Fugas - restaurantes e bares

  • Nuno Ferreira Santos
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Empadas e não só. Belmiro sabe ao que anda

Por José Augusto Moreira ,

O negócio deste pequeno grande restaurante são as empadas. Mas no Bel’Empada, em Lisboa, há também uma cozinha de sabores frescos e naturais que acariciam o palato e espevitam os sentidos. Com base nos produtos do dia e do mercado e saberes da tradição.

Se é daqueles para quem o tamanho é importante, então o melhor é passar à frente. Este é um restaurante de dimensões reduzidas, assim como redutora é também a designação: Bel’Empada. Não se pense, portanto, que esta é uma casa exclusivamente dedicada às empadas ou de cozinha minimalista. Bem pelo contrário, pratica-se uma gastronomia de aromas, cores e sabores que se revela uma agradável e rara surpresa. Mas tudo tem a sua explicação. 

Belmiro de Jesus foi até há cerca de um ano cozinheiro e sócio do Salsa & Coentros, reconhecido restaurante do bairro de Alvalade cujas empadinhas, servidas como entrada, rapidamente conquistaram o gosto da ecléctica clientela. Daí a ideia de diversificar a actividade e abrir um espaço exclusivamente dedicado às empadas. Mas como o projecto não era partilhado pelo sócio, a solução foi avançar sozinho, assumindo cada um o seu negócio.

Quanto ao nome, está bom de ver, foi só associar o cozinheiro às empadas. Uma beleza anunciada mas que pode esconder a cozinha competente e saborosa que por ali se pratica. As empadas, percebe-se, são a alma e sustentabilidade do negócio, que tanto podem ser ali consumidas como levadas para casa. Há aí uma dezena e meia de variedades, das de cozido às de míscaros, perdiz ou lagosta suada, tanto na versão empadinha (1,15/1,25€) como em dose de refeição (10,95/15,95€). Por encomenda preparam-se também em formato familiar, estilo tarte, com os preços a variar entre os 24,50 e 75€, em função do tamanho e dos ingredientes escolhidos. 

Mas o que pode explicar, então, que sejam tão apreciadas estas empadas? O segredo, se é que o há, terá que ser procurado em Fiolhoso, aldeia transmontana do concelho de Murça onde Belmiro cresceu a ver a mãe em volta do forno. É de lá que vêm muitos dos ingredientes e também a “habilidade” da massa leve que é já feita com o molho-recheio que vai preencher a empada. Quanto ao resto, é a arte de sabores que caracteriza a cozinha de Belmiro de Jesus. 

Num espaço exíguo (22 pessoas no máximo), o generoso pé-direito e as paredes forradas com espelhos dão uma sensação de amplitude e conforto, que é ainda reforçada pela brancura das toalhas e guardanapos de algodão e a elegante baixela. Fica no cruzamento entre as avenidas João XXI e de Roma, mesmo colado à conhecida Garrafeira Napoleão.

Às empadas, associa-se uma cozinha do dia e de mercado sabiamente temperada com toques de saborosa ruralidade. Vejam-se os pães rústicos e tiras de broa de milho que logo saltaram para a mesa na companhia de umas favinhas salteadas com coentros (4,35€) e um paté de fígado de aves (1,95€). 

Sabores e sabedoria que são privilégio dos mais dotados, como as tiras de cabeça de xara — o raro paté com as partes moles da cabeça do porco que é um ícone da cozinha do Alto Alentejo — ou a soberba tortilha de batata (7,50€). Um hino à cozinha simples e saborosa, com o tubérculo laminado e levemente confitado a envolver-se com o ovo cremoso e aveludado. Acompanha com uma lasca de paiola alentejana cuja gordura realça sabores e texturas e lhe assenta na perfeição. 

A mesma definição de sabores com a perdiz de escabeche, macia e apetitosa, e toda a arte do gosto numa posta de cação à Bulhão Pato. Suada numa alhada de azeite e coentros, a libertar brilho, espumas, aromas e um sabor fresco e penetrante. Acompanhou com grelos e couve salteada e é daqueles pratos que tem a rara capacidade de estimular os sentidos. É assim, com coisas destas, que percebemos que a cozinha é um dom e que por mais que se estude ou aprenda há coisas que não são para todos.

Caldoso e guloso também o arroz de lingueirão que acompanhou os lombos de garoupa envoltos em polme delicado e de fritura irrepreensível. É assim a cozinha de Belmiro de Jesus, com base nos produtos do dia e de mercado, aos quais junta aromas e sabores frescos e naturais que acariciam o palato e espevitam os sentidos.

Belmiro sabe ao que anda e àquilo que definiríamos como uma apurada sabedoria do gosto o cozinheiro associa memórias de aldeia que bem mostram a imensa sabedoria da mais profunda cozinha regional. A tortilha de batata, só por si, já justificaria a visita ao Bel’Empada, mas há outros petiscos capazes de avivar memórias gustativas.

Aos peixes do mercado diário, junta-se o bacalhau confitado com grão (preços entre 12,50 e 14,95€) e há também a extraordinária vitela dos Açores em carpaccio (7,50€), rosbife (12,95€) ou o suculento bife do lombo (16,90€) que é a imagem de marca da carne açoriana. 

Quanto aos vinhos, o anfitrião não esconde o apelo das origens e gosta de propor a gama do conterrâneo António Boal. Acompanhamos quase toda a refeição com o Flor do Tua Branco 2015, um Moscatel Galego muito bem balanceado cuja frescura encaixa na perfeição com os sabores e aromas frescos da sua cozinha. Mas nem só de Trás-os-Montes se alimenta a garrafeira, com opções válidas e abrangentes para as outras regiões e à altura da cozinha saborosa e aromática deste pequeno grande restaurante.

Nome
Bel’Empada
Local
Lisboa, São João de Deus, Av. João XXI 24B
Telefone
214975172
Horarios
Segunda a Sábado das 12:00 às 00:00
Website
https://www.facebook.com/BelEmpada-952778838117086
Preço
15€
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