Tive a oportunidade de visitar, durante o mês de Julho último, a província setentrional de Murmansk, na Península de Kola, perto da fronteira norueguesa, na Lapónia. A cidade com o mesmo nome é um porto marítimo agradável, mesmo para padrões ocidentais eventualmente mais exigentes, com um ambiente descontraído e seguro. Todos aqueles velhos clichés de alcoolismo, violência e máfia associados à Rússia ficam em casa. Como máxima atracção da cidade temos o quebra-gelos atómico Lenine, primeiro do seu género no mundo, hoje museu digno de visita.
Mas o melhor da Lapónia russa é mesmo a Natureza! A praia de Teriberka é um lugar que, para um português, tem tanto de exótico quanto de familiar. Familiar na medida em que é uma baía com uma bela praia com um extenso e branco areal... algo que podemos encontrar no nosso querido país; exótico porque esta é a praia mais setentrional da Europa, não muito longe do Pólo Norte. E a água cristalina... e fria! A zero graus, apenas dá para molhar os pés durante alguns instantes.
As Montanhas Hibinas (Khibiny, no original) são o principal sistema montanhoso da Península de Kola, albergando o pico mais alto da região: o Yudychvumchorr, de 1201 metros. A partir do momento em que a pessoa se faz ao caminho, a beleza destas paragens remotas surpreende-a como um beijo inesperado. Tudo é tão bonito e perfeito que quase nos sentimos na obrigação de pedir desculpa à Natureza pela nossa intromissão, por podermos perturbar uma paz ininterrupta de um local que, para o bem e para o mal, permanece cortado da chamada Civilização.
Picos nevados, florestas de pinheiros e bétulas viçosas que nos saúdam a cada esquina, vales glaciares, rios e lagos serenos de água cristalina e fresca da qual podemos beber e na qual nos podemos banhar. Tudo isto são as Hibinas. Mas não só: para os amantes dos animais, aqui poderão observar ursos pardos e alces, bem como um sem número de aves do Árctico. E, se tiverem muita sorte, ainda poderão ver... o Yeti! É verdade, segundo relatos de alpinistas locais experientes, parece que o Homem das Neves, esse ser mítico, encontrou nos recantos remotos da Federação Russa um novo lar.
A ter em conta o facto de no Verão o Sol nunca se pôr... e faz bem em não o fazer: o paraíso quer-se iluminado e bem visível.
Há quem tenha deixado o seu coração em São Francisco. Quanto ao meu, eu já sei: deixei-o na Rússia!