Fugas - hotéis

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Aqui ainda se sentem os passos de Zé do Telhado

Por Patrícia Carvalho ,

Quatro casas de aldeia foram reabilitadas para receber quem chega, com o conforto simples de um espaço sem luxo, mas muito cómodo. O famoso bandido do século XIX andou por aqui e ainda há memórias da sua presença, entre o verde dos campos em redor.

José tinha-nos dito e não mentiu. “Não vão ter neve para fazer esqui, mas, quando acordarem, vão ver tudo branquinho.” O quarto da Casa do Beiral ainda está quente (bem quente) do calor que a lareira do piso inferior leva a todas as divisões, mas assim que o estore é levantado os campos aparecem, a brilhar de branco, com a relva escondida sob a geada desta manhã fria de domingo. Estamos nas Casas do Telhado, por onde andou o famoso salteador português Zé do Telhado, e o Porto está a menos de meia hora de carro, mas podia estar a dias de distância, tal é a tranquilidade. E é isso mesmo que José quer que os hóspedes sintam.

Aos poucos, José Cunha e a esposa, Susana, têm comprado e recuperado os terrenos em torno do que era já a casa dos pais dele. A quinta cresceu, os campos tornaram-se maiores e os edifícios acumularam-se. A casa onde, conta, viveu o Zé do Telhado — ou melhor, José Teixeira da Silva, do lugar do Telhado — é agora a casa da família, ao cimo da propriedade. Mas, noutra ponta, para lá do campo de ténis e de voleibol, semi-escondida por silvas, está uma outra construção em ruínas, que o salteador, conhecido como o Robin dos Bosques português, terá usado como esconderijo. Entre estes dois extremos estão as quatro casas que a família reabilitou para receber hóspedes.

Decoradas com simplicidade, mantendo as paredes de pedra e equipadas com tudo o que é essencial para passar uns dias ali refugiado, as quatro casas (uma T2, uma T2+1 e duas T3) ostentam os nomes que são também uma memória daquilo que já foram: há a do Lagar e a do Caseiro, a do Fumeiro e aquela onde ficamos, a do Beiral. 

Somos recebidos pela lareira acolhedora e por quartos funcionais com mantas quentes, que levamos do piso superior para o sofá do rés-do-chão (só porque sim), bem pertinho do fogo que crepita atrás do vidro. As casas são novas (quase a estrear, só receberam os primeiros hóspedes no fim do ano) e ainda há ajustes de última hora a fazer — a chave da nossa casa só tranca por fora e temos que avisar Adriano, o responsável pela manutenção, que se esqueceu de deixar o gel de banho —, mas bastam uns minutos de sossego no seu interior para se perceber aquilo que José nos dissera ainda há pouco. Que quis criar espaços onde as pessoas “se sintam em casa”, um espaço “de bem-estar”, com todos os requisitos básico e um nível “standard-alto”. “Somos um espaço um bocadinho low-profile, mas de bem-estar, onde ninguém chateia ninguém. Queremos que as pessoas venham para aqui e se sintam felizes, a viver bem. Que façam o que fazemos quando para aqui vimos: relaxar e divertir-nos com os amigos, sentirmo-nos bem”, diz o proprietário.

Uma volta pelas casas, com o sol a preparar-se para desaparecer não tarda, faz-nos ter saudades da nossa lareira, mas também desejar estar por aqui numa altura em que o Inverno já se tenha ido embora e em que possamos usufruir de outras ofertas bem mais dirigidas ao Verão. Como a piscina, rodeada de uma generosa área verde, onde deve saber muito bem mergulhar entre banhos de sol. Ou, então, retirar as mesas de madeira penduradas nas paredes exteriores, colocar os bancos corridos a jeito, deixarmo-nos ficar no exterior, a gozar uma refeição prolongada — talvez nos aventuremos no famoso arroz do forno da zona (afinal, temos um forno para isso) ou dêmos vida à churrasqueira — aquecidos pelo sol. 

Mas é Inverno e está mesmo frio, pelo que estes desejos terão que ficar adiados. O melhor, pelo resto do dia, é não fazer nada. Recolher à casa aquecida, fazer um chá, ler um livro ou ligar o televisor e deixar que a preguiça se instale. Amanhã, pela manhã, quando a geada cobrir os campos, vamos caminhar por ali, entre as vinhas que, daqui a uns meses, vão estar carregadas de cachos pesados (e os hóspedes podem participar na apanha da uva, se quiserem), vendo correr a água na levada que José recuperou e pensar que a cama de rede que ele diz ter pendurado entre duas árvores, ali junto ao moinho recuperado, mesmo por cima da linha de água, deve ser mesmo uma delícia, assim que os dias aquecerem.

Onde comer

José Cunha garante que a gastronomia local é dos segredos mais bem guardados da região e que os hóspedes poderão comprová-lo sem problemas, encomendando comida a algum dos restaurantes que ele poderá recomendar. Para quem preferir algo diferente, o responsável das Casas do Telhado diz que também é possível contratar um chef para se deslocar ao local e cozinhar uma refeição por encomenda. O melhor mesmo é falar com ele.

O que fazer

Pode querer ficar pela casa que escolheu, a usufruir da lareira ou a passear simplesmente pelos terrenos da quinta, mas também há muito para fazer no exterior. O Porto fica a menos de meia hora de carro e Amarante ainda mais perto. O rio Tâmega está a um pulo de distância e a Rota do Românico está, basicamente, por todo o lado.

José Cunha diz que não é “organizador de eventos”, mas, dito isto, está pronto para acompanhar ou aconselhar os hóspedes com gostos mais particulares. Por exemplo, poderá reparar que na garagem da quinta há alguns carros antigos — se for apreciador e quiser levar o seu próprio veículo histórico, podem combinar um passeio. 

Imperdível, se gostar de antiguidades e curiosidades históricas, é atravessar os campos e fazer uma visita à propriedade vizinha, a Quinta da Água Levada, onde Emanuel Silva está mais do que disposto a mostrar-lhe o pequeno-grande museu que vai montando, guardando relíquias adquiridas por antepassados e aquelas que ele próprio vai comprando. Há espadas com 900 anos, armaduras de criança e outras samurai, itens dos famosos detectives Pinkerton e um punhal com o nome de Adolf Hitler gravado, entre muitas outras coisas. E, claro, algumas memórias do próprio Zé do Telhado — o chapéu e bolsa que ele usava e algumas armas do seu bando. Se puder, não perca.

A Fugas esteve alojada a convite das Casas do Telhado

Nome
Casas do Telhado
Local
Penafiel, Penafiel, Caminho das Sebes
Telefone
968 331 350
Website
www.casasdotelhado.com
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