O convite era irrecusável e chegou por email: “Gostaríamos de a convidar a passar duas noites connosco para conhecer em detalhe os nossos programas de saúde, experimentar a nossa ementa gastronómica e dormir num dos nossos quartos com características exclusivas de maneira a garantir um sono reparador.”
Parecia que estas breves linhas tinham sido escritas integralmente a pensar em mim. Não me lembrava de alguma vez ter referido as dificuldades que tenho para dormir, mas pareceu-me que este desafio do Six Senses Douro Valley, em Samodães, Lamego, de que já conheço os cantos à casa, tinha sido feito à minha medida.
Fiz-me à estrada numa sexta-feira tristonha, Outono mais Outono não há. Do Porto até à Régua cumpre-se por norma uma hora e meia de viagem, mas neste início de tarde o nevoeiro torna mais misteriosa a paisagem que abre a porta ao Alto Douro Vinhateiro e aconselha maior prudência ao volante. Calma, portanto, que a ideia deste fim-de-semana também é relaxar.
É justamente o que faço assim que entro no quarto que me foi destinado. Uma enorme janela aos pés da cama abre-se para o rio e para o arvoredo que emoldura o hotel, a temperatura ambiente amolece de imediato o corpo e o cálice de vinho do Porto deixado em cima da mesa está mesmo a pedi-las. Também há dióspiros numa fruteira de cortiça — bingo, é dos meus frutos preferidos. Para o fim da tarde está marcado um cocktail de boas-vindas no wine bar, ainda tenho umas duas horas para entrar no espírito. Atiro-me com vontade para cima da cama e prevejo que a coisa vai correr bem: o colchão é prometedor, parece que estou a flutuar nas nuvens. Em poucos minutos sinto os olhos pesados e deixo-me ir. Não está mal, para inícios de conversa.
Quando desperto, já o cocktail vai a meio. Fico-me por um vinho tinto (Papa Figos) e daqui a pouco já nos indicam uma mesa no restaurante Vale Abraão. Vamos experimentar um dos menus pensados pelo chef Ljubomir Stanisic, que faz consultoria no Six Senses, para os programas de Integrated Wellness (são quatro) que o hotel tem ao dispor dos hóspedes. A ideia é apresentar planos alimentares feitos à medida das necessidades de cada um, tendo como ponto de partida a importância de servir comida o menos processada possível e que simultaneamente garanta sabor e riqueza nutricional, explica o director do hotel, que se senta à mesa connosco.
“Queremos mostrar que a comida saudável pode ser deliciosa”, adianta Nick Yarnell, sublinhando que, sempre que possível, se privilegiam os produtos de estação, bem como os que são produzidos na horta do Six Senses. Esta noite experimentamos truta fumada e cavala assada, servidas com vegetais da horta grelhados. Para sobremesa, temos uma levíssima reinterpretação do clássico pudim Abade de Priscos. Fechamos a refeição, claro, com um cálice de Porto.
Onde está o snooze?
A ideia era dormir bem, lembram-se? Afundo-me na cama, ajusto o edredão e preparo-me para entrar no mundo dos sonhos, o que acontece com relativa rapidez, tendo em conta o meu historial de mau sono. Confirma-se que o colchão é retemperador, mas, ainda assim, acordo muito antes do previsto. O defeito é meu, não tenho dúvidas.
O pequeno-almoço é um regalo para a vista e para o estômago. A variedade anda a par da qualidade: não faltam os croissants com sotaque francês, os pães de cereais diversos, os ovos em muitas declinações, os queijos, os enchidos, até o vinho espumante, mas também estão cá os sumos detox, os frutos secos e as sementes agora tão em voga para a primeira refeição do dia. Tenho liberdade total de escolha — não resisto a uma fatia de bolo —, mas tento manter as coisas a um nível nutricionalmente aceitável.
Para as 11h está marcado um encontro com Javier Suarez, o director do spa do Six Senses Douro Valley, que me vai fazer um “Wellness Screening”. Trata-se de uma triagem que usa “tecnologias avançadas que analisam biomarcadores fisiológicos como composição corporal, metabolismo, distribuição de oxigénio, batimento cardíaco e circulação, bem como parâmetros de stress”, pode ler-se no resultado desta avaliação, que recebi dias depois no meu email. Os resultados obtidos permitem personalizar os programas de bem-estar dos hóspedes do hotel, bem como ajudá-los a tomar “decisões mais informadas” sobre o seu estilo de vida.
Não vos maço com detalhes sobre o meu estado geral, partilho apenas os mais relevantes e menos embaraçosos. A tensão arterial está perfeitamente normal, a percentagem de água no corpo é aceitável, o índice de massa corporal também. O mesmo não se pode dizer em relação aos níveis de stress, que excedem as recomendações. Será por isso que Javier me convida depois para uma massagem de uma hora?
Fico entregue aos cuidados da terapeuta Cristiana, que já conheço de uma anterior visita. “Para si, escolhemos uma massagem deep tissue nas costas e de relaxamento no resto do corpo”, explica-me. Estendo-me na marquesa e desligo-me do mundo em breves momentos. Quando estava quase a entrar em órbita, ouvi o “plong” da taça tibetana e nem queria acreditar. Mas já se passou uma hora? Onde está o botão do snooze?
Fico sempre com esta sensação, de que as massagens acabam muito antes do tempo. Ainda assim, sinto-me mais leve, pelo que me inclino a acreditar que este programa vai no bom caminho.
Durante a tarde, Javier Suarez apresenta-nos detalhadamente o programa “Sleep with Six Senses”, disponível em seis unidades do grupo de todo o mundo, Douro incluído. Trata-se de um programa desenvolvido em conjunto com Michael Breus, um médico norte-americano “especialista em problemas de sono de fama mundial”. A conversa com Javier começa com dados curiosos: num hotel, há muitos hóspedes que passam “70% do tempo na cama”, seja a ler ou a ver televisão, práticas que não favorecem noites retemperadoras de sono. Mas há mais: Javier revela que “é melhor não dormir na escuridão total”, para que, à medida que o dia nasce, a luz natural nos vá acordando progressivamente; e que o mesmo princípio se aplica ao silêncio absoluto no quarto, igualmente desaconselhado.
Durante 24 meses, uma equipa de peritos do Six Senses andou a avaliar as ofertas do mercado mundial ao nível de colchões e roupa de cama. Depois deste trabalho aturado, decidiram-se por edredões orgânicos da marca Hanse, que “possibilitam uma respiração corporal natural”; por lençóis de algodão orgânico da Beaumont & Brown; e por colchões fabricados à mão pela Naturalmat, com materiais 100% naturais e obtidos de forma sustentável.
Estes materiais são usados em todos os quartos no hotel, mas são adaptados (melhorados) para os hóspedes que integrem o “Sleep with Six Senses”. O programa começa ainda antes da chegada ao hotel: antecipadamente, o hóspede preenche um questionário online que permite ao seu sleep ambassador (um trabalhador do hotel treinado pela equipa de Michael Breus) perceber qual a relação que tem com o sono. As preferências e os hábitos de cada hóspede são analisadas para preparar o quarto “em conformidade, de maneira a assegurar as condições ideais para a obtenção de um sono reparador”.
Estes hóspedes recebem um sleep bag, que contém uma selecção de auxiliares do sono, como pijamas com tecidos produzidos a partir de fibras de bambu, máscaras oculares, tampões para os ouvidos, tiras e desentupidor nasal e um spray de jasmim indutor do sono. Têm ainda direito a um pequeno livro de bem-estar, para apontarem preocupações que os podem manter acordados durante a noite. Está também disponível uma app, Withings Aura, que avalia a qualidade do sono, e vários vídeos de Michael Breus com orientações para dormir melhor.
Não experimentei todos estes auxiliares, mas a verdade é que, à segunda noite no Six Senses, dormi como um anjo.
Mais informações sobre todos os programas de bem-estar, incluindo os retiros para lidar com o stress (o próximo é em Março, de 26 a 30), estão disponíveis no site do hotel.
Guia prático
Como ir
O Six Senses encontra-se a cerca de uma hora e meia do Porto. A melhor opção é apanhar a A4 em direcção a Vila Real e aqui entrar na A24 em direcção a Viseu — sair para a Régua. Depois é só seguir a direcção de Cinfães/Resende. Vindo de Lisboa, a viagem demora menos de 3h30. A opção mais rápida é seguir pela A1 até Coimbra, onde deve continuar pelo IP3 em direcção a Viseu e, depois, pela A24 em direcção à Régua e a Tabuaço, fazendo o percurso final pela N312 e pela N222.
O que fazer
Relaxar, relaxar, relaxar. No spa, na piscina interior, no bosque em redor do hotel. Ou então relexar, relaxar, relaxar a bordo de um barco no rio Douro. As opções são muitas, mas desta vez experimentámos um passeio do Pinhão até ao Tua, com a Pipadouro. Embarcámos no Friendship, um charmoso barco inglês de 1957, e durante duas horas deixámo-nos ir, devagar, a sorver as paisagens de que nunca nos cansamos. O hotel pode tratar de marcar o passeio, mas as informações estão todas em pipadouro.pt.
A Fugas esteve alojada a convite do Six Senses Douro Valley
- Nome
- Six Senses Douro Valley
- Local
- Lamego, Samodães, Quinta Vale de Abraão - Samodães
- Telefone
- 254 660 600
- Website
- www.sixsenses.com/dourovalley