Fugas - hotéis

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Train Spot Guesthouse

Por Mara Gonçalves ,

“Quando vinha ter com os meus avós, vinha de comboio e descia aqui na estação”, recorda Lina da Paz que, com o marido, Eduardo, gere a guesthouse que ocupa desde 2013 o edifício do antigo restaurante da estação fronteiriça de Marvão-Beirã. O avô, que ali trabalhava como servente primeiro, morava no outro lado da linha, ao lado da igreja, onde hoje existem apenas canaviais. A ideia de deixarem Lisboa e irem viver para “um sítio de campo” tornou-se resolução quando souberam que o Ramal de Cáceres ia ser inactivado: à ligação familiar e paixão pela zona juntou-se a “abertura da Refer no sentido de transformar” a estação “num alojamento turístico”. Em Agosto de 2012 passava ali o último Lusitânia Comboio Hotel (que actualmente faz a tradicional ligação nocturna entre Madrid e Lisboa na Linha da Beira Alta). Depois de um ano de obras de recuperação, a Train Spot Guesthouse abria a hóspedes.

O objectivo, conta o casal, é que “as pessoas venham realmente dormir numa estação de comboios, com tudo o que isso implica num edifício centenário” e, por isso, mantiveram “o máximo de originalidade do espaço”. A antiga ala principal do restaurante, hoje sala de convívio e de refeições, ainda tem o tecto de madeira, o chão quadriculado e os azulejos de desenho geométrico verde e branco, a enorme lareira branca ou a inscrição “lavabos” sobre a zona de acesso ao primeiro andar, onde ficam os quartos, dispostos também na divisão original: quatro com WC privado, três com casa de banho partilhada. Além dos quartos, a guesthouse integra ainda dois antigos apartamentos dos funcionários da estação, a escassos metros de distância.

A decoração — “muito leve porque a casa em si já tem muitos elementos” — transmite o conceito que aqui querem aplicar: unir “o espírito ferroviário” com “o ambiente rural e com a cultura tradicional e popular de cá, que ainda é muito genuína”, contando ainda, em pormenores aqui e ali, a história da centenária estação, “onde muita coisa aconteceu”. “Se as nossas paredes falassem, com certeza que nos entreteriam muitas horas”, garantem, contando histórias de conspirações anti-regime e reuniões de espiões, do contrabando “para onde se tinha de virar a população no Inverno”, da passagem de judeus em fuga durante a II Guerra Mundial e da saída, em direcção contrária, de “muito volfrâmio para a Alemanha nazi”.

Foi durante o Estado Novo que nasceu o restaurante e a nova estação, saída das linhas arquitectónicas de Raul Lino e com painéis de azulejos de Jorge Colaço, durante as obras de expansão daquela que era a última paragem portuguesa antes da fronteira com Espanha e, por isso, importante posto fronteiriço e aduaneiro, como deixam antever as inscrições sobre as portas do edifício principal (para já encerrado a visitas ao interior). “A estação foi o que fez crescer a vila. Todos aqui trabalhavam, directa ou indirectamente”, contam. Agora, o casal quer trazer de novo os viajantes à estação de Marvão-Beirã. Mas também a população local, através de uma forte componente cultural aberta a todos. “Queremos mostrar que não é uma estação fantasma. Tem vida e outros apelativos.”

Nome
Train Spot Guesthouse
Local
Marvão, Beirã, Largo da Alfândega - Estação Ferroviária de Beirã/Marvão
Telefone
245992112
Website
http://www.trainspot.pt/
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