Os Moinhos de Ovil são uma viagem dentro de nós. O cheiro a verde, a terra e a lenha, o aroma a café acabado de fazer ou a pão cozinhado no forno, despertam memórias adormecidas. Nas margens do rio, apetece ser criança de novo, baloiçar no pneu pendurado na ponte, deitar na rede suspensa no rio, seguir sardaniscas nos muros ou trutas na água, e esquecer que os dedos encorrilham com o frio depois de muitos mergulhos dados.
Ali, o nosso despojamento é realmente feliz.
O ritmo citadino está definitivamente desacelerado quando o almoço se anuncia. Vem num cesto de verga, tachos embrulhados em jornal com filetes de polvo e arroz do mesmo. “A dona Luísa fez questão de cozinhar, apesar de ser o dia de folga dela”, diz Eduarda como quem revela o espírito ali vivido.
Tivesse ela uma varinha mágica e usava-a para fazer mais gente apaixonar-se pelo Douro. É isso, na verdade, que procura. Sem fórmulas secretas, mas com a certeza de que é “em rede” que a roda se põe a andar. Por isso, o número de telefone de Luísa, a incansável dona do restaurante “O Alpendre”, a poucos minutos dali, está sempre à mão. Por isso, volta e meia liga à fisioterapeuta Cláudia Moreira e pede-lhe que acarinhe os hóspedes no spa exterior dos Moinhos. Por isso, o “Douro à Vela” de António pode complementar a experiência ali iniciada com passeios privativos no rio. Por isso, fez da “dona Palmira”, filha dos antigos moleiros, uma ajuda preciosa.
“Eu e os meus neurónios”
A noite cai e a varanda da Casa dos Moinhos, em cima do rio plantada, é o lugar onde apetece estar. Conversa em novelo, um livro, minutos com horas dentro. Fecham-se as portas de casa e o som da água a passar debaixo dos nossos pés parece chuva a cair lá fora. A embalar sono e sonhos. E, melhor do que o corpo a ceder a essa banda sonora, só mesmo o dia a nascer.
Sumo de laranja, cerejas colhidas no quinta, pão quente (receita de Amélia passada a Eduarda), queijos e café. O sol aquece e já o dilema é a escolha do local onde nos vamos render ao descanso. Pode ser no extremo da quinta onde o rio corre baixo, com cadeiras instaladas dentro de água, na “piscina natural no lado oposto da propriedade, numa casa na árvore improvisada, no pequeno “barco do amor”, na cama do spa com uma bóia gigante em forma de cisne como vizinha.
“Os Moinhos são eu e os meus neurónios”, graceja Eduarda, Eduarda Moleira como se tornou conhecida. Cada pormenor da decoração ou mimo-surpresa ali encontrado é saído da cabeça dela. Como os doces que costuma deixar na minicasinha de madeira que mora numa nogueira da quinta, o esfoliante caseiro (mistura de café e iogurte) deixado na casa de banho ou a “caixa do mimo” cheia de cartas escritas à mão pelos viajantes. “Os Moinhos já davam um livro.”
Ali acima está a estrada nacional, uma aldeia pacata, o mundo de relógios postos. E o Porto fica apenas a 70 quilómetros, uma hora de distância. Alguém se lembrava disso?
A Fugas esteve alojada a convite dos Moinhos de Ovil
- Nome
- Moinhos de Ovil
- Local
- Baião, Ancede, Estrada Nacional 108, 139
- Telefone
- 967 639 211
- Website
- http://moinhosdeovil.pt/