Depois de ter mostrado fotos de Eugène Héllisse, em tons de sépia, de fato completo, boné e sapatos janotas, aos comandos de uma bicicleta, António Guedes exibiu um papel com caracteres datilografados já pouco visíveis. Observando com mais atenção, verifica-se que a empresa vendeu, em 1940, um total de 14.018 garrafas e que, passado pouco tempo, em 1946, talvez porque a II Guerra Mundial já terminara, escoou já 346.380. Uma evolução considerável em poucos anos, mas, ainda assim, nada comparável com os 14 milhões de garrafas vendidas em 2011, sendo que 65% deste total se destinou a exportação. Destes 14 milhões, 9,8 foram de... a resposta não é difícil: isso mesmo, Casal Garcia. A empresa espera, este ano, superar, pela primeira vez, a marca dos 10 milhões deste clássico.
No exterior do edifício principal da quinta, alguns pavões mostram a exuberância das suas caudas abertas em leque para se exibirem às fêmeas e até parece que gostam de ser fotografados. Uma atitude que contrasta com a sobriedade de António Guedes, do seu filho, António Azevedo Guedes, e do sobrinho, Martim Guedes. Estes dois últimos, jovens com pouco mais de 30 anos, fazem parte do conselho de administração da Aveleda S.A. e o entusiasmo com que falam da empresa assemelha-se ao do patriarca. António Azevedo, tal como o pai, tem formação em engenharia agrónoma, e vê-se pela robustez das mãos de ambos que já trabalharam a terra. Por seu turno, Martim conhece os números todos de memória. É o homem da área da Economia.
O padrinho de casamento
Por mais que se procure, é impossível encontrar na Quinta da Aveleda algo que denote mau gosto. Edifícios, matas, jardins, todos são um deleite para os sentidos. Talvez por isso, a quinta é visitada por cerca de 10 mil visitantes/ano. Os jardins estão abertos durante a semana e os turistas podem ainda provar os produtos da casa ou observar zonas mais técnicas, como o engarrafamento. Muitos visitantes são estrangeiros, mas os responsáveis pela empresa ainda não apostam decisivamente no enoturismo. Um dos reconhecimentos que comprovam a valia deste espaço foi o facto de a quinta ter sido galardoada com o prémio internacional Best of Wine Tourism 2011, na categoria de Arquitectura, Parques e Jardins. A componente de enoturismo poderá ser reforçada no futuro, essa possibilidade está a ser estudada, mas António Guedes rejeita, de antemão, multidões, pelo risco de estas poderem desvirtuar o sossego e a beleza do lugar.
"Estou encantada! É fantástico!", dizem duas senhoras, de aspecto distinto, a António Guedes, que troca algumas breves impressões com elas sobre flores e os jardins da Aveleda que contêm sequoias ou áceres, entre muitas outras espécies. Reside lá um mais vulgar eucalipto, mas que é bem invulgar pelas suas dimensões descomunais e já era gigante há 100 anos, como comprova uma foto de 1913 exposta a seu lado. Os pássaros celebram alegremente tanta luxúria verde e a disponibilidade de lagos artificiais que ajudam a refrescar o ambiente. E, como se tudo isto não bastasse, há ainda uma casa belíssima, digna de figurar num filme sobre famílias inglesas antigas e abastadas. É tão vasta e atraente que ainda hoje é utilizada, durante quase todo o ano, por vários ramos e gerações da família Guedes ciosos de manter este privilégio.