Fugas - vinhos

Em Espanha também se fazem bons espumantes (mas aquele tinto...)

Por Aníbal Rodrigues

Os espumantes da Juvé y Camps demonstraram a sua valia num recente jantar num restaurante de Matosinhos que apresentou um polvo de respeito. É verdade que os espumantes eram bem bons, mas esta produtora da zona de Barcelona também faz tintos e deu a provar um de grande nível.
As vendas de espumantes em Portugal até podem continuar a apresentar picos em épocas festivas, mas qualquer pessoa minimamente interessada nas coisas de bem comer e beber sabe que esta bebida é boa acompanhante de refeições e não serve apenas para comemorar. Esses interessados conhecem a mítica fama do champanhe francês, eventualmente já o provaram, e mais facilmente constataram a evolução que os produtores portugueses atingiram nos seus espumantes que, apesar da qualidade crescente, apresentam preços para todas as carteiras.

Polivalência gastronómica e qualidade destes vinhos com bolhas feitos em Portugal e França parecem ser, então, dados adquiridos. Mas menos saberão que aqui ao lado, na vizinha Espanha, também se fazem espumantes de elevado nível. É o caso dos produtos da casa Juvé y Camps, situada nos arredores de Barcelona e que, segundo o seu responsável pela área das exportações, Toni Chortó, é líder do mercado premium espanhol. Recentemente, os espumantes (os espanhóis chamam-lhes cavas) da Juvé y Camps demonstraram o que valem num jantar realizado no restaurante En Casa, em Matosinhos. E aqui saliente-se também o contributo que a cozinha liderada por dona Júlia deu para salientar a qualidade destes néctares oriundos do país vizinho e que podem ser encontrados, por exemplo, no El Corte Inglés.

O primeiro espumante a entrar em cena foi o Cinta Púrpura Reserva Brut. Mostrou-se capaz de acompanhar queijo de Niza, presunto Pata Negra, chamuças e croquetes de alheira. De cor amarelo dourado com bolhas finas, estagiou dois anos em garrafa. As suas castas (Macabeo, Xarel lo e Parellada) são diferentes das portuguesas ou francesas, mas o sabor não difere assim tanto. Vendido por cerca de 11€, é um sensato patamar de acesso ao universo Juvé y Camps.

A seguir aumentou a delicadeza e o sabor com o Reserva de la Familia brut nature gran reserva (cerca de 14,90€), de tom dourado pálido e bolhas pequenas e abundantes. Estagiou 36 meses em garrafa e é elaborado com as mesmas castas do Cinta Púrpura, mais a Chardonnay. Interagiu com uns notáveis filetes de polvo com arroz do mesmo que tinham um agradável toque de originalidade, mas cujo segredo não foi revelado por dona Júlia.

A prova dos espumantes fechou em grande nível com o topo de gama Gran Juvé Y Camps Gran Reserva Brut (entre 35 e 39€) cujos fios de bolhas subem à superfície para formar uma coroa. Com 42 meses em média em garrafa, é feito das mesmas castas do Reserva de la Familia.

No entanto, se a Juvé y Camps é mestra em espumantes, a verdade é que um tinto da casa, o Iohannes Reserva 2007 ainda conseguiu mostrar maior categoria de braço dado com um bife provençal e batata palha. Potente, mas ao mesmo tempo redondo, demonstrou que não é exagero o que a progenitora diz a seu respeito: "opulento, robusto, untuoso e cheio de fruta." Não admira que este vinho, feito de Merlot e Cabernet Sauvignon, tenha ganho, em 2011, o concurso espanhol Nariz de Ouro. E como se não bastasse, a marca ainda diz que cada colheita melhora nos próximos dez anos.

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