Quando chegámos a noite já caíra e o escuro não permitia escrutinar bem o que nos aguardava. Cruzámos o portão automático e uma placa informava: Monte do Ramalho a 1,8 quilómetros. Já estávamos dentro da herdade, vedada, mas ainda teríamos de percorrer quase dois quilómetros para chegar ao destino. Afastamos, por isso, qualquer dúvida sobre a grandiosidade da propriedade, que soubemos mais tarde contar com mais de mil hectares. Trocado por miúdos, estamos a falar de uma área equivalente a mil campos de futebol.
O asfalto ficara à entrada e à nossa frente vislumbrava-se apenas uma estrada de terra em linha recta, com oliveiras dos dois lados. Estas árvores foram uma constante ao longo de todo o percurso, que fizemos bamboleando entre os altos e baixos do caminho.
À entrada do monte o nosso anfitrião aguardava-nos num carrinho de golfe, no qual nos indicou a Casa da Giesta. Brad e Jolie, dois dos cães da propriedade, receberam-nos de forma bem audível, mas com provas de que nos toleravam no seu território. Apesar da escuridão, o que vimos transpirou logo a um típico monte alentejano. A nossa casa, a Giesta, era a última do edifício rectangular comprido, que alberga as três habitações dedicadas ao turismo. O cenário condiz com a imagem de marca do Alentejo (estamos em Vale do Freixo, concelho de Sousel, distrito de Portalegre): as casas caiadas de branco com uma risca azul na parede e outras à volta das janelas e das portas.
A porta de madeira e a respectiva chave, que o proprietário faz questão que seja a de origem, transporta-nos para a idade do monte: 1830. “Começou por ser o monte principal da Herdade do Ramalho até aos anos 30, época em que foi substituído pela actual casa de família, construída a cerca de 300 metros. A partir daí o monte passou a ser conhecido entre os habitantes locais como monte velho ou dos forrageais (por estar situado na zona onde preferencialmente se produziam forragens) e tornou-se guarita de várias gerações de trabalhadores agrícolas que por lá passaram”, explica-se no site da herdade.
Tal não significa, contudo, que as casas estejam privadas de comodidades. Muitas foram as melhorias introduzidas ao longo dos anos, mantendo-se a traça original do edifício. Abrimos a porta da Giesta e percebemos logo isso mesmo. A lareira está acesa e cheira a lenha. Um tronco largo arde lentamente. Só se dará por derrotado na manhã seguinte, quando ficar reduzido a cinzas. O fumo é escoado por uma chaminé gigantesca (proporcionalmente ao tamanho da sala), por baixo dela cabe uma bonita cadeira de baloiço, onde mais tarde nos sentaremos a apreciar o fogo. O calor cai muito bem numa noite fria de Primavera.
A sala é pequena, mas acolhedora. Da decoração rústica sobressai uma colecção de ferros de engomar e outra de chocalhos, colocadas numa pequena estante, onde fazem parelha com objectos bem mais modernos. Referimo-nos a uma pequena televisão e a um sistema que nos permite ter Internet Wi-fi, apesar de estarmos em pleno interior profundo. Na sala há ainda uma pequena kitchenette, onde encontramos o básico para preparar uma refeição.
O quarto é ex-líbris da Giesta. Salta logo à vista a grande cama, com uma cortina mosquiteira e uma original cabeceira feita com umas portadas de madeiras pintadas de branco e cor-de-laranja. A decoração tem alguns detalhes desconcertantes, como uma cadeira suspensa na parede, que acabamos por concluir ser óptima para pendurar roupa.
Um monte ou uma ilha?
O sol da manhã permite-nos apreciar o esplendor do cenário que nos rodeia. Por momentos pensamos que estamos numa espécie de ilha: um monte alentejano rodeado de olival por todos os lados. São mil hectares de olival intensivo, explorados por uma empresa espanhola que já detém a maior parte da herdade.
Não espere, por isso, um horizonte em tons de amarelo, pintalgado por um ou outro sobreiro. Esse Alentejo não mora aqui. Mas este outro convive muito bem com o dolce far niente, como tivemos oportunidade de confirmar estendidos numa espreguiçadeira no terraço em frente à casa. Foi aí que tomámos o pequeno-almoço, com os ingredientes que nos deixaram na véspera: pão saloio, um delicioso queijo regional, fiambre, sumo de laranja e um iogurte, que trocámos pelo leite.
O dia apresentou-se soalheiro, mas a temperatura ainda não convidava a banhos. Por isso, ficámo-nos por uma visita à piscina biológica. Tal significa que a água é isenta de produtos químicos. Na zona central tomam-se os banhos e na zona periférica, delimitada por uma vedação em madeira, encontram-se diversas plantas aquáticas que assumem a filtragem e a purificação da água. No Verão, são colocados sofás, poltronas, camas de rede e espreguiçadeiras nas suas imediações, num convite explícito ao ócio.
Para os mais energéticos há outras opções. Não falta espaço para caminhar ou, se preferir, explorar de bicicleta. Na sala de convívio há um snooker e na sala de jogos matraquilhos e ténis de mesa. Pode ainda optar por observar os animais da quinta: uma burra e uma cria, dois cavalos, três cabras, dois veados, um bode, gansos, patos, galinhas. E não estranhe se ouvir chamar pelo Obama. É que nesta herdade até os animais têm direito a nome próprio, incluindo o bode Obama.
- Nome
- Monte do Ramalho
- Local
- Sousel, Casa Branca, Estrada Municipal 508
- Telefone
- 929120997
- Website
- http://www.montedoramalho.com/pt/