Mal abrimos as portas pesadas, todas envidraçadas, quase uma vaidade do hotel para se deixar contemplar logo pelo lado de fora, estamos na mesma Rua da Fábrica, mas já deixámos o século XXI. A escadaria que percorre os três pisos da casa que foi construída para parecer um palacete assume-se logo na entrada, com um longo tapete vermelho. Subimos as escadas e já na recepção, não fossem os computadores, teríamos, agora sim, a certeza que três séculos não teriam passado.
Se optar por subir até ao quarto usando o pequeno elevador, antigo, ainda com porta de correr, aconselhamos que torne a descer pela escadaria, mas que desta vez preste atenção às paredes. No “hotel-museu”, como lhe chamam, entre as portas que dão para os quartos estão pregadas memórias de hóspedes eternos. Emolduraram-se fotografias, cartas e pequenos bilhetes com declarações de amor escritas por grandes nomes da literatura portuguesa. Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e Guerra Junqueiro cruzaram-se por estas mesmas salas onde agora as máquinas de escrever e o piano são só parte do mobiliário. Dos livros restou uma prateleira, que não está repleta de grandes clássicos, e que já viajaram pelo mundo através da plataforma bookcrossing. A história do hotel já deu também origem a um volume no qual se lê, na primeira página, a primeira notícia sobre o novo “palacete”. Aquando da sua fundação, em 1877, o extinto Comércio Português escrevia: “Um magnífico hotel de primeira ordem com todas as comodidades que hoje estão ao alcance para satisfazer plenamente o viajante mais exigente.”
Quase 140 anos depois, o hotel prefere deixar de lado algumas comodidades que foram entretanto surgindo para não alterar o charme da Belle Époque parisiense. O director, David Ferreira, costuma usar uma metáfora para explicar por que é que o centenário Paris tem, mesmo assim, uma taxa de ocupação que ronda os 90% durante o ano inteiro.
Conta orgulhosamente que há duas opções para percorrer o mesmo caminho (haverá várias, mas consideremos apenas estas para a história): ou entramos no TGV, comboio veloz, robusto, moderno, equipado com a mais moderna tecnologia mas que é ao mesmo tempo impessoal, construído com demasiado metal para se deixar colorir com as histórias das centenas que entram e saem e estão apenas interessadas em chegar o mais rapidamente possível ao destino. Ou, por outro lado, optamos por aproveitar a viagem e entramos num comboio histórico. Este, mais antigo, com o chão que range e sem ter um nível de conforto que se equipare ao anterior, relembra-nos a história só de estarmos a bordo. É assim o Grande Hotel de Paris.
O quarto dá vontade de pousar o computador e pegar na caneta e no caderno para escrever. Da janela, que tem um pequeno varandim, vê-se a Torre dos Clérigos e, como a noite está quente, com a janela aberta só se ouvem as gaivotas. A tendência do minimalismo ainda não chegou a estes aposentos. As cortinas e a colcha da cama são preenchidas com padrões pesados que diferem de quarto para quarto, oitocentistas, alguns usados nos azulejos que lá fora tanto encantam quem está de visita.
- Nome
- Grande Hotel de Paris
- Local
- Porto, Vitória, Rua da Fábrica, 27/29
- Telefone
- 222 073 140
- Website
- http://www.hotelparis.pt/pt/