Eduarda Santos lembra-se bem da sensação avassaladora que teve quando ali chegou pela primeira vez. O pai tinha arrendado a quinta para fins-de-semana rurais que matassem saudades de outros tempos e reunissem amigos e família. A filha, citadina convicta, foi do Porto àquela aldeia duriense apenas para conhecer. E, de repente, aquele pequeno rio de som aumentado, os pássaros e os cheiros, uma impressão de tempo suspenso.
— Pensei imediatamente que aquilo tinha de ser meu.
A terra é Eiriz, Baião. Vai-se de GPS ligado, não vão as estradas serpenteadas do Douro trair a orientação, mas a dica de chegada é dada ao avistar a bomba de gasolina. “Desculpe, sabe dizer-me onde ficam os Moinhos de Ovil?” E logo o sorriso aberto do trabalhador: “É já, já aqui. Vira à direita e chegou.” Na estrada nacional, apenas duas placas toscas, com o nome do lugar e a inscrição “acesso privado”. Estaciona-se à face da estrada e desce-se a rampa de terra batida ainda sem desconfiar do que ali virá. Passo atrás de passo, algo vai mudando. O ruído da estrada abafa-se perante o som da água que se precipita nas escarpas de um rio de poucos metros de largura mas cheio de vida. À volta, tudo é verde. Tudo é paz.
“Bem-vindos aos Moinhos de Ovil.” Eduarda vai atravessando a ponte de ferro que ali construiu para cruzar as duas margens. Antes de comprar a quinta, os moradores da aldeia faziam a passagem de pés no rio, por dentro da propriedade dela, quando queriam chegar à igreja local. E é por ali que continuam a cortar caminho — “agora pela ponte, obviamente.”
Não é preciso muito tempo para perceber que estamos fora dos destinos de agência de viagens catita ou balcões turísticos a vender mãos cheias de estrelas num Douro todo ele igual. Aqui há luxo sem luxo dentro. Há calções e t-shirt vestidos, chinelos no pé, sinal de telefone fraco e wi-fi zero. Sem pressas nem regras.
Eduarda perdeu as contas às datas. Sabe apenas que, depois da primeira visita à aldeia, há 14 anos talvez, não descansou enquanto não regressou para fazer uma proposta de compra. Recebeu-a Amélia, viúva do moleiro Abel, que durante anos fez ali farinha de milho para gente que muitas vezes só tinha aquilo para comer. E perante as certezas de Eduarda, a senhora de 92 anos que acabou por dar nome a uma das casas da quinta, simplificou: “Se isto tiver de ser teu, há-de ser.”
Por essa altura, os três moinhos eram quase uma ruína. Mas Eduarda já lhes via o potencial. Recuperou-os para os transformar numa única casa de decoração rústica, a respeitar a memória, mas de conforto aumentado e toque contemporâneo. Paredes de pedra pintadas de branco, quarto com salamandra, sala com varanda em cima do rio Ovil, cozinha que parece de bonecas, chão com “janelas” a deixar ver a água debaixo dos pés. Uns patamares acima na quinta e surge a antiga habitação do casal de moleiros, reconvertida num segundo recanto.
Durante alguns anos, não houve intenções comerciais no projecto. Eduarda pensava apenas na forma diferente como o tempo ali corria e queria aproveitá-lo junto da família e amigos. Mas há uns três anos pôs-se a reflectir. Se os seus moinhos eram um sucesso naquele círculo restrito, também o seriam num mais alargado?
- Nome
- Moinhos de Ovil
- Local
- Baião, Ancede, Estrada Nacional 108, 139
- Telefone
- 967 639 211
- Website
- http://moinhosdeovil.pt/