Fugas - hotéis

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Hospitalidade tailandesa com sotaque algarvio

Por Mara Gonçalves ,

O antigo Tivoli Victoria tem agora insígnia tailandesa, mas dificilmente podia ter renascido mais português. Do check-in ao check-out, no Anantara Vilamoura Algarve Resort embarcamos numa viagem pela cultura algarvia (e nacional), sem esquecer renovados luxos, serviços especializados e gurus.

Tlim. Tlim. Tlim. Fazemos soar cada aresta dos ferrinhos pendurados num canto do hall de entrada, num misto de ritual de auto-boas-vindas e anúncio de chegada. Sai tímido o som naquele sino com sotaque popular português e tamanho de gigante. Não há entradas triunfantes possíveis num espaço que a manhã anormalmente quente para meados de Primavera esvaziou de outros hóspedes; nem nos parece justo perturbar o sossego que se cristaliza na sala larga, colado aos balcões da recepção, ao bar lounge, aos livros da biblioteca.

Cada Anantara tem o seu “arrival experience” e dar música ao triângulo de metal foi a escolha para o primeiro hotel da marca na Europa. A ideia é transmitir a cultura local com um pormenor que “também desperte curiosidade nos hóspedes”, conta Marta Pinto, directora do departamento de alojamentos do resort. O primeiro plano era ter elementos de um rancho algarvio a receber quem chegasse, mas a imprevisibilidade dos horários de check-in dos novos hóspedes tornava-o logisticamente complicado. Os ferrinhos, presentes na generalidade do folclore português, foram o compromisso ideal. “Além de fazerem parte da cultura popular e regional, são semelhantes aos instrumentos utilizados noutras culturas para chamar e reunir as pessoas”, indica a responsável.

Conversamos com Marta Pinto durante um almoço no Ria, o novo restaurante da unidade hoteleira, reinaugurada a 1 de Abril já sob insígnia Anantara. Quem conhecia o Tivoli Victoria vai reencontrar no Anantanta Vilamoura Algarve Resort o mesmo edifício desenhado em 2009 pelo atelier Promontório, as mesmas peças de arte – como a icónica árvore feita de árvores de Gabriela Albergaria e os néons de João Louro – ou os vinis geométricos de Ricardo Valentim nos corredores dos quartos. O passado não só não foi extinto das paredes do complexo turístico como é homenageado no nome de um dos três restaurantes, Victoria, onde se servem os pequenos-almoços e buffets temáticos ao jantar.

No ano passado, no rescaldo da falência do Banco Espírito Santo, a gigante hoteleira Minor Hotels adquiriu o grupo português Tivoli Hotels & Resorts. O anúncio da renovação da unidade algarvia e a transferência para uma das marcas de luxo hoteleiro da cadeia tailandesa surgiu em Novembro. A decoração está diferente em alguns espaços, foram criadas novas suítes familiares, vários serviços exclusivos e especializados e um restaurante dedicado ao peixe e ao marisco. A celebração da região algarvia e da cultura portuguesa passou a ser uma realidade quase omnipresente, brindando muitos momentos da estadia.

Música portuguesa, sabores algarvios

Do tilintar inicial dos ferrinhos, o check-in continuará numa sala resguardada, povoada de sofás e de puffs confortáveis, depois de uma toalha refrescante nos aliviar o calor húmido das mãos. A informação habitual vai sendo debitada num tablet, entre amêndoas, figos secos e golos de sumo de alfarroba. A ria Formosa fica a uns 20 quilómetros de distância, mas é nela que mergulhamos pouco depois no novo restaurante em frente à piscina principal, onde se servem apenas almoços. O azul-turquesa e a decoração a lembrar um bar de praia deixa-nos de pés na areia. Nas paredes, fotografias de barcos e de pescadores anunciam parte do menu. Salada de polvo, carapaus alimados, cenouras cozidas em molho algarvio, marisco, peixe fresco grelhado no momento.

Todas as manhãs, chega ao hotel uma selecção das espécies apanhadas ao largo da costa naquele dia e quem estiver pela piscina nem precisará de se levantar para escolher o que comer. Uma cesta tradicional passeia entre camas e espreguiçadeiras com o pescado do dia e os hóspedes que quiserem almoçar no Ria podem reservar logo ali o ingrediente principal. Às vezes, é o próprio pescador quem faz a ronda, explicando os diferentes sabores, conta Rui Carlos, gerente do restaurante.

A tónica na cultura local é uma das características principais do conceito Anantara, transversal a todas as unidades hoteleiras da marca, localizadas nos continentes asiático e africano, à excepção da estreia ocidental em Vilamoura. Aqui, a reputada hospitalidade tailandesa une-se à afamada hospitalidade portuguesa – outro dos elementos-chave do conceito. E o fado recebe o pôr do Sol no lobby do hotel. Uma guitarra portuguesa, outra clássica e a voz das alegrias e tristezas portuguesas enchem cada final de tarde, enquanto os hóspedes vão-se dispersando pelos sofás em conversas segredadas, petiscos tradicionais e copos de vinho.

“A cerimónia tem como objectivo fazer a transição entre o dia e a noite, marcando a mudança no ambiente do hotel”, conta Marta Pinto. Todos os dias, um grupo diferente de músicos vem mostrar a diversidade de temas e ritmos que compõem aquele estilo musical português. A actuação é um dos três momentos cerimoniais que marcam a estadia num hotel Anantara. Depois do soar dos ferrinhos e do fado, o check-out terminará com uma oferta simbólica – e mais um pormenor da cultura portuguesa. Mas sobre essa pediram-nos para guardar segredo e vamos manter a promessa.

Gurus e experiências exclusivas

O luxo do resort, define Marta Pinto, não se encontra tanto na ostentação da decoração mas na atenção aprimorada de cada detalhe e nos serviços personalizados. Existem três experiências exclusivas que se podem reservar: passeio de lancha pela Ria Formosa, com apanha de bivalves e degustação preparada em casa de um pescador local; passeio de jeep pelo Barrocal, entre laranjais, apanha de cortiça ou visita a uma destilaria tradicional de produção de aguardente algarvia; e passeio de balão pela região. O Algarve por água, terra e ar.

Já a aula de cozinha Spice Spoons transporta os hóspedes até ao mercado tradicional de Loulé para comprar os ingredientes que vão compor a sessão de gastronomia regional chefiada pelo chef executivo do hotel, Bruno Viegas. E a experiência Dining by Design leva o jantar a um ponto inusitado do hotel, com um menu de degustação, chef pessoal e mordomo. Quem ficar alojado pelo menos três noites tem direito a um passeio gratuito de tuk tuk.

Para os mais novos, o kids club foi totalmente remodelado e a parceria estabelecida com a Worldwide Kids Company traz novas actividades diárias e três “academias”: golfe, futebol e dança. No The Hub, os adolescentes podem entreter-se entre máquinas de jogos, mesas de snooker e uma enorme televisão. O campo de golfe Oceânico Victoria, desenhado por Arnold Palmer e localizado em frente ao complexo turístico, passou a ter uma gestão independente mas mantém uma relação umbilical com o hotel. Além da nova área para golfistas, com cacifos e acesso directo ao campo, um professor de golfe dá lições privadas a quem se quiser inscrever, dos iniciados aos mais experientes.

É um dos três “gurus” do Anantara de Vilamoura. No spa, um especialista veio do Sri Lanka para dar aulas de medicina ayurvédica e yoga. Mas é o wine guru António Lopes que acaba por assumir maior protagonismo, dividindo-se entre workshops e provas vínicas, visitas guiadas a quintas e adegas locais e o trabalho como escanção nos jantares Dining by Design e no restaurante principal do hotel. Depois de uma sessão dedicada às diferentes regiões demarcadas em Portugal, é no EMO que terminamos a noite. É um restaurante de fine dining assumidamente vínico, em que a gastronomia portuguesa se reinventa a cada prato e se faz acompanhar por um copo diferente de vinho, servido por António Lopes.

A noite já vai longa quando regressamos ao quarto. Sobre a mesa, espera-nos um pequeno mimo: um pastel de feijão. Aqui, todos os dias terminam com um doce tradicional diferente entregue no quarto. Numa folha de reflexos dourados conta-se, em português e em inglês, a história da iguaria criada em Torres Vedras por Joaquina Rodrigues, no século XIX. Já tínhamos dito que a cultura portuguesa é presença constante por aqui, não tínhamos?

A Fugas esteve alojada a convite do  Anantara Vilamoura Algarve Resort

Nome
Anantara Vilamoura Algarve Resort
Local
Loulé, Quarteira, Avenida dos Descobrimentos
Telefone
289 317 000
Website
http://vilamoura.anantara.pt/
Observações
O empreendimento turístico integra 280 quartos (incluindo 17 suítes); um spa com salas de tratamento (uma dela com jacuzzi privado na varanda), piscina interior e ginásio; três restaurantes e três bares; duas piscinas exteriores (uma exclusiva a adultos); campo de ténis; áreas para os mais novos (Adventures Kids Club, The Hub e duas salas de multiusos); salas de reuniões e uma área para golfistas.
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