Fugas - viagens

Paulo Pimenta

O Verão numa montanha-russa

Por Andreia Marques Pereira

Pode agora viver em Penafiel, mas a casa do Bracas mantém o nome. A Bracalândia não só se transferiu de armas e bagagens de Braga como, em parte, se reinventou. Continua a ser parque de diversões, mas agora mais temático. O que significa que se atravessa o Zambeze em África, anda-se de montanha-russa no velho Oeste e a Corsária dá tonturas no Refúgio dos Piratas.

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Ainda não tinha aberto, as datas atropelavam-se e o nome era uma incógnita (com uma “forte” aposta “penalândia”, avançavam alguns), mas já havia um sinal inequívoco de que algo mexia ali naquele local: a roda gigante que se erguia na paisagem ainda desordenada. A roda gigante lá está, subindo acima do arvoredo, branca e graciosa, e nós vemo-la agora a espreitar para lá das janelas do escritório da Bracalândia o nome afinal manteve-se e continua sinónimo de parque de diversões (não é um Portaventura, muito menos uma Eurodisney, mas há quem diga que é o único verdadeiramente merecedor dessa designação em Portugal).

A Bracalândia fechou em Braga, reabriu em Penafiel e trouxe o Bracas com ela o dinossauro verde e sorridente que é mascote e dá o nome (inspirado, claro, pela Bracara Augusta onde viveu duas décadas). “Não fazia sentido mudar o nome. Até porque Bracalândia é já uma marca”, explica Sandra Almeida, guia improvisada (“retirada” do departamento financeiro) nesta visita pelo “território encantado” (o slogan do parque).

E Penafiel concentra as atenções. Nós estamos aqui nos escritórios, onde o ruído primeiro é do ar condicionado. Ambiente enganador. Saímos e o ruído de fundo torna-se protagonista a algazarra juvenil e o calor inclemente o sol quase não dá tréguas. Sorte a nossa, e de todos os visitantes, que a primeira visão geral do parque, que se estende a partir daqui num vale com uma pequena encosta onde a roda gigante (o olho que vê tudo aqui no parque) gira indiferente, nos traga em primeiro plano a montanha-russa aquática que estende os escorregas aqui para a entrada e sacode água em todas as direcções não a apanhamos, mas apenas o ruído dos “splashes” já refresca a disposição. “É o “Zambeze” [alusão ao rio africano]”, explica Sandra Almeida. Aqui, todas ou quase todas atracções têm nome e estão inseridas em territórios geográficos e/ou imaginários.

O Zambeze está em África e de cá de cima, África é uma série de telhados de palha, com uma enorme esplanada no meio (a maior do parque) servida pelo bar Kimbo. É uma das novidades da segunda vida (do resto da vida?) da Bracalândia. Mais do que um parque de diversões, é um parque temático; menos “feira popular” e mais Disneylândia.

A cenografia está a anos-luz dos parques temáticos da Disney, mas além de África passeamos pelo Bosque Encantado mesmo ao lado da Petit Paris, recuamos no tempo na Aldeia Medieval, atravessamos o mar até ao Refúgio dos Piratas, percorremos o Far West, encontramos o Mundo Perdido e espreitamos a Arábia, que começa a ganhar forma em breve chega o Oriente. Um pequeno paraíso para os mais jovens não é à toa que o público deste dia de semana à beira do fim do ano lectivo é quase integralmente composto por escolas do primeiro, segundo e terceiro ciclos que não quer alienar os mais adultos (e muitos não desdenham das montanhas-russas, a tradicional e a aquática, mas já lá iremos).

A roda nas alturas

Lançamo-nos, então, à aventura e, para as primeiras impressões, temos Sandra Almeida a nosso lado a substituir um mapa que, por enquanto, não existe. Acabaremos, depois, por fazer um percurso indisciplinado, sem perder nada, queremos crer. É opção nossa: descemos a rampa de terra batida atenção, o pó é uma constante no parque e deixamos África para o final. Involuntariamente (ou talvez não) dirigimo-nos para o arvoredo.

“Estamos à procura de verde”, confessam Elisa Almeida, Rui Costa e Maria José, professores em Miranda do Corvo e hoje “meros acompanhantes” dos alunos. “Eles queriam, eles decidiram, eles organizaram”, explica Rui Costa, professor de educação física. “Eu acho infantil, mas foi o que eles propuseram”, confessa Maria José. Assim, os três professores passeiam sozinhos, porque os alunos dispersaram-se entre as centenas de outros alunos, de outras escolas, que tomam o parque de assalto.

Aqui, há gotas de água que nos molham. Não sabemos de onde caem, mas apreciamos (há pormenores assim: por exemplo, as rochas que “cantam” e os Bracaversão-papa-lixo). Um edifício de madeira mesmo ao lado concentra uma fila interminável é o Apeadeiro dos Carvalhais, com destino panorâmico: é o comboio que faz o percurso por todo o parque e que vamos vendo sobre nós ou ao nosso lado, em percurso encarrilado. Uma boa primeira introdução, pensamos, mas não temos tempo para este conforto.

Prosseguimos e estamos na Idade Média o parque de merendas (a Corte do Rei Artur) ainda não está cheio (estará por volta do meiodia), o Lagarto também não é uma das atracções mais infantis, apenas um comboio em forma de lagarto num pequeno circuito oval com direito a passagem por um pequeno túnel. A Torre da Princesa, sim, está cheia de pequenos que vão subir alguns metros a pique, mas a grande fila está no Castelo Assombrado.

Está num pequeno monte, chegamos por escadas entre casas de pedra estas a sério, recuperadas da quinta que aqui existiu em tempos, e transformadas em cenários: espreitamos uma e vemos um corpo envolto em ligaduras e membros amputados.

O castelo é novo e a “pedra” indica-o. Há brasões pendurados nas ameias e fantasmas no interior escuro. Uns são bonecos (como a “noiva cadáver” que não pára de se mexer), outros são de carne e osso. Tânia Coelho vai vestir agora o fato negro, com o esqueleto fluorescente para se sentar num baú e assustar miúdos que passam no comboio. A cacofonia é intensa, berros, conversas. “É a reacção normal. Isso e tentarem tocar nas coisas”.

Ao sol à beira da roda gigante a mesma que durante anos girou na Feira Popular de Lisboa, o que todos querem é sentar-se nos bancos que os hão-de levar às alturas. “O London Eye é como isto, em Inglaterra”, diz Fábio, 12 anos, no meio do seu grupo. Já lá foste?, quer saber a professora. “Não.”. Ana Rocha e Joana Filipa, 13 anos, vindas de Santo Tirso, avaliam, cépticas. “Há piores”. “Nunca andei, mas sei”, concretiza Ana. É como a montanha-russa, de onde vinham: “Nem por isso é assustadora”.

E vamos então à montanha-russa, Montanha Mágica de nome oficial, o gigante metálico amarelo que era a atracção principal em Braga, em pleno Far West. Cinco carruagens em barulhos trepidantes mais os gritos de entusiasmo. Rui Teixeira e Afonso Moreira vêm das Caldas da Saúde, o primeiro tem 14 anos o segundo apanha-o depois das férias, que passarão em França.

Perderam-se do grupo do colégio que frequentam e estão à sombra do Far West, entre a montanha-russa e o Rio Bravo (na verdade, pouco bravo, pequenas canoas de madeira, em procissão lenta por um canal mínimo), calmamente a fazer planos. “Talvez os carrinhos de choque”. “Mas isso há em todo o lado”. “Pois”. Até agora, o melhor, sem dúvida, foi a montanha-russa, concordam os “melhores amigos”.

“Fomos com um grupo grande, mas separámo-nos”, contam. “Foi excelente, é emocionante”. E “é muito melhor do que a Corunha”, afirma Rui, o porta-voz do duo e a Corunha é o passeio habitual do oitavo ano do colégio deles. Este ano, “houve problemas”, e vieram aqui. “Muito melhor” e ainda nem experimentaram a “montanha-russa de água”.

E também não passaram ali pelo cenário do forte do Oeste, “demasiado infantil”, com a sua roda em miniatura e a carruagem de pioneiros. Não chegaram a reparar no Marly Barber Shop Health Care, onde por 3,50 euros pode sair-se um “índio”, com pinturas de guerra e penas.

A esta hora, é uma “cidade” abandonada, ali encolhida num pequeno vale entre o Mundo Perdido e a paisagem inóspita do velho Oeste, com os seus cactos e índios a fingir no Mundo Perdido também se finge, dinossauros e esqueletos “encaixados” nos montes: são cenários apenas, para serem apreciados do comboio panorâmico.

Água para todos

Na verdade, o fingimento é o modo de vida de um parque de diversões. Mas no Refúgio dos Piratas, o fingir tem um galeão, ancorado em terra firme junto a um “charco” (só de aspecto, a água é corrente e vem do rio Cavalum) para percorrer e um “tesouro verdadeiro”, garante Marta, oito anos, enfrentando a negação dos colegas. “Mas brilha”, teima. Brilha na medida exacta da sua falsidade ao contrário do esqueleto que se pendura numa parede de pedra do parque que, dentro de uma gaiola, não brilha de falsidade para o grupo de alunos da Escola Básica 1 da Calçada (Oldrões, em Penafiel). Empoleiram-se nos ombros uns dos outros com um objectivo: tocar-lhe. “Para saber de que é feito”, explicam. Madeira ou barro são as apostas. Mas quando Micael, o mais franzino de todos, finalmente lhe toca, as dúvidas não se desfazem.

O grupo é demasiado pequeno para a principal atracção dos piratas, a Corsária. Na ponte de madeira que desemboca no forte dos piratas (canhões, árvores descarnadas com caveiras penduradas) todos correm para lá (ignorando a passagem entre rochas pela boca de uma caveira sob uma torre de madeira vigiada por um pirata atento de monóculo em punho) “Então, é fixe andar na ‘bailarina’?”, “Muito fixe!” e regressam por vezes com tonturas, ou não fosse a Corsária um carrossel giratório a alta velocidade, subindo e descendo as cadeiras.

Mais calmo é o (mini)carrossel parisiense, cúpula vermelha e branca sobre cavalos emplumados e carruagens-da-cinderela, da Petit Paris (há uma miniatura da Torre Eiffel e candeeiros de ferro mas o bar é um eléctrico amarelo que faz a linha da Ajuda). Aliás, todas as atracções são mais sossegadas aqui (há o Dumbo, onde os tradicionais aviões são elefantes-voadores, e outro carrossel com personagens inspiradas no universo Disney) e o público mais jovem. Mas nem por isso menos impaciente. Carolina vem com a escola, primeiro ciclo do Porto, com o pai e queixa-se que “a professora tem medo de andar em tudo”. Ela não só não tem medo, como está à espera do grande prémio. “A montanha-russa da água, logo à entrada. Quero atirar-me para lá”, afirma. Por agora, segue para a roda, enquanto o pai (que meteu um dia de férias para ajudar no passeio) não desdenha da sua opção: “Parece o divertimento mais adulto”, ri.

E no fim, o início. Passamos um relvado com caracóis gigantes e motas e carros em miniatura, espreitamos a cerca amarela e laranja que delimita o Bosque Encantado, um comboio com um percurso entre castelos, duendes e veados, mas também entre palhotas e camelos, até chegarmos a África. África Minha para voar (baixinho) em aviões dos anos 20; Sanzala para minicarros de choque zebrados; Bracalândia Dakar para mais um percurso em comboio, mas aqui o comboio são camiões num pequeno circuito a esgueirar-se entre jipes camuflados e esqueletos; Zambeze para todos.

Aqui, a fila nunca diminui e a única queixa de quem sai é que devia ser maior nos “tubos-rio”, algumas curvas e três elevações de diferentes tamanhos a simular rápidos é o que existe (mais os “splashes” e a água que todos caem na tentação de atirar sobre quem espera). Já nos tinham dito que era inequivocamente a atracção mais popular do parque “por todas as idades, mesmo os mais pequeninos, acompanhados por adultos”, explicou Sandra Almeida.

E a verdade é que anda na boca (e, por vezes, no corpo: à hora do almoço, Daniel, 10 anos, mal pára quieto tentando secar a água “atirei-me à água”) de todos os que por aqui circulam.

INFORMAÇÕES

Bracalândia
Rua de Santo André, Marecos
4560-221 Penafiel
Tel.: 255 723 584
Fax: 255 723 586
www.bracalandia.com

Horários: Julho de segunda a sexta-feira das 10h00 às 20h00, sábado e domingo das 10h00 às 24h00; Agosto de segunda a sexta-feira das 10h00 às 22h00, sábado e domingo das 10h00 às 24h00. Fecha no final de Outubro.

Preços: crianças (menos de 5 anos) e seniores (mais de 75 anos) grátis; jovens (dos 5 aos 12 anos) e seniores (dos 65 aos 75) a €14; adultos (entre 13 e 64 anos) a €18.

Como ir

Do Sul: Seguir a A1 em direcção ao Porto e prosseguir, pela ponte do Freixo, para a A4 em direcção a Vila Real. Sair em Penafiel Sul a Bracalândia fica perto do Parque da Cidade.
Do Norte: Seguir a A3 em direcção ao Porto e apanhar a A4 para Vila Real. Sair em Penafiel Sul a Bracalândia fica perto do Parque da Cidade

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