Não é fácil vender vinho português fora de fronteiras, fora do conforto de um mercado interno que raramente admite, mesmo que como mera hipótese académica, poder vir a adquirir e beber vinhos provenientes de outros países. Não é fácil impor o timbre dos vinhos portugueses num mercado internacional já de si saturado por uma oferta global e desafogada de vinhos oriundos de inúmeras nações espalhadas pelo mundo, numa competição sempre crescente entre os países europeus tradicionais e os novos países produtores. a que acrescem os países emergentes, com destaque especial para a China, actualmente já entronizada na sexta posição como produtor mundial.
Bastará uma visita a um dos muitos certames internacionais de vinho que se distribuem de forma mais ou menos uniforme pelo mundo para perceber a dimensão e competitividade extrema do mercado internacional do vinho.
Um passeio pela Prowein, uma das maiores feiras de vinho realizadas na Europa, pensada e projectada especialmente para o mercado germânico mas com forte influência nos mercados do leste europeu, é suficientemente esclarecedor sobre a tarefa dantesca com que se depara a generalidade dos produtores nacionais.
Num espaço de exposições de tamanho desmedido, que ocupa sete enormes pavilhões da feira internacional de Dusseldorf, a mostra portuguesa, de dimensões excepcionais e com um número elevado de produtores presentes, não consegue ocupar mais que uma pequeníssima parte de um dos sete pavilhões, permitindo perceber a real dimensão da competição extraordinária a que os produtores nacionais estão sujeitos.
Para além da concorrência clássica dos vinhos franceses, italianos e espanhóis, junta-se a ameaça vigorosa dos vinhos californianos, argentinos, chilenos, sul-africanos, australianos e neozelandeses. a que se acrescenta a nova intimação de países como a Roménia, Bulgária, Grécia, Áustria, Eslovénia ou Uruguai. Uma mão cheia de países produtores, tradicionais e incipientes, que disputam os mesmos mercados de forma enérgica e agressiva, com todas as armas que dispõem.
E nesse capítulo Portugal tem, infelizmente, muito pouco a oferecer aos produtores nacionais.
Não é fácil difundir e exaltar o nome dos vinhos portugueses além-fronteiras quando a imagem externa de Portugal perdura simultaneamente tão ténue, desconhecida e desvalorizada. Não é fácil disputar mercados quando a imagem que Portugal continua a perpassar não se afasta de um amargo cinzentismo. Para além do eterno futebol, absolutamente irrelevante na promoção económica do país, poucos são os símbolos portugueses conhecidos e respeitados. Desventuradamente, e salvo raríssimas excepções, nem sequer nos podemos apoiar na nossa gastronomia, um dos melhores motores para vender vinhos, por dedicarmos demasiado espaço ao mercado da saudade, insistindo na tipicidade, continuando a oferecer poucos restaurantes de comida portuguesa contemporânea nas principais cidades mundiais.
E no entanto, face a um mercado interno em declínio contínuo e acentuado, presa fácil das temíveis garras da crise financeira mas igualmente vítima do decréscimo vincado do consumo interno de vinho, a conquista de novos mercados transformou-se numa necessidade imperativa. Exportar representa hoje uma questão de sobrevivência para a maioria dos produtores nacionais. A análise é fácil e inteligível, mas a forma de o fazer é muito menos evidente.