Por isso, se os esquis ainda são objectos estranhos, as aulas para principiantes, disponíveis em qualquer estância, são a forma mais rápida de começar a dar-lhes uso.
Mas recuemos no tempo. Não é só nas pistas que se aprende. As primeiras lições surgem nos espaços de aluguer de equipamento. A saber para quem acha que calça um número muito grande: toca a engolir o orgulho e nada de pedir o número abaixo.
Aliás, melhor pedir o número acima. A rigidez das botas, aliada ao facto de estas terem de ser convenientemente apertadas, pode tornar-se dolorosa o suficiente para fazer de uma experiência destas um verdadeiro pesadelo. Depois há que ter em conta a quantidade de roupa. Está frio, é verdade. Mas o esforço físico depressa faz esquecer as baixas temperaturas. Por isso, das duas uma: ou sofre-se um pouco de início e limita-se as vestes a calças e blusão impermeáveis (não esquecer uma boa roupa interior, luvas e gorro) ou faz-se a preparação para o frio e leva-se uma mochila para ir guardando o que se vai despindo. Uma coisa é certa: a sensação de calor não tardará, logo a começar pela caminhada ao estilo "homem na lua" com os esquis e os bastões às costas.
Das experiências entre os vales de Aragão e de Tena, percebe-se que Formigal será uma estância mais adequada a esquiadores já com alguma experiência. De grandes dimensões e preparada para receber milhares por dia, o espaço de aluguer de equipamento, inserido num complexo que inclui ainda zonas de refeições, bar e lojas, pode tornar-se uma roda-viva.
Lá fora, os grupos de aprendizes multiplicam-se e, não obstante o vasto espaço dedicado ao ensino da modalidade, atropelam-se no sentido literal da palavra.
Muito diferente de Astún, de ambiente mais familiar. Aqui, há tempo para acolher principiantes, conversar um pouco enquanto se experimentam botas e se calibra o par de esquis. Na neve, tão fofa como a idealizamos sempre, Joni, o instrutor, dá o mote. Primeira coisa a aprender: fixar as botas nos esquis sem cair para o lado.
Depois, naturalmente, para conseguir descer há que subir primeiro. A primeira tentativa é desastrosamente cansativa. A segunda menos má. À terceira, compreende-se: isto afinal faz-se com uma perna às costas. Segunda lição: mantermo-nos no mesmo sítio sem deixar que os esquis deslizem sozinhos.
E nesta, voltam a surgir dificuldades: há quase sempre alguém que se deixa ir (por vezes até levando o vizinho do lado a reboque) fala a voz da experiência.... Joni brinca: "Mandem um postal quando lá chegarem". E pimba! Ainda agora se estava a esquiar na neve e agora já se está a esquiar em relva (feliz e naturalmente, há sempre barreiras de segurança). As risotas multiplicam-se o que em nada alivia o cansaço mas em menos de 15 minutos já há quem desça sem a ajuda dos bastões e até quem consiga mudar de direcção.
Ainda que nem sempre na direcção pretendida. O certo é que antes do fim da primeira ou segunda aula a maioria já andará a subir no tapete rolante e a arriscar-se num desnível que acharia bastante improvável apenas uns minutos antes. Por isso, quase nos arriscamos a garantir que ao fim de uma única aula já se sentirá mestre dos esquis. E mesmo que isso não aconteça, a diversão é garantida. Depois, o segredo é o mesmo de todos os desportos: respeitar regras, sentir o corpo, aprender, repetir, repetir.