Fugas - viagens

Paulo Pimenta

A atracção das piscinas biológicas

Por Maria João Guimarães

Começam a ser uma mais-valia oferecida em alguns locais de turismo, especialmente no turismo rural. Por motivos estéticos ou para apelar a um público cada vez mais "verde". A Fugas visitou duas piscinas destas, uma a norte e outra a sul

Quem sabe o que é uma piscina biológica? Não é um lago, nem sequer uma piscina natural. Na piscina biológica não se nada ao lado de peixes ou entre os juncos, mas há vida, vegetal e animal, muito perto.

Trata-se de uma piscina artificial, mas onde a purificação da água não é feita por cloro mas sim pelas plantas e animais. A água pode ser um pouco turva quando se vê de fora, mas é límpida ao entrar. Por motivos estéticos ou para apelar a um público cada vez mais “verde”, as piscinas biológicas começam a ser oferecidas no turismo, especialmente no turismo rural.

Uma tela cobre o fundo da piscina e as paredes. Ao fundo, uma parte da água tem plantas e está rodeada de seixos brancos, de onde os sapos saltam rapidamente à nossa passagem (nunca ficam perto das pessoas). Esta é a parte da piscina que tem vida, com os seus juncos e nenúfares. A parte reservada à natação é quase separada - há uma divisória suficientemente alta para não permitir a passagem de pessoas, mas que fica abaixo da linha da água e deixa que a água circule.

Estas duas áreas tocam-se, assim, e por vezes os animais entram na zona de natação, fugindo rapidamente quando alguém entra na piscina: desta forma a parte onde se nada fica completamente livre de vida animal.

Ao início, mergulhar numa piscina biológica é um pouco diferente de entrar numa piscina normal - a água é mais turva, o fundo mais escuro, mas consegue-se vê-lo. E talvez a água tenha mais zonas com temperaturas diferentes do que numa piscina convencional.

Há uma ligeira estranheza inicial, mas rapidamente se começam a perceber os pontos positivos, desde logo no cheiro da água.

Depois percebe-se que não há mosquitos. E por fim, quando se sai da piscina, pode-se ficar a ver pequenos pássaros a fazer as suas coreografias aéreas em cima da água, com descidas vertiginosas até quase tocarem nela, para logo subirem e se afastarem.

Para além de serem muito bonitas, com toda a zona das plantas (e, sim, também dos sapos), a grande vantagem das piscinas biológicas é não terem cloro. A água não tem aquele cheiro a piscina convencional, é uma água limpa e natural. Para quem tem pele sensível, é um bálsamo: sair da água e poder ficar ao sol sem sentir a pele a repuxar (nem ficar com o cabelo ressequido).

Este tipo de piscinas é procurado por quem tem preocupações ambientais e gosta de tudo o que é biológico ou “verde” - a maior vantagem é não só a ausência de químicos para o tratamento da água, mas também alguma poupança de água, porque a piscina não tem de ser esvaziada no Inverno - , por quem tem pele sensível, ou por quem simplesmente quer algo diferente. É necessário algum acompanhamento da piscina e limpezas regulares, mas a água não é parada - circula entre as duas zonas. A qualidade da água é regularmente testada e a vida na piscina é supervisionada com frequência por biólogos.

Dois exemplos

As piscinas biológicas são actualmente vistas como uma mais-valia para o turismo. Nos locais que a Fugas visitou, a motivação para ter uma piscina destas surgiu por ser a opção que melhor se enquadrava com o tipo de turismo rural, noutro caso pela necessidade de ter algo diferente.

Na Casa do Alto da Eira, no interior alentejano (em Albergaria dos Fusos, Cuba), a opção pela piscina biológica surgiu depois da sugestão de um arquitecto, explicou Luís Varela, o proprietário: a piscina (cerca de 10x10 metros no total) enquadra-se especialmente bem neste espaço de turismo rural. Está num ponto alto, com vista para o montado e as oliveiras. A água vai até uma cercadura de seixos brancos que a delimita, e uma barreira na mesma tela que faz o revestimento impermeável separa as duas zonas, de vegetação e de natação, deixando uns centímetros comuns por onde circula a água.

Esta separação só se vê mais perto: ao longe parece um único corpo de água. O coaxar dos sapos é interrompido por vezes pelos sinos das ovelhas que pastam perto mas quase não se vêem. Há almofadões de cores vivas no pequeno banco de pedra e uma espreguiçadeira na relva ao lado da piscina para descansar depois dos mergulhos. Alguns sapos mais atrevidos podem saltar para a parte de natação, mas quando se entra na piscina a vida animal desaparece para o seu lugar, atrás das plantas.

A Casa do Alto da Eira está numa pequena aldeia com pouco mais de uma centena de casas e dois cafés, num sossego total. Foi reconstruída seguindo a tradição local: a maioria é em adobe, o que faz com que seja mais fresca no Verão e menos fria no Inverno, e apenas acrescentos como casas de banho são em tijolo (há fotografias do processo num álbum na casa, para os mais curiosos), e tem uma lareira e um forno de lenha. Tem quatro quartos duplos (três com casa de banho privativa). Pode-se optar por alugar um quarto (75 euros por noite) ou a casa toda (200 euros no total por noite).

Já no caso do Hotel Nascente do Ave, em Rossas (Vieira do Minho), o proprietário, José Lopes, conta que “ouviu falar” deste tipo de piscinas e como queria algo diferente para o seu hotel foi pesquisar na Internet até encontrar alguém que as fizesse. Não está nada arrependido - mas admite que de vez em quando há quem chegue à piscina e não tome banho. Mas muitas outras pessoas gostam, e ele sabe bem que não é possível agradar a todos.

O Hotel Nascente do Ave também está num local bastante isolado. Para lá chegar, vindo de Braga, é uma hora de estradas de curvas até se chegar à vila de Rossas, onde está o hotel. Muito perto da Barragem do Ermal (é possível ir a pé num passeio de cerca de hora e meia), é um sítio cheio de verde, está perto de aldeias tradicionais e ainda, já um pouco mais longe, do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

O hotel de duas estrelas - mais do género pensão do que hotel - tem 12 quartos, com um café e ainda um restaurante, o que pode dar jeito porque os locais mais próximos com sítios para comer estão bastante longe, em Vieira do Minho ou Póvoa do Lanhoso. Vai ainda abrir este Verão um segundo edifício, mesmo ao lado da piscina (que é a uns metros do actual hotel) com outros 13 quartos.

A piscina do Hotel Nascente do Ave tem uma boa dimensão (34 m2, metade destinado à zona de natação) e tem um bar de apoio na relva, que ainda estava fechado na visita da Fugas. A disposição também é diferente: na piscina da Casa do Alto da Eira apenas um dos lados da piscina não tem a zona de plantas, nesta piscina no Nascente do Ave a zona está mais separada, com a divisão sinalizada com uma corda - a zona de contacto das águas faz-se apenas num dos lados menores do rectângulo, deixando a parte da natação mais livre.

Ambos os proprietários gabam as vantagens da sua opção pelas piscinas biológicas. Mas nem sempre é assim: no caso da Casa Vicentina (Odeceixe), também visitada pela Fugas, a piscina acabou por se transformar num problema: muitas pessoas achavam-na muito bonita mas depois não mergulhavam, e por outro lado começou a haver problemas com a vegetação, o que exigia o uso de produtos químicos. Assim, os proprietários desistiram e deixaram a parte dos juncos a enquadrar a piscina, agora convencional, num arranjo paisagístico.

Hotel Nascente do Ave
Lugar de Saínhas - Vila de Rossas
Vieira do Minho
Tel.: 253 75 20 30
nascenteave@oninet.pt
Preços: 40 a 50 euros por quarto na época alta
Como ir - De Braga: sair de Braga em direcção a Vieira do Minho, o hotel é a seguir a Guilhofrei (no caminho com mais curvas); para um caminho mais longo e com menos curvas, ir directo a Vieira do Minho e depois seguir na N304 para Rossas

Casa do Alto da Eira
Rua do Alto da Eira
7940 Albergaria dos Fusos - Vila Ruiva - Cuba
Tel.: 967786663
http://www.altodaeira.com.pt
reservas@altodaeira.com.pt
Preços: 75 euros por noite/quarto 200 euros noite/a casa toda
Como ir
- De Lisboa: apanhar a autoestrada A2 para Sul. Na saída de Beja apanhar o IP8 e seguir em direcção a Cuba. Depois de Cuba, continuar em direcção a Vila Ruiva, onde começa a haver indicações de turismo rural. Chegando a Albergaria dos Fusos, a Casa da Eira é mesmo no cimo da aldeia, num dos extremos da Rua do Alto da Eira.

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