Fugas - hotéis

  • Adriano Miranda
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Vida nova para a Praça Velha

"Hostel de luxo"

Nas camaratas, contudo, é que melhor se percebe por que Rui Cavaco queria um “hostel de luxo, para quem gosta de passar alguns dias fora de casa, mas, lá por apreciar espaços partilhados, não tem que prescindir de um serviço de qualidade”. Como o IGESPAR obrigou a preservarem-se as madeiras do edifício, os proprietários optaram por deixá-las expostas e é por isso que, à entrada nas camaratas, se impõe olhar para cima: o pé direito é de seis metros, as vigas do tecto conferem ao espaço um apelativo toque rústico e o contraste contemporâneo faz-se não apenas com uma grande fotografia da praça que dá tema a cada quarto, mas também com roupas de cama com detalhes têxteis a combinar. A camarata de Sevilha é a maior, por ter varanda, mas todas as outras impressionam igualmente pelo encaixe bem arrumado das suas camas em box, a fazerem apetecer aconchego de tão bem dispostas que estão, resguardadas pela madeira e pelos respectivos armários de bagagem. Os degraus para subida às camas superiores não são os mais simpáticos para os joelhos, ok, mas o casulo lá em cima compensa eventuais pisaduras, esteja quem estiver nos colchões em volta, amigo ou desconhecido.

Para banhos e coisas que tais, as camaratas dispõem depois de dois balneários de serventia comum que, além de cabinas de duche com porta e banco interior para muda de roupa, incluem secador e até modeladores de cabelo, mediante caução. O mesmo se aplica ao kit a levantar à chegada com toalhas e roupa de cama, que no hostel não há mordomias de aias e camareiras. Mimos de exclusividade só no piso -1, que acolhe um salão de eventos com capacidade para 140 pessoas e tem uma entrada independente, para evitar que convidados formais de casamentos ou conferências se tenham que cruzar com hóspedes em calções e chinelos de dedo.

É a cozinha, ainda assim, que verdadeiramente materializa o espírito comunitário de que está imbuído o Hostel da Praça. Que esse espaço esteja equipado com todos os electrodomésticos, com panelas e talheres ajustados a qualquer prato, com louças de tons neutros, mesas com vista para a esplanada, cadeiras apelativas e confortáveis, e até um grelhador a pellets… Tem graça, mas não surpreende. O que admira é que essa cozinha também esteja disponível — e de forma gratuita — para aqueles que, não sendo hóspedes da casa, lá queiram confecionar uma refeição e saboreá-la com amigos. Essa generosidade tem sentido prático, claro: implica reserva prévia, só permite o consumo de bebidas do hostel e obriga a lavarem-se os pratos no final, porque, lá está!, nenhuma copeira aparecerá por artes mágicas a para levantar a mesa.

A nova casa da Praça Velha prova assim que tem muitas portas abertas à rua e está realmente disposta a acolher todos os que vierem por bem, num gesto que reflecte tanto de lucidez comercial quanto de genuína hospitalidade. E isso logo ali onde já pouco se podia pedir mais, de tão perto que se está de castelos e conventos, bares, restaurantes e cervejarias, cafés com bolinhos da PIDE e fogaças anti-peste, esculturas de Vhils e até matas enfeitiçadas por princesas mouriscas.

Nome
Hostel da Praça
Local
Santa Maria da Feira, Feira, Praça da República, 6
Telefone
256 338 186
Website
https://www.facebook.com/hosteldapraca/
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