Fugas - viagens

Enric Vives-Rubio

Catarina, a sua guia portuguesa na cidade que nunca dorme

Por Ana Rute Silva

Depois de ter trabalhado no sector hoteleiro, aventurou-se na Big Apple e já tem um negócio próprio. Aos 29 anos, desenha guias personalizados para quem dispensa dispersões numa cidade que pode engolir turistas e quer fazer o que realmente vale a pena. Aproveitámos uma sua passagem por Lisboa e fomos conhecê-la

Catarina Perestrelo chegou a Nova Iorque em 2007 com dinheiro suficiente para aguentar dois meses. Na mala trazia cinco anos de experiência no sector da hotelaria, com passagem pelo Hotel Dom Pedro e Four Seasons, depois do curso de Marketing e Relações Públicas no Instituto Superior de Comunicação Empresarial.

A Big Apple abriu-lhe os braços, fazendo jus à fama de terra de oportunidades. Com o visto de turista prestes a caducar, encontrou emprego na Thompson Hotels como front office assistance manager. Ou seja, geria a recepção e supervisionava a portaria e os serviços de conciérge. Os amigos começaram a telefonar-lhe e a pedir sugestões de restaurantes bons para jantar ou hotéis interessantes. Os pedidos começaram a avolumar-se. "Depois dos amigos, eram os conhecidos. Funcionou como passa-a-palavra", conta à Fugas, sentada na Brasileira do Chiado, numa passagem por Lisboa.

Nova Iorque consegue engolir turistas. Há tanto para ver e a ânsia de não perder pitada é tal que é fácil perder o norte no meio das ruas planas e grandes avenidas. Os pedidos constantes a Catarina deram-lhe uma ideia de negócio. "O que queria era fazer guias personalizados para clientes, tratar da reserva dos hotéis, restaurantes, espectáculos da Broadway, um serviço à medida e personalizado", conta. Primeiro enviou um e-mail a 50 pessoas que conhecia do sector para saber o que pensavam e o feedback foi positivo.

Catarina, 29 anos, lançou-se à aventura na cidade que nunca dorme e passou a oferecer um leque de quatro serviços a quem quer conhecer Nova Iorque pelos olhos de alguém que já lhe distingue todos os cantos. Faz reservas de hotel, que incluem descontos ou upgrades consoante a disponibilidade (directamente através do director geral da unidade hoteleira), marca restaurantes de difícil acesso e com listas de espera consideráveis, bilhetes para concertos ou uma sessão de spa, faz acompanhamento ao longo de toda a estadia ou elabora um guia personalizado dos melhores locais a visitar (desde museus aos cafés onde se come o melhor brunch da cidade). Finalmente, a sua empresa, a Catarina Perestrelo Personal Concierge Services, também organiza espaços para eventos.

"O meu cliente é o jovem homem de negócios ou do mundo empresarial. Não quer perder muito tempo à procura, quer divertir-se ao máximo tal como um nova-iorquino faria", revela.

Os guias personalizados são feitos um a um, adaptados aos gostos e anseios do turista. Catarina responsabiliza-se por todas as marcações e sublinha que este não é um programa típico turístico. Afinal, é a sua vasta rede de contactos que lhe garante reservas em lugares de difícil acesso, com lista de espera de três meses. "Passa por ter experiências como beber um chocolate quente muito bom que há no Soho, jantar no Cipriani ou experimentar o melhor brunch. A alma do meu negócio depende das minhas ideias", diz.

Um dia bem passado em Nova Iorque começa no Central Park com uma visita ao Jacqueline Kennedy Onassis Reservoir, bem no meio do emblemático parque, e onde se vêem os arranha-céus de Nova Iorque. Depois, seguir pela movimentada Quinta Avenida, entrar na livraria Barnes & Noble, aproveitar o Meatpacking District, antiga zona industrial recuperada onde se pode, por exemplo, espreitar a loja de Christian Louboutin ou experimentar os vários restaurantes que a zona oferece. Catarina aconselha uma ida ao museu The Frick Collection, "instalado numa casa do século XIX no meio dos prédios modernos". Há muito para ver, paragens obrigatórias (como o Soho), e, claro, a Broadway. "É essencial", garante. A cidade é para ser visitada a pé ou de metro.

A empresa de Catarina está a avançar aos poucos. O que começou por ser um serviço conhecido entre amigos e conhecidos está agora a chegar a públicos mais vastos. "Um cliente satisfeito arranja três, um insatisfeito afasta dez", resume. Ainda trabalha sozinha, tendo apenas colaborações mais pontuais nos serviços de personal shopping, mais um a juntar à lista.

Cabe aos clientes pagar as suas próprias despesas. Catarina abre-lhes as portas, faz os guias com sugestões, planeia a estadia. Um casal pagará, em média, 150 euros pelos seus serviços. Um grupo ronda os 300 euros. Para quem quer ser guiado, o preço à hora é de cerca de 50 euros.

"Até agora tenho conseguido viver do meu trabalho e já tive mais de 200 clientes. Não é algo que se possa massificar. A atenção ao pormenor é essencial", sublinha. A conciérge portuguesa já lançou um serviço semelhante em Lisboa, mas admite que não fará tanto sentido. "É fácil arranjar mesa num bom restaurante, ao contrário de Nova Iorque", exemplifica. 

Lisboa continua a ser a sua cidade, a cidade do coração. Nova Iorque é um bom lugar de passagem, onde não se pára, não se dorme. Bom para fazer turismo.

--%>