Fugas - hotéis

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Um hotel onde o chão range mas ninguém reclama

Por Renata Monteiro ,

O Grande Hotel de Paris é o mais antigo do Porto e, mais do que um edifício, é um livro vivo de história. Passaram por ele quase 140 anos e ainda está no centro do Porto, de portas abertas para contar o que acontecia na cidade atrás de portas fechadas.

Mal abrimos as portas pesadas, todas envidraçadas, quase uma vaidade do hotel para se deixar contemplar logo pelo lado de fora, estamos na mesma Rua da Fábrica, mas já deixámos o século XXI. A escadaria que percorre os três pisos da casa que foi construída para parecer um palacete assume-se logo na entrada, com um longo tapete vermelho. Subimos as escadas e já na recepção, não fossem os computadores, teríamos, agora sim, a certeza que três séculos não teriam passado.

Se optar por subir até ao quarto usando o pequeno elevador, antigo, ainda com porta de correr, aconselhamos que torne a descer pela escadaria, mas que desta vez preste atenção às paredes. No “hotel-museu”, como lhe chamam, entre as portas que dão para os quartos estão pregadas memórias de hóspedes eternos. Emolduraram-se fotografias, cartas e pequenos bilhetes com declarações de amor escritas por grandes nomes da literatura portuguesa. Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e Guerra Junqueiro cruzaram-se por estas mesmas salas onde agora as máquinas de escrever e o piano são só parte do mobiliário. Dos livros restou uma prateleira, que não está repleta de grandes clássicos, e que já viajaram pelo mundo através da plataforma bookcrossing. A história do hotel já deu também origem a um volume no qual se lê, na primeira página, a primeira notícia sobre o novo “palacete”. Aquando da sua fundação, em 1877, o extinto Comércio Português escrevia: “Um magnífico hotel de primeira ordem com todas as comodidades que hoje estão ao alcance para satisfazer plenamente o viajante mais exigente.”

Quase 140 anos depois, o hotel prefere deixar de lado algumas comodidades que foram entretanto surgindo para não alterar o charme da Belle Époque parisiense. O director, David Ferreira, costuma usar uma metáfora para explicar por que é que o centenário Paris tem, mesmo assim, uma taxa de ocupação que ronda os 90% durante o ano inteiro.

Conta orgulhosamente que há duas opções para percorrer o mesmo caminho (haverá várias, mas consideremos apenas estas para a história): ou entramos no TGV, comboio veloz, robusto, moderno, equipado com a mais moderna tecnologia mas que é ao mesmo tempo impessoal, construído com demasiado metal para se deixar colorir com as histórias das centenas que entram e saem e estão apenas interessadas em chegar o mais rapidamente possível ao destino. Ou, por outro lado, optamos por aproveitar a viagem e entramos num comboio histórico. Este, mais antigo, com o chão que range e sem ter um nível de conforto que se equipare ao anterior, relembra-nos a história só de estarmos a bordo. É assim o Grande Hotel de Paris.

O quarto dá vontade de pousar o computador e pegar na caneta e no caderno para escrever. Da janela, que tem um pequeno varandim, vê-se a Torre dos Clérigos e, como a noite está quente, com a janela aberta só se ouvem as gaivotas. A tendência do minimalismo ainda não chegou a estes aposentos. As cortinas e a colcha da cama são preenchidas com padrões pesados que diferem de quarto para quarto, oitocentistas, alguns usados nos azulejos que lá fora tanto encantam quem está de visita.

Nome
Grande Hotel de Paris
Local
Porto, Vitória, Rua da Fábrica, 27/29
Telefone
222 073 140
Website
http://www.hotelparis.pt/pt/
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