Fugas - dicas dos leitores

No Pico das maravilhas

Por Céu Mota e Alexandre Andrade

Nas asas do "Eugénio de Andrade" chegámos ao Faial. Depois, foi tempo de preparar a navegação até ao Pico.

Antes de apanharmos a lancha para a Madalena, capital da ilha do Pico, tempo bastante para petiscar no famoso Peter's, atrasar uma hora no relógio e ler a passagem de Mau Tempo no Canal que acolhe o turista no cais de embarque: "Um vago resto de dia convertera o mar num imenso pano de angrim. (...) O Pico estirava no negrume a sua enorme massa de lavas, que o dia costumava pintar docemente de lilás e de azul. (...) Terra Santa aproada a sueste e carregada de vinhas (...) iscalho de baleia (...)". E ainda muitos minutos para admirar a montanha do Pico, a mais alta de Portugal, com 2351m, que se descortina do Faial.

Vinte anos antes de Nemésio escrever o romance, Raúl Brandão havia conhecido o Pico e, no início, sentiu-se desolado, tal era o "negrume" da ilha: "Negra até às entranhas", "um torresmo", "mais pedra vulcânica e sinistra". Mas, à despedida, apagou todas as cores do quadro que pintara, pois tinha concluído que o Pico "é a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores".

De facto, as casas e os muros fizeram-se de lava negra do vulcão. É Património da Humanidade a cultura de vinha em "currais": "A vinha tem fama no mundo. O vinho branco do Pico, feito de Verdelho e criado na lava (...) a videira deita raízes como pode, abrigada no curral pelos muros e estendida no chão sobre calhaus".

Outra das atracções do Pico e a não perder, é a observação das baleias. Partimos às nove das Lajes num pequeno barco e caçámos dois cachalotes, mas muitos moleiros e golfinhos-pintados!

Há cerca de trinta anos foi caçada a última baleia, uma actividade importantíssima na vida dos açorianos a partir de 1870. Hoje, a história dos baleeiros é recordada no Museu dos Baleeiros (Lajes) e a da preparação da baleia na Fábrica da Baleia (São Roque).

Vimos um dos documentários que se realizaram sobre os últimos baleeiros do Pico, depois de um jantar memorável na casa de um amigo que trocou o Sabugal por esta ilha maravilhosa e de povo excelente. Comemos pão cozido em forno de lenha barrado com a saborosa manteiga do Pico, depois com lapas e, finalmente, à sobremesa, com o mel e os doces maracujás que o André produz biologicamente, numa terra que tudo dá em abundância tal é o clima (" chove e seca logo").

Mas o que eu mais adoro nos Açores é a "vagareza", o ritmo, o ar, o som do vento, a beleza... O regresso ao continente no Natália Correia (autora da letra do Hino dos Açores) deu-nos conta que o destino de férias que escolhêramos tornou-se na fuga perfeita para longe de tudo aquilo que nos afasta, cada vez mais, da mãe-natureza...   

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