Da janela do meu quarto vejo a Sé. Dali, ela é alta, isolada, como se pairasse sobre toda a cidade, de guarda, com o casario do centro histórico do Porto aos seus pés. E dos postigos do meu quarto vejo, de um lado, o topo da Estação de São Bento, com o relógio em evidência, e, do outro, a Igreja de São Francisco. Lá em baixo, está a rua. A Rua das Flores, com cafés, mercearias, restaurantes, alfarrabistas, museus e igrejas. E até podia descer e misturar-me com as pessoas que por ali andam, mas o meu quarto não é só um quarto, é um pequeno apartamento num hotel, com sala e uma varanda apetecível, à hora que se aproxima o pôr do sol. Ali, na varanda, de um lado, lá está, de novo, a Sé, e do outro a Torre dos Clérigos. Fico antes por aqui, que a rua não se vai embora.
É difícil não ficarmos imediatamente apaixonados pelos quartos e apartamentos do Flores Village Hotel e Spa, recentemente eleito como Luxury Hotel & Spa of the Year 2016 pela publicação internacional Luxury Travel Guide. Mais ainda se o nosso quarto é no último piso e temos uma das melhores vistas do edifício, voltada para a rua. Do outro lado, a rainha da vista que se vê das janelas é a Torre dos Clérigos e o jardim que liga esta parte do complexo hoteleiro à unidade inaugurada já em 2011, o Victoria Village. Os dois espaços — a casa senhorial, voltada para as Flores e as antigas cavalariças, com frente para a Rua da Victória, onde está instalado o Victoria Village — voltaram a unir-se, depois de terem passado um período separadas, quando um dos proprietários decidiu dividir a propriedade entre os dois filhos.
Hoje, a Casa dos Constantinos, que fora reconstruída em finais do século XVIII, está, de novo, em pleno funcionamento, com recantos que dificilmente se adivinham da rua, e fazendo as delícias de quem procura um alojamento tranquilo e requintado no coração da cidade velha. Porque é de requinte que falamos, quando pensamos nos móveis espalhados pelo nosso apartamento, nas flores frescas, a garrafa de vinho do Porto sobre a mesa, a televisão que não descortinamos à primeira vista porque, desligada, parece apenas um espelho.
Ao final da tarde chegam vários novos hóspedes, a quem o pessoal da recepção dá explicações detalhadas sobre tudo o que possam querer saber sobre o hotel e a cidade. O Village está cheio, reflectindo bem o que foi o ano de 2015, quando teve uma taxa de ocupação na ordem dos 92%, como revela o seu director, Bernardo Sampaio. No último piso está o apartamento com um quarto destinado à Fugas e o apelo irrecusável da varanda. Só apetece fechar os olhos e voltar o rosto para sol, esquecermo-nos que ainda não vimos quase nada do hotel e que há compromissos marcados. Como experimentar o spa e fazer uma massagem relaxante.
Com pena, é hora de deixar o quarto, mas a breve passagem pelo jardim, com apontamentos da velha casa burguesa, como a fonte, e as várias árvores de fruto, reconforta-nos. No ginásio, três miúdas inglesas dão uso às bicicletas e à elíptica, depois de um dia que garantem ter sido muito bem passado, a percorrer a cidade. Há risos que saem do banho romano, instalado na antiga adega da casa, e uma mulher aproveita o banho turco. É hora da massagem.
O som da água que acompanha os movimentos das mãos da massagista recorda-nos a chuva incessante dos últimos dias e quão bom é que o sol tenha regressado. E, passado uns minutos, já não recorda mesmo nada — só a calmaria que todo o espaço oferece, à medida que o corpo se vai esquecendo de cansaços e stresses. Afinal, foi boa ideia deixar o quarto, descer um piso, ver o que mais havia ali para nos oferecer.
Mas é bom — confessamos, é muito bom — regressarmos ao pequeno apartamento, com o corpo envolvido no roupão que nos é oferecido, e esquecermos horários no sofá escuro da sala que, por hoje, é só nossa.
Mesmo que nunca tenham posto os pés na portuense Rua dos Flores, muitos portugueses conhecem a fachada do Flores Village, com os seus azulejos azuis e brancos. E a montra de um espaço, por enquanto desocupado, pode bem ser dos espaços mais fotografados da unidade hoteleira. É que ali, na vidraça, está escrito o nome Sirga, o restaurante que é um dos cenários de uma das telenovelas que estão actualmente no ar. A produção escolheu a fachada do hotel para dar a cara ao restaurante que, na realidade, só existe nos estúdios onde se realizam as filmagens, mas os funcionários do Flores Village já se habituaram a atender pedidos de quem procura fazer uma marcação no restaurante fictício.
Bernardo Sampaio diz que quem tem vontade de comer por ali só tem de esperar um pouco mais. No segundo semestre deste ano, se tudo correr como previsto, a montra que hoje tem Sirga escrito no vidro deverá ser a montra de um restaurante real, com outro nome, que vai nascer ali. Mais uma valência a oferecer aos hóspedes, que contarão ainda com uma joalharia — loja tão característica da história da Rua das Flores — que deverá nascer na outra loja vaga do edifício. Mais tarde, os planos do hotel passam também por construir uma piscina, num terreno adjacente à propriedade original e que já foi comprado pelos actuais donos.
Por enquanto, contudo, comer no hotel só mesmo na bela sala de pequeno-almoço, que foi completamente restaurada ao seu esplendor original. Os tectos de estuque pintados com paisagens, frutos, flores e borboletas, envolvidos por um rendilhado delicado, podem prender por largos minutos a atenção de quem vai saboreando as várias delícias matinais. Incluindo os doces de barrar e os bolos caseiros feitos pela dona Isabel (o doce de abóbora é divinal).
As mesas estão repletas e fala-se em várias línguas — 90% dos ocupantes do Village são estrangeiros, revelara o director. Comemos devagar, gozando os últimos instantes de uma vida mais relaxada e luxuosa do que é habitual. Percorremos pela última vez a bela escadaria da casa senhorial — a original, recuperada durante a reabilitação da casa. É hora de ir embora. Já temos saudades. A Rua das Flores podia ser a nossa casa.
Informações
Preços
O hotel oferece 20 alojamentos, entre quartos duplos e apartamentos (há mais 14 no Victoria Village, do outro lado do jardim), com os preços a variar entre os 180 (quarto duplo) e os 360 euros (apartamento T2 Deluxe). O valor a pagar por uma noite no Flores Village inclui pequeno-almoço e acesso livre às áreas de bem-estar do espaço: ginásio, sauna, hammam e o banho romano, instalado no antigo lagar privado da casa. Já para usufruir dos tratamentos disponíveis no spa da unidade hoteleira, há preços definidos, mas que, com sorte, podem ser muito cortados, fruto dos descontos oferecidos. Assim, uma massagem de relaxamento de cerca de uma hora pode aparecer taxada a 90 euros, mas é possível que acabe por pagar cerca de metade.
Como ir
No coração do centro histórico do Porto, o Flores Village não podia ser de mais fácil acesso. A estação ferroviária de São Bento fica a meia dúzia de metros, assim como a estação de metro com o mesmo nome. Ao cimo da Rua das Flores, sob a Praça das Cardosas, há também um parque de estacionamento, para quem prefere deslocar-se de carro. Dito isto, a Rua das Flores é pedonal e, apesar de ter vários cafés e restaurantes, não foi ainda tomada pelos bares, que acabam por tornar algumas ruas da cidade demasiado barulhentas durante a noite. Ali, depois de o sol se pôr, o silêncio é quase total.
Onde comer
Os funcionários do Flores Village estão mais do que disponíveis para dar todas as indicações que qualquer hóspede pretenda saber. O que visitar. Onde ver uma exposição ou ouvir um concerto. O melhor local para fazer compras. Onde comer. E, aqui, não faltam alternativas bem perto do hotel. Para a Fugas, o Village escolheu o Cantina 32, ali mesmo, na Rua das Flores. Apenas uma palavra: sigam os conselhos deles, não se vão arrepender.
A Fugas esteve alojada a convite do Flores Villlage Hotel e Spa
- Nome
- Flores Village Hotel e Spa
- Local
- Porto, Sé, Rua das Flores, 139
- Telefone
- 222013478
- Website
- www.floresvillage.com