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Dormir na aldeia

Por Patrícia Carvalho ,

Silêncio e escuridão à noite, pássaros a cantar pela manhã. Adormecer aqui, nesta Casa dos Edras na Aldeia Nova de Miranda do Douro, é fácil e acordar também não custa muito.

Dormir na aldeia é assim. Este silêncio que nos envolve, sem sinal de um carro ao longe, sem música que sai da casa de um vizinho, sem ruído de conversas de quem fica até tarde na rua, como quem bebe mais um copo. Dormir na aldeia é deitarmo-nos com o negro silencioso lá de fora e acordarmos com o sol a espreitar por onde pode e o canto de pássaros que desconhecemos a embalar-nos antes de abrirmos os olhos. Fomos à Aldeia Nova e foi assim que dormimos. Só podíamos ter acordado bem-dispostas.

Ao contrário do que Luísa Granjo antecipara (“quando chegarem a Miranda do Douro, liguem, que eu dou indicações”), não foi nada difícil chegar à Aldeia Nova. O GPS funcionou como devia. Em Miranda subimos a rua íngreme que ele nos indicou, virámos sempre onde ele mandou e não tardou a que começassem a aparecer os sinais na estrada a indicar a Casa dos Edras. Sem que dêssemos por isso, já tínhamos cruzado quase toda a aldeia e estávamos à porta da casa de turismo rural.

Há uma porta de madeira, daquelas com portinhola superior que cria a ilusão de uma meia-porta, pintada de azul — como tantos outros elementos espalhados pelo espaço — e para lá dessa porta há um pequeno pátio e a campainha para entrarmos na casa que já foi dos bisavós de Luísa Granjo, 61 anos, e que ela e o marido, António Carlos Garcia, 63, decidiram abrir aos turistas.

A inauguração foi em Junho de 2013, pelo que, com menos de dois anos de existência, a Casa dos Edras ainda tem cara de nova, mesmo que a ventania que vai lá fora teime em revolver os tapetes colocados no exterior. Apesar de estar situada no meio da aldeia e de estar perfeitamente integrada na envolvente, a casa guarda, por dentro, poucos vestígios de uma habitação antiga e com poucas comodidades.

A culpa é de Marta, uma das duas filhas do casal, que é arquitecta e fez o projecto de recuperação da casa familiar. O resultado é um espaço luminoso, simples a acolhedor. É a partir do hall de entrada que se acede à maior parte dos quartos, ao cimo de uma escada, vigiada por uma clarabóia. Depois, pode escolher o caminho. Ou a corta-mato, por uma porta junto às escadas que leva a uma das duas salas da casa, ou seguindo pelo corredor, até à sala principal, onde uma lareira central convida a que nos sentemos no sofá colocado ao seu lado.

Por todo o lado há objectos que remetem para o passado — um tear, um móvel, instrumentos agrícolas pintados de azul e pendurados nas paredes —, mas o mobiliário que mãe e filha escolheram para a casa é moderno e funcional. Há revistas sobre uma mesa, mas há mais com que se entreter na sala mais pequena ao lado (a tal a que se acede directamente pela porta junto às escadas). Se não for com os jogos, pelo menos apreciando as antigas máquinas de fotografia, restos do negócio de família de António Carlos, que este guardou na casa nova-velha. As máquinas e várias fotos, algumas já bem antigas, sobre a região, que estão espalhadas por toda a casa.

Da sala espreita-se o terreno nas traseiras que, tal como acontece na frente da casa, está coberto de relva e convida a colocar toalhas no chão e deixar-se ficar ao sol a ler um livro ou tomar um refresco. Mas isso é se o sol for quente, e não este gelo tocado a vento que hoje está. Com tanto frio lá fora, o relvado parece um sonho longínquo e só apetece mesmo ficar junto à lareira, reconfortadas pelo chá que Luísa serve, acompanhado de bolachas.

Quando damos por isso, o sol já se pôs e é hora de fazer os sete quilómetros que nos separam de Miranda do Douro para ir jantar. Porque, por enquanto, ali na casa não se servem refeições além do pequeno-almoço. Luísa garante que é possível arranjar-se “qualquer coisa”, desde que seja pedido com antecedência, mas em terra de boa carne não queremos perder a oportunidade de experimentar a cozinha mirandesa e, afinal, não vamos a pé — apesar de o podermos fazer, já que há um caminho de terra que liga a Aldeia Nova a Miranda do Douro e que os turistas que ficam na Casa dos Edras gostam de percorrer, nos dias menos agrestes.

Em Miranda, o restaurante Capa d’Honras dá-nos a provar enchidos e posta, costela de porco bísaro e costelas de cabrito, acompanhados de batata a murro, grelos e uma salada rica. Queremos sopa para aquecer, um pudim para terminar e já não queremos mais nada porque não aguentamos. Queremos ir para casa e dormir.

Não nos cruzamos com um carro no caminho de regresso à aldeia. Aliás, durante o tempo que estamos na Aldeia Nova, não nos cruzamos com qualquer outro carro. O fogo não chegou a morrer na lareira e basta um pequeno incentivo para que volte a crepitar, enquanto tomamos um último chá para sossegar o estômago, depois do jantar generoso.

No quarto, simples, com uma cama confortável e um cobertor branco felpudo a fazer as vezes do calor do ar condicionado, que preferimos desligar (depois de o termos deixado durante o dia a aquecer o espaço), espreitamos pelo canto do olho o que passa nos quatro canais nacionais da televisão. Nem chegamos a ver o que oferecem os canais espanhóis. Minutos depois, com o televisor desligado, o silêncio e a escuridão são totais. Prometeram-nos (e hão-de cumprir) para amanhã um pequeno-almoço com pão e doce caseiro, bola doce e folar de carnes, ovo cozido, fruta, sumo de laranja, chá, leite e café. Por enquanto, o pequeno-almoço pode esperar. Estamos na aldeia, numa cama quente e sem nada que nos atrapalhe o sono. Por isso, antes que nos apercebamos, já está. Já estamos a dormir.

Nome
Casa dos Edras
Local
Miranda do Douro, Miranda do Douro, Rua Principal
Telefone
961039516
Website
http://www.casadosedras.pt/
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