosto de ter gente à volta, conhecer ideias e perspectivas novas”, conta. Nos meses de Verão, revela Joachim num português empenhado, a ideia é estimular esta partilha entre hóspedes com noites de pizza feitas no forno centenário (uma das poucas construções que foram mantidas) ou de churrasco no terraço. Na cave, a larga adega, ainda despida de decoração, começará por receber sobretudo eventos privados, mas daqui a cerca de dois anos também ali se produzirá o vinho tinto da herdade, com as castas Touriga Nacional, Aragonez, Alfrocheiro e Alicante Bouschet ali plantadas há um ano.

“Tinha prometido ao meu marido que não fazia mais projectos, mas já estamos com outra alinhavada: fazer o contraste absoluto entre o Alentejo tradicional, que temos aqui, com a construção de cinco ou seis suítes extremamente modernas em vidro, que praticamente não se notam na paisagem, do lado de lá do muro”, avança Maria, enquanto Joachim sonha com um “jardim botânico de citrinos”, com dezenas de espécies, com formatos e cores diferentes do habitual (para já, o pomar é composto por dois tipos de laranjas, de onde vem o sumo natural do pequeno-almoço na maior parte do ano).

Planos para um futuro que o casal vê ser feito cada vez mais de Alentejo em permanência, entre a paixão pela jardinagem e agricultura, pelos cavalos (que passeiam amistosos numa cerca junto à vinha) e pelos cães, com Dénia e Kaiser, dois simpáticos dobermann (“a nossa maneira de redimir a imagem da raça”), a seguir cada passo dos donos.

A Fugas esteve alojada a convite do Monte da Provença

Nome
Monte da Provença
Local
Elvas, São Vicente e Ventosa, Monte da Provença
Telefone
912799202
Website
http://www.montedaprovenca.com/
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