O ponto de encontro não poderia ser mais antinatura. É de umas bombas de gasolina na estrada perto de Vila Nova de Milfontes que partimos rumo à paz do campo alentejano. Entramos para a carrinha de Martine Pronk, que com o marido Jos abriu um turismo rural naturista, e seguimos por caminhos de terra batida, por trilhos ladeados de árvores, rumo a um monte que se ergue como serra.
E aí, no declive da Samouqueirinha, paramos nós e para o mundo. À nossa frente, no meio do nada, um grande muro vermelho. De fora, nada se vê. Abre-se a porta e por trás do muro vermelho abre-se um éden. Sob a protecção montanhosa e das muralhas de pedra, com a planície toda à frente até ao mar, entramos num frondoso jardim, por onde entre as árvores e flores se escondem quatro casas, esplanadas em recantos sombreados, casa de sauna, terraço de jacuzzi e corpos nus se passeiam e mergulham no espelho azulado da piscina.
É um turismo rural de luxos simples como tantos da zona. A diferença é que se contrariam todos os dress codes da hotelaria: “Aqui é obrigatório estar nu nos espaços públicos para todos se sentirem à vontade. Nas casas cada um faz o que quiser. Se se sentir à vontade também pode despir-se”. Fora com a roupa, bem-vindos ao Samonatura, paraíso da estadia nua.
“Desde sempre que nós fizemos naturismo. Este sítio pareceu-nos cinco estrelas para fazer um espaço para quem gosta de andar ao natural”, conta-nos Martine, que deixou a Holanda em 1998 e chegou com o marido a Portugal para explorarem uma herdade noutro ponto do concelho de Odemira. Com os quatro filhos, aí se dedicam a cuidar das suas 300 vacas e a produzir leite. “Para nós, este turismo não é trabalho. Temos que trabalhar aqui, claro, mas é bom”, sorri. É que este é “um espaço de liberdade”.
“Vestido ou despido, parece simples mas é complicado para muita gente. É uma filosofia, as pessoas sentem-se mais livres, todas as pessoas são iguais quando tiramos a roupa mais cara ou mais pobre.” E haverá diferenças entre o turista têxtil e o naturista? Sim. “Conseguimos sentir aqui um grande respeito pela natureza, são turistas mais calmos, não há gritos nem sujeira.” Há quem oiça falar de um resort naturista e pense logo em sexo, comento. “Sim, mas não é nada disso”, contraria Martine, “nem nunca notei isso por aqui”. Sexualmente, é igual a outro sítio qualquer. “Só há aqui gente relaxada, não há problemas desses.”
Enquanto conversamos e um casal e seus filhos brincam na piscina sem preconceitos molhados, vamos notando a dedicação de Martine a cada um dos dez hóspedes que neste momento estão por aqui. “Na maioria são casais, agora temos duas crianças, de vez em quando aparecem famílias”. Sobretudo holandeses e belgas, mas também há portugueses, conta-nos.
A oportunidade para criarem a Samonatura apareceu por acaso. Um amigo construiu aqui uma casa em 2001 e cinco anos depois decidiu vender. Fizeram negócio e aproveitaram para “transformá-la num belo resort naturista”, já com quatro casas independentes, montes modernos onde a madeira se une à pedra, de decoração simples mas com pormenores criativos, completamente equipadas e prontas a usar. Quatro casas é o máximo que pensam ter: “Mais gente não vale a pena, perde-se a proximidade”, assegura, salientando que já têm clientes fiéis, “que repetem a estadia”.
- Nome
- Samonatura
- Local
- Odemira, Vila Nova de Milfontes, Monte Novo de Samouquerinha
- Telefone
- 283694016
- Website
- http://www.samonatura.com/
- Observações
- Alojamentos: há quatro casas, para duas a oito pessoas. Incluem uso dos serviços (sauna, jacuzzi, piscina, barbecue, etc.; há também possibilidade de massagens).