Junto ao Tejo, ali onde o rio já cheira a maresia, mora uma marisqueira de estilo e ambiente modernos, mas que ao mesmo tempo remete para a memória das históricas cervejarias de Lisboa. Fica em Belém e às portas do palácio presidencial que simboliza a República mas adoptou nome que invoca a realeza monárquica, uma coincidência que passará certamente ao lado de qualquer opção ideológica, até porque o tempero político não dá seguramente bons resultados nestas coisas da cozinha e restauração.
Vamos supor, então, que a invocação real pode derivar antes do porte nobre e altivo como se movimenta a linhagem de crustáceos que enchem de vida os tanques transparentes que se instalaram no meio do restaurante. O espaço fica, assim, dividido em duas salas, uma voltada à rua e outra à parte traseira do edifício, ambas espaçosas e confortáveis e com amplas paredes de vidro que as dotam do brilho e claridade da luz natural.
Na lista brilham também os mariscos frescos, dos tanques e de outros pontos específicos da nossa costa, à compita com alargada oferta de peixes frescos que tanto podem ser cozinhados na grelha como na frigideira, no tacho ou no forno. Escolha o freguês!
A oferta estende-se ainda às propostas cárnicas, igualmente com peças de origens prestigiadas e qualidade reconhecida. Mas nestas, no entanto, não metemos dente.
Começamos por afinar o palato com presunto da mais reputada proveniência e melhor qualidade: “Pata Negra 5J Sanches Romero” (12€), de corte impecável, sabor supremo e apresentado em dose generosa. Entre “Os Nossos Petiscos” é ainda proposto queijo de ovelha (4,50€), salada à Nunes (11€), gambas “al ajilho” (14€) e casquinha de santola (16€).
Na alargada secção de “Mariscos”, há perceves, gambas e camarão em diversas declinações, carabineiros, canilhas, lagostins, sapateira, santola, cavaco, lagosta, lavagante, bruxas, ostras e caranguejo real. Os preços, sempre ao quilo, vão dos 22€, para as ostras, aos 140€, no caso dos lagostins.
Muito bem tratado e apresentado o ½ kg (25€) de camarão frito. Bichinhos de boa envergadura, lombos rosados e descascados, de sabor afinado e leve resistência ao dente a evidenciar tratamento culinário de rigor. O molho de manteiga com leve toque de limão e piripiri tornava-os ainda mais gulosos.
Do sector das “Ameijoas”, que se oferecem nas versões Natural, Espanhola e Bulhão Pato, provou-se a última (250g/15€). “Maravilhosa”, ouviu-se na mesa, perante a sua boa envergadura, textura aveludada e sensação de frescura.
Fino trabalho culinário também no “Linguado au meunier com arroz de espargos do mar” (25€). Peixe de boas proporções, alvas carnes e textura firme e envolvência crocante, que saborosamente se envolve com um arroz untuoso (quase frito) de salicórnias. Funciona mesmo bem a conjugação entre o peixe, a untuosidade do arroz e o toque vegetal e salino dos “espargos do mar”. Pena o excesso de molho em que aparece repousado, que acaba por contaminar os sabores. Servido à parte permitiria ser usado na dose pretendida.
No que à secção de “Peixes” diz respeito, a carta propunha também filetes de peixe-galo com açorda de ovas, pregado frito com arroz de tomate, linguado grelhado, lulinhas fritas à algarvia, garoupa cozida ou grelhada, espetada de lulas com gambas, garoupa à Bulhão Pato, dourada, bacalhau à saloia e pregado grelhado. Os preços variam entre 16 e 25€, enquanto os filetes de lagosta com arroz de gambas chegam aos 38€. Cabeça de garoupa, pregado e robalo servem-se ao quilo, entre 35 e 48€.
Para as propostas “No Tacho”, há arroz de lagosta (70/kg), açorda de gambas (16€),arroz de marisco (50€/2pax), caril de lagosta e gambas (25€) e ainda o arroz de garoupa (20€) que convocamos à mesa. Peixe primoroso e tomatada impecável, a atestar, mais uma vez, uma cozinha de mão certa, numa tachada que poderia roçar a perfeição não fosse o recurso ao arroz agulha (é maravilhoso o nosso Carolino) e camarões que pareceram vir da congelação.
Como “Sugestões do Chefe” é proposta a “garoupa no forno” (19€), “lagosta al ajilho com arroz de espargos do mar” (30€) e um estranho “leitão” (14€) que por aqui se intromete. Há ainda uma secção de “Bifes” que podem ser grelhados ou servidos com quatro diferentes molhos.
Das sobremesas, que pareceram ser de origem exterior ao restaurante, boa surpresa com fatia de massa folhada com um creme de ovos limonado (“Mil folhas/4€).
Carta de vinhos alargada, com propostas de qualidade média/superior abrangendo quase todas as regiões do país e até algumas estrangeiras. Irritante - pelo menos para nós - o facto de ser apresentada em suporte digital. Tem muita informação, certamente muito útil para quem queira alargar a cultura vínica, mas parece-nos pouco adequada para a mesa já que a consulta é demorada e perturba as comparações.
Nem isso impediu, no entanto, que se tivesse escolhido um vinho de qualidade acima de média e particularmente adequado para cozinhados de peixes e mariscos como é o Aphros Ten 2012. Um Loureiro cuja harmonia e frescura cítrica bem explicam o sucesso que os Vinhos Verdes da nova geração e com pouco álcool (11% Vol.) começam a conquistar no mundo.
Nesta marisqueira moderna e com a realeza incrustada no nome há uma cozinha competente e nobre que bem cuida e realça a qualidade das matérias-primas que aqui são servidas. O serviço é atento, solícito e despachado, num espaço e estilo restaurativo que é do melhor que a cidade tem para oferecer, ao mesmo tempo que honra a memória das históricas cervejarias de Lisboa.
- Nome
- Nune’s Real Marisqueira
- Local
- Lisboa, Santa Maria de Belém, Rua Bartolomeu Dias, 120
- Telefone
- 213019899
- Horarios
- Todos os dias das 12:00 às 00:00
- Website
- http://nunesmarisqueira.pt/
- Preço
- 40€
- Cozinha
- Peixe e Marisco
- Espaço para fumadores
- Sim
