Fugas - hotéis

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Uma casa oferecida ao sol

Por Patrícia Carvalho ,

Longe do movimento citadino e banhada pelo sol durante todo o dia, a Quinta da Bouça d’Arques é um recanto silencioso, cheio de árvores de flor e fruto e com uma piscina que nos deixou a sonhar com o Verão.

Era o início da tarde de um daqueles dias de sol gelados que têm marcado este Inverno quando chegámos à Quinta da Bouça d’Arques, em Vila de Punhe, a dez minutos de carro do centro de Viana de Castelo. Passado o portão, numa rua estreita, que parece (mas não é) ser só para nós, subimos o caminho ladeado por terrenos trabalhados de fresco, onde está a ser plantada uma vinha, até à fachada da antiga casa senhorial. João Couto esperava-nos aí, indicando-nos o parque de estacionamento improvisado, à direita. O Porto ficara para trás há apenas uns 45 minutos, mas já parecia outro planeta. O silêncio, o sol imenso a aquecer cada recanto do terreno, fizeram-nos soltar um profundo suspiro. Tínhamos chegado e nas próximas horas era como se nada mais existisse além desta acalmia.

A viagem fora apenas perturbada por um acidente que nos obrigara a trocar as voltas ao caminho, quando já estávamos bem perto da quinta. Numa rua estreita, um camião e um pequeno automóvel de dois lugares, que viajavam em sentidos contrários, não foram capazes de se cruzarem, e ficaram, literalmente, encostados um ao outro, ocupando toda a estrada. A alternativa, já que os dois condutores indicavam, calmamente, que a resolução do problema ainda ia demorar, foi dar a volta e procurar outra rota de acesso até à Quinta da Bouça d’Arques, uma antiga casa brasonada, em que os espaços de apoio – como a eira ou os celeiros – foram transformados em pequenas casas turísticas.

A alternativa revelou-se fácil e não tardamos em descobrir um dos pontos fortes do espaço de turismo – a forma como todas as construções estão voltadas a Sul, deixando-se banhar pelo sol durante todo o dia.

João Couto, que, com a mulher, Ana, deu forma ao projecto sonhado pelos pais dela, donos da casa e dos terrenos envolventes, foi o nosso guia. Primeiro, a casa onde íamos ficar, baptizada de Jacarandá. Mesmo em frente ao parque de estacionamento, chega-se à casa subindo uns degraus originais, que parecem suspensos no ar, e passamos por um pequeno pátio, que em dias mais quentes há-de ter muita serventia, antes de entrarmos na sala maravilhosamente aquecida da habitação. Desenhada para duas pessoas, pela arquitecta portuense Paula Pinheira, esta casa é, juntamente com a vizinha, a excepção às restantes habitações da quinta. Porque foi construída de novo, não resultando do aproveitamento das antigas construções de pedra do local.

Lá dentro há uma sala, uma kitchenette, um quarto com duas camas e uma casa de banho. Tudo impecavelmente arrumado num espaço pequeno, mas que parece grande e em que é possível autonomizar o quarto da sala, fazendo deslizar paredes corrediças, que isolam as duas divisões no caso de alguém querer ir dormir cedo, enquanto o outro ocupante fica na sala.

Se assim for, para se entreter, há televisão e revistas, mas também um conjunto de vídeos e jogos que podem ser requisitados na recepção.

O espaço aquecido e aconchegante, em tons de branco e castanho claro, as mantas que repousam aos pés das camas e as laranjas colhidas das árvores em volta, que nos dão as boas-vindas numa taça em cima da mesa, clamam para que digamos a João que ficamos já aqui, que não queremos ver mais nada, mas acabamos por não ceder à tentação.

Afinal, o sol ainda vai alto e há muita coisa para ver. Caminhamos entre árvores carregadas de tangerinas, limões e laranjas. Tudo cheira bem e sabe ainda melhor. Subimos um pequeno declive e chegamos à piscina, alimentada com a água das minas da propriedade. Está num sítio perfeito, protegida por sebes verdes, rodeada de um relvado bem tratado e em que tudo, tudo, está de braços abertos para o sol. Não fosse o frio e saltávamos lá para dentro. Mas como é Inverno (e bem frio, por sinal), continuamos o caminho com a certeza de que, se fosse Verão, ninguém nos arrancava dali.

Percorremos, então, o terreno por trás da casa grande e de fachada amarela, em que a parte mais antiga tem já 150 anos, entrando e saindo de cada uma das oito casas que João e Ana começaram a remodelar há dezoito anos, quando o turismo de habitação ainda dava os primeiros passos. Para duas ou quatro pessoas, todas com nomes de árvores, as casas não dispensam uma pequena kitchenette e estão decoradas com móveis antigos recuperados, que pertenciam à própria quinta, misturados com outros mais modernos, mas que se conjugam na perfeição com os primeiros. Há magnólias e cameleiras à espera de florir, há musgo no chão, há tanques de água fresca ao sol e à sombra, que se enchem de risos de crianças no Verão, há um espigueiro e há até uma casa de brincar para os mais pequenos.

Há tudo isto e há ainda o pequeno bosque, por onde João nos leva agora. “É aqui que fecho os negócios”, diz, sorridente, o bancário e empresário turístico, enquanto vamos calcando as folhas que cobrem por completo o caminho, passando ao lado dos ouriços com castanhas esquecidas e subindo sempre, contornando a área de construções lá em baixo e que, entretanto, já desapareceu da nossa vista.

Lá em cima, atravessamos um muro baixo e estamos num caminho desconhecido. “Esta era a antiga estrada real que ligava Braga a Viana”, explica João Couto, enquanto se vai alegrando com o facto de o seu pequeno bosque nunca ter sido apanhado por um incêndio – fruto dos cuidados de manutenção, garante, mas também daquela velha estrada, que serve de corta-fogo, separando o terreno da quinta da restante floresta que continua do outro lado.

Quando começamos a descer, atravessamos recantos limpos entre as árvores, onde nos imaginamos encostados a um tronco, a ler um livro e a apanhar sol, longe de todos os olhares. Mais uns passos e estamos junto à piscina. Agora sim, queremos ir aproveitar o quentinho da nossa Jacarandá.

Fazemos um chá, pegamos nas mantas e aproveitamos o sofá. Deixamos abertas as cortinas que correm ao longo de uma das paredes em vidro, para que o sol continue a entrar ali durante um pouco mais de tempo, entre as traves de madeira. Se estivesse calor, podíamos fazer correr uma das portadas de vidro e deixar que uma brisa fresca corresse para o interior, entre as traves. Assim, deixamos tudo fechado e o aquecimento ligado, pousamos as mantas nos joelhos e apreciamos o silêncio.

João Couto dissera-nos há pouco que a instalação de kitchenettes nas casas fora “fundamental” e percebemos porquê. A quem apetece agora pegar num carro para sair deste paraíso silencioso e ir procurar um restaurante? Tivéssemos vindo munidas de mantimentos e já ninguém nos arrancava da nossa casinha de bonecas. Como não viemos, aceitamos o convite de João para jantar - e é claro que não nos arrependemos. O robalo com batata a murro que a Tasquinha da Linda, no porto de Viana de Castelo, preparou para nós está absolutamente delicioso. Regressamos à quinta para descobrirmos um céu recheado de estrelas, o silêncio que promete uma noite bem dormida e o aconchego de uma casa à nossa medida.

Antes de partirmos, a Paula, que toma conta da quinta no dia-a-dia, perguntara-nos se queríamos o pequeno-almoço no quarto ou na antiga eira, agora transformada em sala comum para os hóspedes da quinta. Escolhemos a eira e, por isso, de manhã, com mais um belo dia de sol, e depois de o sino da igreja ter dito que eram horas de levantar, caminhámos até à eira, onde já ardia um fogo na lareira. Pouco depois, chegava ela, com um cesto de vime nas mãos, que escondia pão, bolo, iogurtes, um fantástico doce de abóbora e nozes que se cortava em cubos, cereais e fruta descascada. Vinha também o leite quente, que o chá e o café já estavam na sala e, pouco depois, Carlota, a filha de João, entrou com outro cesto carregado de tangerinas que acabara de colher de uma das árvores.

Foi demorado, o pequeno-almoço, e não foi fácil dizer adeus. O sol em cada recanto pedia para que ficássemos mais um pouco. Se ainda ao menos chovesse...

A Fugas esteve alojada a convite da Quinta da Bouça d’Arques

Nome
Quinta da Bouça d’Arques
Local
Viana do Castelo, Barroselas, Rua Abreu Teixeira, 333
Telefone
968044992
Website
http://www.quintaboucadarques.com/
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