Fugas - vinhos

Domingos Soares Franco

Domingos Soares Franco DR

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Opinião: O perigo de se plantar castas a eito

Plantar Encruzado no Sul?

Antão Vaz no Minho? Para quê? Se à partida sabemos que primeira se dá bem com as características da região do Dão e a segunda com a região do Alentejo! Temos de parar com o "passa de boca em boca" de que este clone é melhor que aquele. Tudo depende das regiões assim como do vinho que queremos produzir. Dentro da mesma casta existem clones com diferenças enormes em produção por hectare, acidez total, potencial de álcool, polifenois, cor e pH. Temos de saber escolher.

A viticultura portuguesa tem de fazer mais experimentação das diversas variedades nacionais. Não é só plantar e dois ou três anos depois começar a comercializar o vinho. Temos de trabalhar bastante mais em viticultura a nível nacional, não basta um ou dois exemplos de bons técnicos, temos de ser tantos como os enólogos o são!

No que toca a enologia, estamos bem melhor a nível internacional. Desde os anos 90 Portugal deu um valente salto em frente em qualidade dos nossos vinhos. Com a introdução de novas tecnologias, desde a recepção de uvas na adega até ao engarrafamento, tem-se evoluído em grande escala. Grandes vinhos se têm produzido, sobretudo nas últimas duas décadas. A grande maioria não envergonha o país em prova cega. Temos de ter orgulho nisso.

Resumindo, a viticultura tem de trabalhar mais e enologia continuar a fazer grandes vinhos. Não somos os melhores do Mundo, mas estamos perto.

Azeitão, 12 de Maio 2014

p.s. - Os parágrafos anteriores foram escritos antes de eu ter participado, como provador no Concurso de Vinhos de Portugal 2014, em Santarém entre 13 e 15 de Maio de 2014. Não posso de deixar de escrever alguns comentários sobre o referido concurso.

É com enorme prazer que vejo este concurso de vinhos a ter projecção tanto a nível nacional como internacional. A qualidade de júris internacionais e nacionais tem vindo a subir substancialmente nos últimos anos. Pequenas alterações têm sido feitas, o que tem ajudado bastante na qualidade e rapidez das provas.

No entanto, tenho de registar que durante os três dias de prova e na mesa que estive sentado passaram por nós vinhos brancos de altíssima qualidade. Bastantes medalhas (ouro, prata e bronze) foram dadas.

Bom, se é assim para brancos então o que será para tintos, pensámos nós? Tenho de deixar aqui escrito o meu desalento e tristeza que tive quando começaram a servir os tintos na minha mesa! Mas que desgraça…! Será que afinal, enologia deixou de mostrar o que vale? Que miséria a maioria dos tintos que provei naquela mesa. Aonde estão os nossos enólogos que atrás exaltei? Vinhos com defeitos, sem cor, sem fruta, ácidos, taninosos, desequilibrados! Tive vergonha de ter na mesa sommeliers de renome mundial a provar estes vinhos tintos depois de brancos excelentes. Como é que num país que tem clima sobretudo para tintos e generosos, apresenta brancos tão bons e tintos tão medíocres?

Parabéns aos brancos e generosos. Quanto aos tintos, será que temos de recomeçar de novo? Parabéns à Viniportugal pela excelente organização deste concurso.

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