Tantos e tantos excessos são hoje cometidos na adega para que os vinhos tintos sobrevenham severos e carregados na cor, numa busca incessante por maior concentração cromática que conduz a extracções forçadas e a desmesuras e concentrações supérfluas. Por causa da cor, absolutamente irrelevante na apreciação e qualidade do vinho, muitos vinhos se perdem.
Os poucos que se desobrigam da exigência de uma cor profunda, os raros destemidos que se libertam do espartilho das matizes negras e opacas, sabem que a cor não é um fim per se. Basta atentar no J 2007, da operação alentejana da José Maria da Fonseca, um vinho de cor vermelha cereja muito aberta que, logo no primeiro olhar, garante um estatuto diferente, num enquadramento curioso entre uma visão moderna e clássica, entre a secura dos taninos e a graça da fruta, entre as notas de resina, terra molhada. e a baunilha do estágio em madeira. Um tinto admirável e original que vale a pena saborear.
Ou o Quinta dos Termos Selecção 2007, um vinho das Beiras que não se envergonha da sua cor avermelhada de profundidade simplesmente mediana. Um tinto muito particular, diferente e pejado de personalidade, rude nos taninos mas vigoroso e cheio de alma, espelho fiel de uma região alterosa e sóbria. A meio caminho entre classicismo e modernidade, é um tinto genuíno que gere um lote de castas tão diferentes como a Trincadeira, Rufete, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinto Cão. Um bom vinho num estilo alternativo que se saúda.
Igualmente vago na cor mostrase o sadino Anima L7 2007 que, apesar de o rótulo não o dizer explicitamente, nasceu na colheita 2007, apresentando-se vestido de tons vermelhos muito ligeiros e descorados. Se no nariz é a cereja que domina, resguardada pelo licor de ginja e um leve toque de caça, na boca é a acidez que comanda, impondo um ritmo endiabrado do ataque até ao fi nal de boca, obsequiada por um final longo e fresco. Igualmente atraente apresenta-se o Quinta de S. Francisco 2007, da região de Lisboa, vestido de cor vermelha rubi com bordo magenta. O nariz propõe fruta fresca, numa tela bem composta, elegante e bem proporcionada. A boca confirma a elegância e compostura, com fruta sincera e expressiva, proporcionando um vinho alegre e agradável, que dá prazer beber.