Tocamos à campainha e esperamos que nos abram a porta. O prédio, de um vermelho intenso, fica mesmo no início do Largo de São Domingos, colado à Rua das Flores, no Porto, e não passa despercebido, a menos que se vá mesmo muito distraído. As duas estátuas que, de lá de dentro, nos saúdam, chamam-nos a atenção, mas assim que entramos há muitos mais pormenores em que reparar e quase nos esquecemos delas.
Há uma lareira, guardada por dois pequenos macacos negros, há um bar bem arrumado, onde os hóspedes se podem servir, pagando o consumo no final da estadia, há cadeirões confortáveis de tecidos trabalhados, em tons de vermelho-laranja, há uma mesa de madeira, lá ao fundo, onde Sara faz o check-out de um casal, e há um sofá castanho, que dita, mais do que tudo o resto, o tom do espaço.
Ficamos a olhá-lo, a pensar que é uma peça com história. Não tem um ar velho. Está bem tratado, tem um aspecto confortável, mas também não é novo. Percebe-se que é antigo, que já teve outra vida. Marco Leite de Faria, proprietário, com a mãe, do M. Maison Particulière, desvenda o mistério: “Foi comprado no Marché aux Puces [Mercado das Pulgas], em Paris”, conta.
É assim todo o edifício do século XVI e as peças que o povoam. Uma mistura de novo e antigo, de artigos que contam histórias, mesmo sem falarem, de ambientes que nos transportam para diferentes cantos do mundo. A verdade é que nos sentimos em casa de um amigo rico, requintado e viajado. Não num hotel. Nunca num hotel.
E a M. Maison Particulière (O M. no início é uma referência ao nome de Marco) não é um hotel. Está registada como Alojamento Local, mas também não é bem isso. Nem uma guesthouse (“não nos chame guesthouse”, pede Marco). O que é, então? “Um local onde os hóspedes pagam por uma experiência, com um serviço 5 estrelas, mas num ambiente mais relaxado”, define o proprietário. Aceitamos, pode ser isso.
Peças de família e antiguidades
O projecto começou a nascer em 2011, quando um amigo apresentou a Marco Leite de Faria o prédio que tinha comprado no centro histórico do Porto. Ele, que sempre trabalhara na hotelaria, confessa que não se tinha imaginado ainda a lançar-se num negócio por conta própria, mas o edifício antigo, cujo interior foi preciso refazer por completo, tentou-o. Falou com a mãe, perguntou-lhe o que achava. Depois, o trabalho começou.
Marco formara-se na Suíça e trabalhara em hotéis em vários países — Espanha, França, Mónaco, Suíça, Brasil e Arábia Saudita — antes de regressar a Portugal e ajudar à instalação do Hotel Intercontinental no Porto. Conhecia bem o meio, sabia o que queria oferecer. No prédio do Largo de São Domingos, levantaram-se as madeiras originais, para tratamento e uso posterior, fez-se uma cópia de um belo tecto em estuque que estava no 2.º piso e colocou-se a nova versão na recepção, preservou-se o tecto em madeira que encontra na suíte do 1.º piso, voltado para a rua. De rés-do-chão e quatro pisos, a casa cresceu mais um. O painel de azulejos — lindíssimo, enorme, a acompanhar de alto a baixo uma parede nas traseiras do prédio — foi limpo de toda a vegetação que o cobria e faz agora as delícias de quem escolhe um dos quartos das traseiras.
- Nome
- M. Maison Particulière
- Local
- Porto, São Nicolau, Largo de São Domingos, 66
- Telefone
- 227661400
- Website
- http://www.m-porto.com/