Berlim e o Spree, naturlich.
Confessamos que os ânimos ibéricos da recessão não eram os mais convidativos para a visita à capital da Germânia (ou dos destinos europeus, dirão alguns). Contudo, conselhos e guias pessoais de amigos fizeram-nos aceitar o desafio de mente aberta. E assim foi, surpreendente e aliciante.
Primeiro, Berlim é despretensiosa e pouca austera. Segundo, foi e é o palco de acontecimentos de uma História (europeia e mundial) em mutação. Não que chame para si o cognome de Fénix Renascida, não. A memória em Berlim desses momentos decisivos (muitos deles, traumáticos e destruidores) está marcada na cidade, subtil e visivelmente, sem comiserações. Uma memória "presentificada" nos vários memoriais espalhados pelo centro da urbe, dos quais a "Topografia do Terror" encimada pelo Muro é uma voz viva. O Museu Judaico é outra voz, profunda e gritante, contra os genocídios e os extremismos. Como terceiro motivo, a efeverescência cultural e juvenil que a cidade nos oferece.
Nas ruas berlinenses, mesmo em alguns tracejados, temos o testemunho das divisões e fronteiras de um continente e de dois blocos mundiais. Temos também uma reconstrução espantosa de artérias e de monumentos. Cenário da divisão mundial, a Porta de Brandemburgo, ladeada por embaixadas, recebe os visitantes pacificamente. Ao longe, vemos, por entre o arvoredo frondoso do Tiergarten, a Coluna da Vitória, auspiciosa de imaginários e de filmes; mais perto, o Reichstag com a sua cúpula transparente e luminosa (não se esqueça de marcar a visita no site respectivo). A poucos passos, a Ilha dos Museus, repleta de tesouros dos quais o Museu do Pérgamo é um exemplo a reter. Noutro sentido, percorre-se a Unter den Linden até à Catedral de Berlim e aos cais do Spree.
Os cruzeiros pelo Spree são um percurso por uma cidade entre o passado reconstruído e um futuro em perspectiva. Mostram uma cidade em ebulição calma e a fruição dos espaços verdes pelos berlinenses. Nas margens do rio, de dia e à noite, encalorados pela cerveja, pelo vinho branco alemão ou pelo simples convívio, os berlinenses desfrutam de uma experiência dócil e dançante (sim, há bailes temáticos!).
O futuro pressente-se em Berlim. Nas reconstruções que ainda decorrem, na nova arquitectura, principalmente na Potsdamer Platz, na recuperação artística e cultural de espaços industriais para a qual acorrem dinâmicos jovens de todo o mundo e num sentido ecológico da urbanidade. Para quem a quiser conhecer à alemã, alugam-se bicicletas em todos os hotéis. O passeio vai valer a pena.
Ah!, e o sol fica-te tão bem, Berlim.