Fugas - hotéis

  • Martin Henrik
  • Martin Henrik
  • Martin Henrik
  • Martin Henrik
  • Martin Henrik
  • Martin Henrik
  • Martin Henrik
  • Martin Henrik
  • Martin Henrik
  • Martin Henrik
  • Martin Henrik
  • Martin Henrik
  • Martin Henrik

Nesta Maison do Porto, o segredo está nos detalhes

Por Patrícia Carvalho ,

De visita a um amigo requintado e viajado. É assim que nos sentimos quando passamos uma noite na M. Maison Particulière. São dez suítes únicas num edifício restaurado do século XVI.

Tocamos à campainha e esperamos que nos abram a porta. O prédio, de um vermelho intenso, fica mesmo no início do Largo de São Domingos, colado à Rua das Flores, no Porto, e não passa despercebido, a menos que se vá mesmo muito distraído. As duas estátuas que, de lá de dentro, nos saúdam, chamam-nos a atenção, mas assim que entramos há muitos mais pormenores em que reparar e quase nos esquecemos delas.

Há uma lareira, guardada por dois pequenos macacos negros, há um bar bem arrumado, onde os hóspedes se podem servir, pagando o consumo no final da estadia, há cadeirões confortáveis de tecidos trabalhados, em tons de vermelho-laranja, há uma mesa de madeira, lá ao fundo, onde Sara faz o check-out de um casal, e há um sofá castanho, que dita, mais do que tudo o resto, o tom do espaço.

Ficamos a olhá-lo, a pensar que é uma peça com história. Não tem um ar velho. Está bem tratado, tem um aspecto confortável, mas também não é novo. Percebe-se que é antigo, que já teve outra vida. Marco Leite de Faria, proprietário, com a mãe, do M. Maison Particulière, desvenda o mistério: “Foi comprado no Marché aux Puces [Mercado das Pulgas], em Paris”, conta.

É assim todo o edifício do século XVI e as peças que o povoam. Uma mistura de novo e antigo, de artigos que contam histórias, mesmo sem falarem, de ambientes que nos transportam para diferentes cantos do mundo. A verdade é que nos sentimos em casa de um amigo rico, requintado e viajado. Não num hotel. Nunca num hotel.

E a M. Maison Particulière (O M. no início é uma referência ao nome de Marco) não é um hotel. Está registada como Alojamento Local, mas também não é bem isso. Nem uma guesthouse (“não nos chame guesthouse”, pede Marco). O que é, então? “Um local onde os hóspedes pagam por uma experiência, com um serviço 5 estrelas, mas num ambiente mais relaxado”, define o proprietário. Aceitamos, pode ser isso. 

Peças de família e antiguidades

O projecto começou a nascer em 2011, quando um amigo apresentou a Marco Leite de Faria o prédio que tinha comprado no centro histórico do Porto. Ele, que sempre trabalhara na hotelaria, confessa que não se tinha imaginado ainda a lançar-se num negócio por conta própria, mas o edifício antigo, cujo interior foi preciso refazer por completo, tentou-o. Falou com a mãe, perguntou-lhe o que achava. Depois, o trabalho começou. 

Marco formara-se na Suíça e trabalhara em hotéis em vários países — Espanha, França, Mónaco, Suíça, Brasil e Arábia Saudita — antes de regressar a Portugal e ajudar à instalação do Hotel Intercontinental no Porto. Conhecia bem o meio, sabia o que queria oferecer. No prédio do Largo de São Domingos, levantaram-se as madeiras originais, para tratamento e uso posterior, fez-se uma cópia de um belo tecto em estuque que estava no 2.º piso e colocou-se a nova versão na recepção, preservou-se o tecto em madeira que encontra na suíte do 1.º piso, voltado para a rua. De rés-do-chão e quatro pisos, a casa cresceu mais um. O painel de azulejos — lindíssimo, enorme, a acompanhar de alto a baixo uma parede nas traseiras do prédio — foi limpo de toda a vegetação que o cobria e faz agora as delícias de quem escolhe um dos quartos das traseiras.

A mãe de Marco e sua sócia no projecto, Maria Irene Schultze, foi a responsável pela decoração. E a busca pelo ambiente ideal para cada quarto levou-a bem longe. Há algumas peças de família, diz Marco, mas poucas. O resto foi comprado em mercados na França e na Antuérpia (Bélgica), em casas de antiguidades em Lisboa ou onde quer que se encontrasse um acessório que vinha mesmo a jeito. Há um quarto com um quadro com notas da China e decoração oriental, contributo de outro membro da família. E a filha de Marco deu a ideia para identificar as casas-de-banho entre a recepção e a sala de pequeno-almoço: uma gravata pendurada no puxador indica a dos homens, alguns colares na porta em frente dizem que ali é o espaço dedicado às mulheres. 

Espreitamos alguns dos quartos que estão vagos e, se tivéssemos que escolher, não sabemos qual queríamos. As cores são tentadoras, as cabeceiras de cama, altas e forradas a tecido, chamam para o descanso, as cabines de chuveiro, nos seus mármores de cores diferentes, convidam a um duche demorado. Felizmente, escolheram por nós e colocam-nos no quarto do último piso. “A decoração é um pouco masculina”, desculpa-se Marco e percebe-se o que quer dizer — há raquetes penduradas nas paredes, remos na casa-de-banho, quadros com gravuras de barcos junto à cama e outros que parecem uma colecção de cromos (de críquete?, será?) mas há também vermelho quente nas portas e muitos livros num móvel baixo. E há uma varanda voltada para a praça, para a Sé, para o casario velho do Porto. É uma vista que não cessa de nos encantar, e sabemos que foi por isso que escolheram este quarto para nós. Que se abram as portadas para repousarmos um pouco, braços pousados na varanda, e o topo da Igreja da Misericórdia, com a sua enorme coroa em pedra, subitamente ali ao lado, à altura dos nossos olhos.

Já estamos conquistados e ainda não dormimos. Ainda não experimentamos alguns dos pormenores que Marco referira com tanto orgulho — os colchões altos e confortáveis da Colunex, os toalhões de banho feitos à medida do mercado norte-americano e que, por isso, são enormes, e tão, tão macios… Os produtos de banho da Castelbel, o pequeno-almoço servido à la carte em peças de diferentes serviços da Vista Alegre. Havemos de experimentar tudo e continuar conquistados. Podíamos ficar enrolados naquele toalhão durante horas, essa é que é a verdade.

No Verão há-de ser melhor 

Mas, lá diz o ditado, não pode ser, e por isso o melhor mesmo é dormir. E como se dorme bem. O isolamento sonoro é muito próximo da perfeição (durante o dia, a música que tocam na rua lá em baixo só se ouve se as portadas estiverem abertas) e os colchões estão à altura dos elogios que Marco lhes fizera. 

Na manhã seguinte, a pequena sala de pequeno-almoço espera por nós. O conceito também é muito pessoal — uma mesa “comunitária”, com seis cadeirões, que os hóspedes podem usar, se não quiserem tomar o pequeno-almoço no quarto, o que também é possível. Para evitar congestionamentos, é previamente combinada a hora mais adequada a cada um e o que preferirá comer.

Temos a mesa escura, cercada por uma parede pintada com largas listas coloridas, a imitar papel de parede, só para nós. E por ali vai desfilando fruta, diferentes pães, granola com iogurte, ovos mexidos com bacon, café e leite. Há queijos em que não tocamos, compota e manteiga. A sala é aconchegada e sem vista para o exterior. Um espaço calmo, totalmente centrado na grande mesa castanha e nas coisas boas que vão saindo directamente da cozinha para ali.

Mas, com o calor a aproximar-se, e se não tiver à sua disposição um quarto com espaço exterior (há pelo menos mais dois, voltados para as traseiras, com pequenos recantos fora de portas), suba até ao 4.º piso e abra a porta ao fundo do corredor. Vai descobrir um pequeno rectângulo relvado, com uma fonte de azulejo, mesas e cadeiras. Que bem se deve estar ali, nos fins de tarde de Verão, com uma bebida e os gatos da vizinhança a espreitarem-nos dos muros em pedra do casario em volta. É deixá-lo chegar, ao Verão, e logo vêem. 

Informações

Alojamento: A M. Maison Particulière tem dez suítes para oferecer aos seus hóspedes. As cinco voltadas para a Rua das Flores e o Largo de São Domingos são um pouco maiores (entre 42 e 47 metros quadrados) do que as cinco voltadas para o interior (entre os 23 e os 27 metros quadrados), mas as medidas são generosas em qualquer dos casos. Não há dois espaços iguais, pelo que, na hora de escolher, percorra virtualmente cada um deles e escolha o que mais lhe agrada.

Preços: Os preços variam, à semana, entre os 205 e os 345 euros e, ao fim-de-semana, entre os 255 e os 395 euros. As tarifas são por ocupação dupla e incluem pequeno-almoço. Os quartos do último piso são um pouco mais quentes do que os restantes, mas estão equipados com ar condicionado, por isso, se não quiser mesmo perder a melhor vista do edifício, pode querer optar por eles (escolha o da frente, para a vista).

A Fugas esteve alojada a convite da M. Maison Particulière  
 

Nome
M. Maison Particulière
Local
Porto, São Nicolau, Largo de São Domingos, 66
Telefone
227661400
Website
http://www.m-porto.com/
--%>