Fugas - hotéis

  • Paulo Pimenta
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Um hotel onde o chão range mas ninguém reclama

Dar tempo ao tempo

De manhã, como à noite, o hotel é silencioso. O dia é de sol e o salão das refeições, que actualmente só serve o pequeno-almoço, deixa entrar toda a luz que vem das janelas e da portada que dá para o jardim, escondido no meio dos prédios. Nas outras mesas, a começarem a tomar o pequeno-almoço por volta das 9h, vai provavelmente encontrar europeus, com mais de 35 anos, que procuram o tradicional, a história, a cultura e o serviço e hotelaria tradicionalmente portugueses. Em média passam três noites no hotel de três estrelas que tem à disposição 42 quartos, individuais e duplos, com preços a variar entre os 70 e os 140 euros por noite com pequeno-almoço incluído.

Quando escrevem no livro de memórias do hotel (algo como o TripAdvisor do século XIX), rabiscado em várias línguas, quase nunca reclamam. Salientam a excelente localização no centro da cidade, a poucos passos da Praça da Liberdade e a cinco minutos a pé da estação da Trindade que liga o metro ao Aeroporto, o pequeno-almoço que, além dos ovos e do bacon, tem duas mesas com rabanadas e tortas caseiras, e o serviço à portuguesa.

Há uns tempos, a administração do hotel, preocupada com a eficiência, quis trocar as chaves por cartões eléctricos. Deste modo os hóspedes não teriam de passar pela recepção de cada vez que entrassem e saíssem do edifício, mas a ideia desvaneceu-se antes mesmo de ser posta em prática. Para se perceber porquê basta passar uma noite no hotel que parece saído de um livro de História. A recepção está aberta todo o dia e toda a noite e o hotel é tão pequeno que quem lá trabalha conhece cada um dos hóspedes. Lê-se muitas vezes no tal livro que os hóspedes se “sentem como numa casa de família”. Não espanta, portanto, que os funcionários acertem quase sempre quando aconselham restaurantes tradicionais, um dos pedidos mais frequentes que os turistas fazem quando vão deixar a chave antes do jantar.

De resto, o hotel parece resistir à mudança (não se preocupe, não conseguiu escapar do Wi-fi). O hotel mais antigo do Porto ainda em funcionamento passou pelas mãos de franceses, galegos e portugueses e desde que foi fundado, em Novembro de 1877, que as alterações são muito poucas. Algumas obras nos quartos que costumavam ter casas de banho partilhadas, uns restauros nos móveis e na escadaria e pouco mais. A preocupação em manter a autenticidade foi maior do que o desejo de inovar.

Hoje em dia, as várias alas do hotel saídas do século XIX seriam descritas como vintage. Mas não o são. Em boa verdade, o hotel é puramente antigo. É precisamente para prevenir o desgaste rápido que, apesar de receberem algumas excursões, o máximo de pessoas permitido para um grupo ronda as 15 pessoas.

Quem lá trabalha (o funcionário mais antigo tem 30 anos de casa) e quem lá entra ainda se preocupa em preservar a sua identidade. Quando algo se estraga, cola-se de novo, restaura-se, não se sai a correr para comprar a mais recente actualização. Aqui, dá-se muito tempo ao tempo.

E a procura por esta experiência cada vez menos comum é tanta e chega de malas feitas de tantos sítios que a administração decidiu comprar o edifício ao lado. Durante os próximos quatro anos, o hotel vai ganhar mais 20 quartos, um restaurante de comida tipicamente portuguesa, um bar com acesso ao jardim e que terá uma esplanada interior e uma sala com spa. Tudo novo, mas agora sim, a fazer-se passar por antigo.

Nome
Grande Hotel de Paris
Local
Porto, Vitória, Rua da Fábrica, 27/29
Telefone
222 073 140
Website
http://www.hotelparis.pt/pt/
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