Fugas - viagens

A cervejaria artesanal

Por Andreia Marques Pereira ,

Alojamentos em espaço rural, albergues de peregrinos, até restaurantes ou cervejarias. Há vida nova em antigas escolas primárias e o turismo é a mais-valia. Fomos conhecer sete projectos para um outro regresso às aulas.

Começou por ser um hobby para João Palmeira “espairecer” dos seus dois trabalhos – numa clínica (tem formação em motricidade humana e terapia física) e num call center. Mal sabia ele que o hobby seria um trabalho, talvez mesmo uma vocação e que esta viria a encontrar “casa” numa antiga escola primária. Foi em Águas Santas (Póvoa de Lanhoso) que encontrou o espaço necessário para dar o passo que a sua cerveja artesanal precisava para chegar a mais gente. Da cozinha do seu apartamento em Braga para a garagem do seu pai, até à escola primária que fica mesmo ao lado da casa dele foi o tempo de ficar desempregado, de ver as suas cervejas andarem de boca em boca entre os amigos (com uma ajuda das redes sociais), de ser convidado para o Art Beer Fest Caminha e ouvir opiniões favoráveis e imparciais e de ter conhecimento do programa da Câmara da Póvoa de Lanhoso de cedência de escolas desactivadas para negócios. E ainda não passaram dois anos.

Há um ano estavam João Palmeira e um amigo a começar as obras na escola; em Março deste ano começou a produção nesta escola que esteve 15 anos fechada. “Tinha mato até à altura do telhado”, recorda João. Agora o mato está limpo, embora a sua força, dada a localização ribeirinha, não deva ser subestimada, e as árvores herdadas estão pujantes e com novas companhias. A fachada principal deste edifício em espelho – duas alas simétricas, que correspondiam a duas salas de aulas – está preservada, era “uma condicionante da câmara”; o interior foi, contudo, “desmontado” e adaptado: numa das salas montou-se uma pequena linha de produção (com a máquina de produção, cubas de fermentação, máquina de engarrafamento e outra de rotulagem); na outra faz-se o armazenamento das garrafas, em paletes – e nas traseiras foi rasgado um portão para cargas e descargas, que terá de ser tapado caso a fábrica se deslocalize.

É daqui que saem as sete variedades de cervejas que João produz e cujos nomes são uma homenagem ao passado romano de Braga, onde a cerveja nasceu. Por isso, temos, por exemplo, a Bracara, uma “loira” suave, a Augusta, uma negra (stout) levemente picante, e um paraíso, Elysium, com mel. No Natal sairá uma “reserva especial”, que já está no armazém, engarrafada – será a Némesis, a mitologia grega a intrometer-se para sinalizar uma cerveja que “quebra as regras”, quase “um digestivo”. A fábrica não está preparada para receber visitas, mas a cerveja pode ser encontrada um pouco por todo o país, em restaurantes e lojas gourmet.

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