Fugas - dicas dos leitores

Portugal em Belgrado

Por Pascoal Pereira

O que procuramos exactamente quando viajamos? Caras, culturas, cidades, regiões, paisagens, climas, sensações, sabores, cores, sons, cheiros, latitudes diferentes... Há quem diga que é nas viagens, longe do "eu" do nosso dia-a-dia que encontramos a nossa essência no seu estado mais livre e depurado.

Viajar talvez seja uma busca constante de algo que nos (re)lembre o que somos e de onde vimos, pelas diferenças que procuramos e encontramos, mas, estranhamente, pelas semelhanças que também procuramos e encontramos. E para que procuramos similitudes com o nosso mundo pessoal, mas "lá longe"? Para nos tranquilizarmos, se o "eu" que transportamos não rimar com nada do que vimos e assim constatarmos que somos únicos e irrepetíveis e comprovar que, em viagem, nos encontramos de facto isolados do nosso mundo quotidiano? Ou, pelo contrário, será uma busca deliberada do nosso "eu" por rimas, por cumplicidades improváveis que nos relembrem que não estamos sós na nossa individualidade? E que, onde quer que estejamos, há sempre algo que nos relembre o nosso mundo e é esse jogo de espelhos que procuramos incessantemente?

Numa viagem recente pelos Balcãs, fiz uma paragem não planeada em Belgrado, cidade da qual tinha pouquíssimas referências, mas onde depressa descobri essas rimas com o meu mundo. Bem no centro de Belgrado, no meio da rua, encontrei uma exposição de fotografias com paisagens à qual não prestei particular atenção ao princípio, até que reconheci uma foto de uma inimitável vista da Ribeira do Porto com a Ponte D. Luís!

Constatei, então, que todas as fotos foram tiradas em Portugal: são fotos de Dragoljub Zamurovic no rasto de Saramago na sua Viagem a Portugal e às quais a Fugas dedicou algumas páginas recentemente. Mas não era só: mais à frente, numa zona pedonal muito movimentada, dei de caras com a montra de uma livraria que promove maciçamente as últimas obras de Žoze Eduardo Agvaluza e do Žoao Tordo! Como não simpatizar com uma cidade que, de forma inesperada para mim, rima com e acarinha tão manifestamente a lusofonia?

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