Sim, é uma “casa da árvore”, ainda que um pouco diferente das que preenchem o imaginário infantil. Tanto que, então, chegamos, a ela atravessando um passadiço de madeira, varandins de metal e uma fila de luzes no chão que iluminam o caminho como se o destino fosse uma nave espacial. Esta é a imagem que não conseguimos esquecer, a do regresso do restaurante, depois de um jantar pródigo de sabores transmontanos. Até porque tudo em volta evoca mais doces exílios poéticos do que propriamente encontros imediatos do terceiro grau.
São 40 hectares de parque que se aninham sob copas frondosas de árvores, num silêncio quase total nesta noite de Primavera hesitante — só se escuta o vento, persistente como um caudal de água subterrâneo. E não será à toa que nos parece escutar água, onde apenas o ar se move. Já estamos condicionados pelo território, de nascentes afamadas — daqui houve, há, água Pedras Salgadas. E daqui há, agora, também um Spa & Nature Park no que já foi estância termal — ainda o é, na verdade, mas com um twist.
A nossa casa na árvore é um deles. Elas estão no imaginário infantil há décadas e décadas. Desde que descobrimos Mogli e Tarzan na selva, sem esquecer a dupla Tom Sawyer e Huckleberry Finn ou os companheiros de Peter Pan na Terra do Nunca. E de uma maneira ou de outra nunca deixamos de ser crianças quando o assunto são casas na árvore — quem não quis dormir numa que atire a primeira pedra.
A “nossa” não está em nenhuma árvore propriamente dita, está entre as árvores, alcandorando-se à sua altura. Mistura-se com elas, no seu corpo de madeira e lousa, mas quando a vemos de perfil é a forma de uma libélula que se revela: o passadiço é o longo corpo que se alarga na casa e se estreita nos olhos — e estes são uma parede de vidro, da largura de uma cama de casal que é precisamente o que ocupa o extremo da casa da árvore. E, já que passamos ao interior, aqui deitados temos diante de nós uma cortina de arvoredo — se tivéssemos tempo talvez pudéssemos ver um esquilo a passear-se de ramo em ramo — que se prolonga pelo tecto: uma outra janela sobre a cama abre-se, não para as estrelas, mas para copas de árvores já cheias de folhas.
É a cama o espaço central desta casa, o ponto de fuga irrecusável, uma espécie de púlpito em redor do qual tudo o resto se organiza. E o resto é um estúdio que podia ser um camarote de navio ou até uma roulotte XL na forma como nenhum espaço se perde: tudo é transformado e tudo encaixa como se de um puzzle se tratasse. E, assim, entre linhas modernas se desenha um sonho de crianças com todos os confortos de um hotel de quatro estrelas pouco habitual. Isto porque não há quartos, há casas. As da árvore (duas a caminho de três) e as eco-houses, 13, espalhadas, claro está, entre árvores: são casas modulares com disposições variáveis precisamente para se enquadrarem com o arvoredo que já existia. E se calhar esta podia ser, afinal, uma aldeia de duendes.
Na verdade, o Pedras Salgadas Spa & Nature Park abdicou do conceito de hotelaria convencional para proporcionar a experiência única de estar dentro da natureza rodeado de todos os luxos de um hotel de excelência. Os hotéis que se situavam dentro do parque termal foram demolidos — resta o Grande Hotel, que é como um fantasma branco, entaipado, à espera da sua sentença. Isto porque não se ajusta ao novo conceito das Pedras Salgadas como uma espécie de eco-resort.
- Nome
- Pedras Salgadas Spa & Nature Park
- Local
- Vila Pouca de Aguiar, Bornes de Aguiar, Parque Pedras Salgadas
- Telefone
- 259 437 140
- Website
- www.pedrassalgadaspark.com