Fugas - hotéis

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Uma quinta no sopé da Falperra

Por Ana Cristina Pereira ,

A Quinta das Pedras de Baixo esteve para dar origem a dois projectos de agro-turismo mas acabou por dar só a um. Esta quinta também musical por terras de Guimarães, oferece alojamento rural e tem mais planos para outras propostas.

Era o berço da família. A família estava ali há séculos. O avô foi o último a dedicar-se por inteiro à Quinta das Pedras, na freguesia de Longos, lado rural de Guimarães. Os netos ainda o recordam como um homem “austero, duro, agarrado”, que “fazia uma gestão próxima, apertada”.

O pai, engenheiro, nunca se ligou muito àquele lugar. “Andava muito por fora”, diz Fernando Cardoso. A passagem fez-se do avô para um dos quatro irmãos: Manuel, nutricionista de formação, professor de profissão, que, como os outros, deixou de morar ali, teve filhos fora dali, mas manteve-se sempre por perto e foi “mantendo o património da família debaixo de olho”.

Quando fizeram as partilhas, Fernando, o filho arquitecto, que que há muito dava aulas de educação visual em Braga, pensou em mudar de vida. “Foi recuperar a quinta para turismo que me entusiasmou e me fez regressar às origens. Estava tudo a cair. Deixo cair? Faço qualquer coisa? O que faço?”

Ditou a sorte que Fernando e Manuel ficassem ligados. A Manuel coube o núcleo principal, onde ele e os irmãos nasceram e cresceram. E a Fernando coube o que estava mesmo ao lado, as cortes dos animais e a casa do caseiro, que ainda ali morava com a mulher, apesar da muita idade.

Pensaram em desenvolver projectos de agro-turismo que não se confundissem. Manuel apoiar-se-ia na ideia de quinta do Baixo Minho com as suas valências tradicionais, como o alambique e o moinho. E Fernando no conceito de música popular, já que tanto aprecia o cavaquinho e a concertina.

Só o projecto de Fernando recebeu apoios comunitários, por isso, apenas ele avançou de imediato para a transformação do lugar. O irmão iniciou o trabalho de restauro depois, sem pressão, com vagar, primeiro um bocado para ele e a mulher, depois um bocado para o filho e, por fim, outro para a filha.

Há a Quinta das Pedras de Cima, reservada à família, e a Quinta das Pedras de Baixo, aberta ao agroturismo.

Não está tudo como Fernando idealizou. “O cavaquinho é daqui, de Braga, de Guimarães, de Vila Verde”, explica, mostrando vários exemplares que ali tem. “Cheguei a ter um em cada quarto, mas os hóspedes perguntavam-me o que era aquilo. Aquilo estava lá para eles ficarem curiosos, para eles tocarem, mas acabei por tirá-los porque vi que achavam estranho.” Mantém-nos na sala-de-estar na zona de betão.

Não, não se limitou a recuperar a casa do caseiro e as cortes dos animais. Queria usar a área habitacional, o piso por cima das antigas lojas, para viver. E o resto para fazer a recepção, uma zona de refeições-jogos-biblioteca e três quartos. “Tinha de potenciar o alojamento e a única maneira era acrescentar”, diz. Construiu um edifício novo, no alinhamento do antigo, desviado apenas uns metros.

Não quis que se confundisse o edifício antigo com o novo. “Estão em ruptura, mas dialogam um com o outro”, salienta. “O betão [a vista] tem a ver com a pedra [usada nas paredes do velho edifício]. E a ferragem tem a ver com madeira [que se manteve nas caixilharias].” São outros três quartos, com uma cozinha e uma sala de estar-jantar, que podem ser alugados no conjunto.

As portas da Quinta Pedras de Baixo não estão abertas só ao alojamento. Fernando está aposentado e a mulher, Augusta, que foi professora do primeiro ciclo, também. No ano passado, organizaram uma desfolhada, uma pisada de uvas. Não lhes falta planos, agora que a família se está a instalar ali.

Aquele lugar já foi uma azáfama. Quando Fernando e Manuel eram miúdos, havia dois ou três trabalhadores permanentes. Grande parte da propriedade estava entregue a caseiros, que pagavam rendas em vinho, milho, centeio, batata. A família ficava-se pela chamada reserva. Agora, ouve-se máquinas num terreno vizinho a fazer fardos de palha para os animais e é uma alegria.

Fernando gosta de olhar para trás, para as suas raízes. Consegue ir até ao século XVIII. De nenhum antepassado parece orgulhar-se tanto como de Manuel Dias da Silva. “Esse foi ilustre”, explica. “Fez o liceu em Braga. Andou a estudar no seminário.” Seguiu vida académica. “Foi professor catedrático em Coimbra. Fez dois mandatos como presidente da câmara de Coimbra.” Lembra-se de que, quando era miúdo, havia no sótão “uma biblioteca fabulosa”, com livros e até pergaminhos. “Quando fizeram obras na quinta, queimaram tudo. Foram dias e dias a queimar livros.”

Não diz Hermann Hesse, no livro “Uma Viagem ao País da Manhã”, que o nosso caminho é sempre para casa? Esta está situada em Longos, mais perto do centro de Braga do que do centro de Guimarães. E, instalada no sopé da Quinta da Falperra, pode ser um bom ponto de partida para explorar o Minho, a começar pela Citânia de Briteiros, sítio arqueológico da Idade do Ferro, no alto do monte de São Romão, na freguesia de Salvador de Briteiros, a poucos minutos dali

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O que fazer
Situada no sopé da Quinta da Falperra, a Quinta Pedras de Baixo fica a cinco quilómetros da aldeia termal de Caldas das Taipas, a outros tantos da Citânia de Briteiros, a oito da cidade de Braga, a mais religiosa do país, e a 12 do centro histórico de Guimarães, classificado como Património da Humanidade.

Preços: quartos no bloco de pedra a 55€ (preço por quarto duplo com possibilidade de cama extra e pequeno-almoço incluído); quartos no bloco de betão a 150€ (preço pelos três quatros duplos, com acesso a cozinha e sala e com pequeno almoço incluído).

Nome
Quinta das Pedras de Baixo
Local
Guimarães, Longos, Rua de Santa Marta, 3262
Telefone
919375011
Website
http://www.pedrasdebaixo.pt/
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