Fugas - Viagens

  • João Cordeiro
  • João Cordeiro
  • João Cordeiro
  • João Cordeiro
  • Carla B. Ribeiro
  • Carla B. Ribeiro
  • João Cordeiro

A flutuar sobre o Alentejo ao sabor da brisa

Por Carla B. Ribeiro

Há coisas que deveriam ser obrigatórias fazer pelo menos uma vez na vida. E, após esta experiência, concluímos que andar de balão de ar quente pode ser uma delas. Com um misto de emoções, sobrevoámos as paisagens alentejanas entre levitações ao alto dos céus e voos rasantes.

“É assim que imagino a sensação de morrer — aquele momento, como se vê nos filmes, em que a alma se desprende do corpo e ascende aos céus.” Lourdes, uma panamense com residência em Portugal e escritório de advogados em Hong Kong, descreve num murmúrio em inglês, e entre lágrimas, o que está a sentir ao marido holandês Jan quando já deveremos estar a uns 300m do chão.

Não é apenas ela que fala assim, baixinho. Sem quase nos darmos conta, todos parecemos falar cada vez com menos volume. Como se o ruído pudesse perturbar a experiência de serenidade cuja antecipação, até há uns 15 minutos, ainda me provocava algum nervoso miudinho. O casal que nos acompanha, e que decidiu alinhar num voo de balão depois de ontem ter visto um nos céus alentejanos, também denuncia o nervoso. Sobretudo a mulher que, nota-se, por uns instantes ainda terá ponderado dar meia-volta e correr para a segurança do seu quarto na Herdade dos Grous, onde também ficámos.

A hora do encontro deveria ter sido pelas oito da manhã — é que quanto mais cedo se levanta voo maior será o tempo da experiência: assim que a temperatura exterior começa a aquecer torna-se difícil operar um balão, que depende do ar quente para se manter insuflado. Mas a neblina que cobria as paisagens levou a equipa da Up Alentejo, uma empresa que resulta da união de esforços entre o operador turístico activo Emotion e a Publibalão, a operar na área do balonismo em Portugal, a adiar a hora da largada do balão. Assim, já é perto das nove da manhã que um carro surge para nos levar ao balão: “Com a mudança da direcção do vento tivemos de alterar o lugar da partida”, informam-nos.

Passam poucos minutos das nove quando o sol começa a sorrir, neste que coincidiu ser o primeiro dia completo de Primavera, e nos acomodam, à equipa da Fugas e ao casal de turistas, num todo-o-terreno para nos levarem para um campo verdejante onde ainda só se consegue avistar um cesto que mais parece uma cesta de piquenique em ponto gigante, e uma tira comprida de pano que, em menos de nada, se transforma num pára-quedas imenso com a ajuda de uma ventoinha de tamanho industrial. Enquanto os panos, em amarelo, azul e vermelho, vão ganhando forma, Lourdes confessa o receio que sente. A equipa da Up vai sossegando por um lado e lançando farpas por outro, o que apenas provoca alguns risos nervosos e algumas dores de barriga.

Enquanto outros tratam de pôr o balão em posição para que possamos escalar para dentro do cesto, é-nos dada uma miniformação, consistindo sobretudo na posição para a aterragem e nos cuidados a ter nessa alturas — “Ninguém larga as cordas e se levanta antes de eu o dizer”, ordena Hugo, o piloto desta manhã, ainda a terminar a formação, que explica que não são poucas as vezes que a aterragem não se dá à primeira, o que pode resultar em quedas para quem sai da posição antes do tempo.

Nuvens e copas das árvores

Quando chega a hora de embarcar, com o balão ainda preso ao Land Rover Defender que nos acompanhará por terra e que fará o resgate após a queda do balão, Hugo assume os controlos numa das pontas, enquanto os sete passageiros — entretanto juntaram-se a nós a directora de um hotel em Aljustrel, um jornalista também em experiência de baptismo e o piloto da Up Aníbal, “o homem com mais horas de voo de balão no mundo”, enaltece Hugo — vão ocupando um lugar entre os dois compartimentos divididos a meio. Este é um dos maiores balões que a empresa possui neste momento. Provavelmente em Maio chegará um com capacidade para transportar até 12 passageiros. Mas Aníbal frisa que não irão investir em balões maiores do que isso. “A dada altura perde-se o contacto entre o piloto e os passageiros, e não é esse tipo de serviço turístico que queremos prestar”, explica.

--%>