Fugas - dicas dos leitores

De Cuzco ao Machu Picchu

Por Maria Clara Costa

Hoje despertou da minha memória a viagem que fiz ao Peru há nove anos. Revi com nitidez dois dos locais emblemáticos deste país. 

Comecei por Cuzco, património cultural da humanidade, revisitei, na Praça de Armas, a catedral renascentista. Detive-me no altar-mor, construído em 1803/16, com 1,5 toneladas de prata, para substituir o altar de talha que foi destruído por um dos abalos sísmicos frequentes nestas paragens. O altar é de uma beleza impressionante e ainda se mantém de pé, o que o povo considera um verdadeiro milagre.

Estamos na cidade que se orgulha de ter sido a capital política e religiosa do Império Inca. É uma cidade monumental, que nos presenteia com uma harmoniosa mistura da arquitectura Inca e Hispânica, é soalheira e fresca, muito limpa e as vestes berrantes dos seus habitantes são pinceladas de luz e de cor que embelezam as ruas e todos os locais. Aqui, ainda se sente o peso e o cheiro da civilização dos filhos do sol, como se auto-denominavam os Incas. Aqui, onde a rusticidade e a tradição dos costumes se mantêm, as pedras falam-nos da sua história, dando-nos a nítida sensação de que o tempo parou no período colonial. Para além dos edifícios, alguns decorados com balcões de madeira castanha artisticamente talhada, igrejas e outros monumentos, constatei que também perdura uma profunda crença religiosa. 

Partimos de comboio para a cidade perdida dos Incas, o místico Machu Picchu, que signifi ca Monte Velho e é uma das sete maravilhas do mundo. A subida do “monte” é feita de autocarro por uma íngreme estrada em ziguezague até à entrada do monumento arqueológico a 2492 m de altitude. Nesta cidade, que se destinava ao culto religioso e observação dos astros, descoberta, sob densa vegetação, há exactamente cem anos, a cor do céu é mais azul e o ar que se respira é mais puro e bastante fresco, apesar de o sol nos acompanhar durante toda a visita. 

Olhei à minha volta, os meus olhos e sentidos querem registar tudo: socalcos, muros, casas, templos dedicados ao sol e à lua, o relógio solar, todos os símbolos e também os lamas que posam para a foto. No primeiro impacto, recordo que me saiu cá bem do fundo: - “já posso morrer, já vi o Machu Picchu.” Pela primeira vez ouvi a voz da alma e fi quei a interrogar-me se foi devido ao impacto de um local sagrado e misterioso, que superou as expectativas, ou devido à mensagem que nos é passada por aquelas velhas e “preciosas” pedras. 

Agora, o meu grande desejo é voltar a ouvir o som da minha voz neste fantástico lugar. 

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