Cada vez que passa por um funcionário, António Guedes trata-o pelo nome e saúda-o com afabilidade. "Já fui padrinho de muitos casamentos", relata, bem-disposto. A empresa já teve 190 funcionários, mas hoje conta 163. Racionalizar é um verbo que também se conjuga aqui e "a tendência é para reduzir pessoas". Houve um cumprimento mais sentido, carinhoso, com abraços até, para um senhor que apareceu na quinta, tanto da parte de António Guedes como do seu filho e sobrinho. Era um funcionário, hoje reformado, que ocupou uma posição de destaque na empresa e que venceu a luta contra uma doença muito grave.
António Guedes tem seis irmãos. Um deles detém a Sogrape, empresa que, por volta de 1997, tentou comprar a Aveleda S.A., mas sem sucesso. "Fomos criados nesse sentido, de manter as coisas. Há sempre um ramo [da família] com mais afectividade." Estas frases soaram como se fossem ditas pelos três. Também por volta de 1997, António Guedes iniciou um processo de compra das acções dos seus cinco irmãos e respectivos descendentes, o que concedeu ao banco BPI 20% da empresa. Nota-se pelo tom de António Guedes que a tarefa não foi fácil, mas em 2008 conseguiram pagar tudo e recuperar o controlo total da empresa.
Outra época de dificuldades verificou-se no pós-25 de Abril, com a quebra das exportações para as ex-colónias. Mas a capacidade de seduzir outros países já fazia parte do ADN da empresa e hoje as vendas continuam a crescer, apesar da quebra no mercado português de vinhos (6% em 2011 e cerca de 7% este ano). A grande distribuição parece omnipresente em Portugal, mas Martim Guedes lembra que dois terços das vendas internas da Aveleda são para restaurantes e estes estão a fechar a um ritmo superior a duas dezenas/dia.
O pódio das exportações da empresa é constituído por países com elevado poder de compra. Por esta ordem de grandeza: Alemanha, EUA e França. E, para quem pense que o vinho verde é um produto sazonal, mais adequado à época estival, há clientes que compram os produtos da Aveleda durante todo o ano, como o Canadá ou os países nórdicos. Existe também muito a ideia de que Portugal é mais conhecido no estrangeiro pelo vinho do Porto. Não deixa de ser verdade, mas António Guedes lembra que o vinho verde é outro dos grandes embaixadores lusos e, como é feito a partir de castas autóctones, tem a vantagem de ser dificilmente replicável fora de portas.
O vinho e o queijo
A Quinta da Aveleda dispõe de 160 hectares de vinha, mas, ainda assim, só produz 15% dos milhões de quilos de uvas de que a empresa necessita anualmente. Os restantes 85% são comprados fora. Depois há mais 50 hectares de área da Quinta da Aveleda que não são vinha, 10 dos quais jardins. Já quase no fim da visita, António pai e filho mostram a menina dos seus olhos (e o seu apego àquelas terras): 30 hectares de vinha de Alvarinho, cuja uva é delicada e de baixa produção. A aposta nesta casta é para continuar e, a breve trecho, terão 40 hectares. Dentro de dois anos contam dispor de 50 hectares, o que será a maior área de Alvarinho de uma só empresa.